quarta-feira, 22 de junho de 2011

A NOITE CANTORA - Filosofia e vivência em NIETZSCHE-Vídeo


Acerca da Noite – a cantora Incomparável

Capítulo 33

(....)

MIRDAD:
      Neste silêncio que agora reina, Mirdad gostaria que ouvísseis as Canções da Noite.
Prestai ouvidos ao coro da Noite, que a Noite é, realmente, uma cantora incomparável.

Dos mais escuros esconderijos do passado, dos mais luminosos castelos do futuro, dos pináculos dos céus e das profundidades da terra as vozes da Noite se desprendem e voam até os mais recônditos lugares do universo. Em poderosas ondas elas rolam e giram em volta dos vossos ouvidos. Descarregai completamente os ouvidos para que possais ouvir bem.

Aquilo que o Dia alvoroçada e despreocupadamente apaga, a Noite restaura com sua extraordinária magia. Não se escondem a lua e as estrelas do ofuscamento do Dia? Aquilo que o Dia afoga na sua fantasiosa simulação, a Noite exalça nas suas extáticas canções.  Até mesmo os sonhos das plantas ampliam o coro da Noite:

Apurai vossos ouvidos às esferas
Que cantam pelo céu afora.
Ouvi suas cantigas de ninar
Para o nenê gigante que dorme
No berço de areias movediças,
Para o rei dos mendigos vestidos de trapos,
Para o corisco agrilhoado,
Para o deus envolto em faixas.

Escutai a Terra que ao mesmo tempo dá à luz,
Amamenta, cria, faz casar e enterra.
Escutai as feras rondando na floresta,
Urrando, uivando, rasgando, rasgadas;
Répteis, rastejando pela selva;
Insetos zunindo suas canções místicas,
Pássaros ensaiando, em seus sonhos,
Contos dos prados, cantigas dos regatos;
Árvores e arbustos e tudo que respira
Sorvendo a vida na taça da morte.

Do alto da montanha e do vale;
Do deserto e do mar;
Do ar e debaixo da relva
Lança-se um desafio ao Deus velado pelo Tempo.

Escutai as mães do mundo, -
Como choram, como se lamentam;
E os pais do mundo, -
Como gemem, como se afligem.
Escutai como seus filhos correm
Para o canhão e do canhão,
Censurando Deus e amaldiçoando o Destino,
Fingindo Amor e respirando ódio,
Bebendo devoção e suando medo,
Semeando sorrisos e colhendo lágrimas,
Estimulando com seu sangue vermelho
A fúria do dilúvio que se prepara.

Escutai como os seus estômagos encolhem
E as suas pálpebras inchadas piscam,
E os seus dedos mirrados vão às apalpadelas
Buscando a carcaça da esperança;
E seus corações se distendem e arrebentam
De monte em monte e de pilha em pilha.

Escutai os motores satânicos zumbir
E as grandes cidades ruir;
As poderosas cidadelas
Dobrarem os sinos de seus próprios funerais;
E os monumentos do passado
Cair no atoleiro de lama.

Escutai as orações do justo
Soando, alegremente, em sintonia com os gritos de luxúria.
E o balbuciar sem arte da criança
Em rapsódia com o perverso tagarelar,
O sorriso envergonhado da donzela
Gorgeando com a astúcia da prostituta;
E o êxtase do valente
Cantarolar as maquinações do velhaco.

Em todas as tendas e choças de todas as tribos e clãs,
As trombetas noturnas executam o hino de guerra do Homem.

Mas a Noite, a feiticeira, funde canções.
Os desafios, os hinos de guerra e tudo mais,
Em canção, demasiado sutil, para o ouvido.
Canção tão grandiosa, tão infinita no compasso,
De tão profundo tom, tão melodioso coro,
Que até o coro e sinfonia dos anjos,
Em comparação, não passam de ruído e murmúrio.
Essa é a canção de triunfo do Homem Liberto.
As montanhas cochilando no regaço da noite;
Os desertos reminiscentes com suas dunas;
Os vales sonâmbulos, as estrelas errantes,
Os habitantes nas cidades dos mortos.
A Santa Triunidade e a Vontade Total
Saúdam e aclamam o Homem Liberto.

