segunda-feira, 20 de junho de 2011

ARTE E PSICOLOGIA - Clara Rossana Ferraro de Sá- CUBISMO


Enviado por em 05/06/2007
 
resumo sobre cubismo.aula de 06/06
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 ARTE E PSICOLOGIA
 
Clara Rossana Ferraro de Sá

SINOPSE
Este artigo enfoca vários aspectos que compõem o fenômeno da criação, tais como os polos da destrutividade / criatividade, sua relação com as imagens e o divino; o trabalho Imagético tanto na Arte quanto na Psicoterapia e sua contribuição para o auto-conhecimento,aprofundamento e conscientização de si.
 
Reapresenta e exercita o potencial criador na busca da forma e da ordenação de novas realidades nos níveis, individual e coletivo.


Luz - brilha!
Brilhante brilho do sol.
Centro.
Certeza certa,
centelha divina
Vida!
Para que nasças
Vejo o escuro pulsar
do início...
Disformes formas
escuras,
se contorcem querendo envolver,
intenção de fazer
morrer,
sumir,
desaparecer!
Dançam a dança do eterno nascer.
Pára!
Parir.
Olha!
Escuta
O acalanto
lento encanto,
delicado tempo,
voz da criação!


Adentrar os mistérios da Arte
e sua relação com o divino,o sagrado, 
é semelhante a buscar o invisível no mundo da matéria,
é necessário um mergulho nas profundezas,
no interior das aparências. 


Como diz Bachelard,é necessário uma poética do devaneio,um devaneio da profundidade.

Com esta intenção inicio com um jogo poético,pois creio ser a chave para abrir as portas do inconsciente,este reduto arqueológico da Psique, o IMAGINAL, segundo Hillman.

Sentimentos difusos,por vezes intensos,precisam ser suportados,assim como a certeza de encontrar a luz divina que nos une no Amor.
É portanto,o Amor na Alma,que sustenta o poder criador,por vezes perigoso.
Jung nos alertou dizendo que

"o homem não possui poderes criadores
,mas é, antes,possuído por eles."

Como um instinto que é, a criatividade, dentre outros instintos – o sexual, o religioso, o instinto de sobrevivência- traz consigo o perigo da dissolução na identificação com os poderes criadores.
Quando Jung escreve sobre Zaratustra,afirma que 

"As forças criadoras 
te mantém preso aos cordões e danças 
de acordo com os movimentos delas, 
segundo sua melodia... 

Mas se sabes que és criativo, mais tarde serás crucificado porque todo aquele que se identifica com Deus será desmembrado,
o spiritus phantasticus, nosso espírito criador, é capaz de penetrar nas profundezas ou nas alturas do universo,tal como Deus, ou como um grande demônio; mas que devido a isso,também terá de passar pela divina punição,que tomaria a forma de Dioniso ou da crucifixão de Jesus."

Neste sentido creio que o artista é um servo de Deus pois reconhece sua missão e a executa; se desmembrando enquanto desmembra a matéria, se integrando enquanto vê surgir a imagem, a forma viva nascida da forte tensão de forças contidas no processo criativo.

É o fogo divino que forja a imagem e a faz concreta nas mãos do artista.
E este ponto de saída energética na palma da mão está diretamente ligado ao chacra do coração, a linguagem do eterno feminino, a linguagem do Amor.
Em Bachelard encontramos que

"o trabalho de nossas mãos restitui a nosso corpo as nossas energias, as nossas expressões, às próprias palavras de nossa linguagem, forças originais. Através do trabalho da matéria, nosso caráter adere de novo a nosso temperamento. ...o trabalho sobre os objetos, contra a matéria,é uma espécie de psicanálise natural. Oferece chance de cura rápida porque a matéria não nos permite enganarmo-nos sobre nossas próprias forças. ...o trabalho com a matéria põe o trabalhador no centro de um universo e não mais no centro de uma sociedade. A um passo do homem cósmico."

É nesta dialética entre as mãos e a matéria que vemos surgir a mensagem enviada por este centro organizador da Psique- o Self- com uma finalidade que aponta para o novo, o qual em forma de imagem transcende a tensão dos opostos.

Com a imaginação e a vontade 
se administra a potência das forças 
contidas no homem, na matéria e na natureza.


O fio condutor para o encontro com o divino
é portanto a imagem 
a serviço do homem e sua realização.


Tanto na Arte como na Psicoterapia,
a imaginação criativa nos traz uma compreensão 
mais profunda do mundo.

Em sua capacidade de gerar imagens a Psique relaciona-se com as profundezas,com os domínios de Hades,o mundo das trevas, da bidimensionalidade.