Felizes são aqueles que ouvem e compreendem.
Felizes são aqueles que, ao se encontrarem sós com a Noite,
Sentem-se calmos, profundos e vastos como a própria Noite;
Cujas faces não são feridas, no escuro pelos males
Que eles não cometeram no escuro;
Cujos olhos não estão cheios das lágrimas
             que fizeram seus semelhantes verter;
Cujas mãos não coçam de más intenções e de ganância;
Cujos ouvidos não assobiam dos silvos de sua luxúria;
Cujo pensar não é mordido pelos seus pensamentos;
Cujos corações não são moradas de todas as preocupações
Que surgem, initerruptamente, de todos os cantos do Tempo;
Cujos receios não cavam túneis em seus cérebros;
Que podem dizer corajosamente à Noite:” Revela-nos o Dia”,
E dizer ao Dia: “Revela-nos a Noite”.
Sim, três vezes felizes são os que, estando a sós com a Noite,
Sentem-se tão à vontade, tão em paz, tão infinitos como a Noite.
Para eles , somente, é que a Noite canta a canção do Homem Liberto.

Se vós quiserdes enfrentar a calúnia do Dia, com a cabeça erguida e de olhos abertos, fazei por conquistar logo a amizade da Noite.

Sede amigos da Noite. Lavai, completamente, vossos corações, no próprio sangue da vida, e colocai-o no coração da noite. Confiai vossos ardentes desejos ao seio da Noite e imolai aos seus pés vossas ambições, para serdes livres pela Sagrada Compreensão. Sereis então invulneráveis a todos os danos do Dia, e a Noite testemunhará por vós, perante os homens, de que realmente sois Homens Libertos.

Embora os dias febricitantes vos atirem para um lado e para outro;
E as noites sem estrelas vos envolvam em sua melancolia;
E sejais atirados às encruzilhadas do mundo,
Em que não há rastos ou sinais que vos mostrem o caminho,
Não temais nenhum homem ou circunstância,
Nem tenhais a menor sombra de dúvida
De que os dias e as noites, bem como os homens e as coisas,
Mais cedo ou mais tarde vos procurarão, para pedir-vos
Que os comandeis,
Pois tereis conquistado a confiança da Noite.
E o que conquista a confiança da Noite
Pode, facilmente, comandar o dia vindouro.

Daí ouvidos ao coração da Noite, pois nele bate o
Coração do Homem Liberto.

Se eu tivesse lágrimas, as ofereceria esta noite a todas as estrelas que cintilam e a todo grãozinho de pó; a todo regato marulhante e a toda cigarra cantora; a toda violeta que irradia no ar sua alma olorosa; a todo vento que sopra; a toda montanha e a todo vale;a toda árvore e a toda folha de capim; a toda paz e a toda beleza desta Noite. Derramaria minhas lágrimas diante delas, como apologia pela ingratidão e pela ignorância selvagem dos homens.

Os homens, escravos do nefasto “Vintém”, estão ocupados no serviço do seu senhor, excessivamente ocupados para que possam dar atenção a qualquer voz ou vontade que não sejam a sua própria voz e a sua própria vontade.

E pavoroso é o negócio do senhor dos homens. É transformar o mundo em um matadouro em que eles são os magarefes e o gado a ser abatido.  E assim, embebedados pelo sangue, os homens matam homens, na ilusão de que o que mata herda a parte dos que são mortos, em todas as riquezas da terra e da munificência dos céus.

Infelizes ingênuos!  Desde quando um lobo se torna cordeiro por ter matado outro lobo? Desde quando a serpente se torna pomba por ter esmagado e devorado outras serpentes?  Desde quando um homem, por matar outro homem, só herda as suas alegrias, sem herdar também as suas tristezas? Desde quando um ouvido, furando outros ouvidos, se torna mais afinado para com as harmonias da Vida, ou um olho se torna mais sensível às emanações da Beleza, em furando outros olhos?

Haverá um homem ou grupo de homens que possa exaurir as bençãos de uma só hora, seja de pão e vinho ou de luz e de paz?  A Terra não dá à luz mais entes do que pode alimentar. Os céus não exigem nem furtam a subsistência de seus filhos.

Mente aquele que diz aos homens: “Quem quer encher a sua arca de prata, tira a vida alheia e herda daquele a quem mata”.

Como pode ele prosperar com as lágrimas, o sangue e a agonia dos homens, que não puderam prosperar no seu amor, e no leite e no mel da Terra, e na profunda afeição dos céus?

Mentem aqueles que dizem aos homens: “ Cada nação para si própria.”

Como poderia a centopéia caminhar para a frente um só centímetro se cada uma de suas pernas se movesse em um direção diferente, ou impedir o progresso das outras ou planejar a destruição das outras? Não é por acaso a humanidade, um monstro centípede, cujas pernas são as várias nações?

Mente quem diz aos homens: “ Dirigir é uma honra, ser dirigido é uma vergonha.”

Não é o cocheiro guiado pelo burro que o transporta? Não está o carcereiro preso ao dever de vigiar o encarcerado?

Na verdade, o burro dirige o seu cocheiro e o criminoso prende o seu carcereiro.

Mente quem diz aos homens; “ Ganha a corrida o mais esperto, o direito pertence ao mais forte.”

A vida não é uma corrida disputada com os músculos e a força. O aleijado e o mutilado muitas vezes alcançam a vitória muito mais rapidamente do que o sadio. E, às vezes, até um mosquito vence um gladiador.

Mente aquele que diz aos homens que o mal não pode ser corrigido senão pelo mal. Um mal superposto a outro, jamais poderá tornar-se um bem.  Deixai em sossego o mal, e em pouco tempo ele se destruirá a si mesmo.

Mas os homens são crédulos para a filosofia de seu senhor, o Vintém, e os seus vorazes abutres; acreditam, pia e religiosamente, cumprem as suas mais disparatadas fantasias, ao passo que não ouvem a Noite, que canta e prega a libertação, e nem ao próprio deus ouvem ou n’Ele confiam. E vós,
Companheiros, sereis por eles marcados, como doidos ou impostores.

Não fiqueis ofendidos com a ingratidão e a dolorosa zombaria dos homens; trabalhai com amor e interminável paciência, para liberta-los de si mesmos e do dilúvio de fogo e sangue, que em breve virá sobre eles.

Já é tempo dos homens pararem de matar os homens.

O sol e a lua e as estrelas estão desde a eternidade esperando ser vistos e ouvidos e compreendidos; o alfabeto da Terra aguarda ser decifrado; as estradas do Espaço esperam ser viajadas; o fio enredado do Tempo aguarda ser desenredado; a fragrância do Universo, ser inalada; as catacumbas da Dor, serem demolidas; a caverna da Morte, ser devastada; o pão da Compreensão, ser provado; e o Homem , deus enfaixado, ser libertado de suas faixas.

Já é tempo dos homens pararem com a pilhagem dos homens e unirem fileiras para levarem à frente a tarefa comum. Imensa tarefa, porém doce será a vitória. Tudo mais, em comparação, é banal e vazio.

Sim, já é tempo. Poucos, todavia, darão ouvidos. O outros terão que aguardar novo chamado – nova alvorada.
Arte de transfiguração, isto é filosofia, segundo Nietzsche.
Temos de parir a nossa dor e transformá-la em luz e flama, tudo que nos atinge. Isto é fantástico!
Assista e ame - 76:45
- Mais de uma hora com o Filósofo

O LIVRO DE MIRDAD
Um Farol e um Refúgio -
de Mikhail Naimy]
Publicado sob orientação do
LECTORIUM ROSICRUCIANUM
Capítulo N* 33acerca da noite - a cantora incomparável

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