É na Alma ( Psique ) 
que o corpo,ligado ao biológico, 
ao instintivo e o espírito se encontram 
e no amálgama do Amor dialogam produzindo vida.
 
A idéia de profundidade sugere que a imaginação primária consiste em ver o particular como que de alguma maneira incorporando e expressando um significado mais universal. Na medida em que adentramos as imagens encontramos uma forma básica,primordial arquetípica.

Em A Dança do Universo , Gleiser reafirma que a GEOMETRIA é a linguagem de Deus. Lembremos do triângulo como um símbolo fundamental,com o menor número de linhas retas forma um desenho geométrico com conteúdo. Basta um toque de dedos indicadores e polegares e podemos captar energia cósmica para os centros vitais, usufruindo assim de um campo energético dado pelo contato com o divino. 

Centrando-nos.

Ouvi dizer que a Física quântica trouxe Deus para a ciência, Jung trouxe Deus para a Psicologia e eu acrescentaria que a Arte sempre esteve com Deus , ela é inspiração divina.

A paixão pela forma nos diz da luta da imaginação com o caos primordial, a prima matéria, fonte de toda a criatividade que no absurdo desalinho encontra sentido, compõe, dá harmonia, proporção, perspectiva, paz, Nirvana , a libertação de toda as dualidades, que para nós ocidentais equivaleria à libertação da imaginação.

A imaginação contém as formas, as histórias a serem contadas para nos aliviar a angústia de viver. Rollo May nos diz da busca para além do nível psicodinâmico dos sonhos até encontrar as formas básicas. E estas nos guiam para a compreensão de nós mesmos enquanto únicos e enquanto participantes do coletivo. Nos guiam para a compreensão da particularidade que somos, para o nosso Dom nato, um chamado para o nosso Daimon, para o que eu devo fazer e o que eu preciso Ter. 

Hillman resgata a imagem do fruto do Carvalho para nos falar do destino e deste daimon que acompanha a alma na descida à terra e se revela na necessidade que impulsiona a realizar o caminho da individuação e a responder às perguntas da eterna Esfinge : 

quem eu sou, 
de onde vim, para onde vou 
e o que estou fazendo aqui. 

O que há em meu fruto de Carvalho? 
Quais as necessidades do meu gênio?
Qual o caminho da minha felicidade? 

Esta felicidade que em grego antigo 
– eudaimonia 
– significa daimon satisfeito.

Toda auto-realização implica auto-conhecimento, conhecer-se a si mesmo a partir da relação com o outro e nesta arte da relação o indivíduo adquire consciência atingindo novos níveis de compeensão de si e do mundo.
 

O Processo Análítico
busca trazer à consciência diversos níveis 
de nosso ser e, como a Arte, 
tem a capacidade de religar,
reconectar com a essência divina.
 
O resgate da Alquimia para a psicologia analítica nos permite encontrar na relação com a matéria, imagens nascidas do interior do homem e que nos trazem um paralelo com o processo de análise em um processo químico de transmutação da matéria a começar pela nigredo,um estado caótico da condição primeira do estado da matéria ou, a nível psicológico um estado de dissociação das energias no qual nos deparamos com nossa própria sombra e a consequente dor psíquica do reconhecimento do lado desconecto que precisa de integração.

Num segundo momento temos a albedo, estágio de purificação e embranquecimento da matéria,ou a catarse, clarificação e conexões psíquicas necessárias à ampliação da consciência bem como o confronto com a contra-sexualidade ( anima-animus ). 

O terceiro estágio, ou de amarelecimento-citrinitas- é considerado como uma passagem ao estágio seguinte o qual para a Psique seria o momento de educação e auto-educação, o compromisso ético de transportar para a vida o conhecimento adquirido. A personalidade madura é conseqüência do trabalho realizado, o opus alquímico,com o nascimento do Homem Interior ou o reino de Deus dentro de nós.
A iluminação . 

O surgimento do ouro puro para os alquimistas ou o estágio da rubedo onde ocorre a integração masculino/feminino, espírito/matéria, micro e macrocosmos.
Se, como diz Fayga Ostrower, "é ao nível de valores internalizados que se dá a criação, então o entrelaçamento da Arte com a Psicologia também se dá a nível do auto-conhecimento, do aprofundamento e conscientização de si.
Mas, o que é preciso para criar?

Quais as características de uma pessoa 
que está em contato com o seu potencial criador? 

Maureem Murdock nos diz que é preciso tempo, espaço interno e permissão para errar. Pois o impulso criativo interior quando vem à tona, requer canalização, produção para que se expresse de forma positiva. 

Algumas atitudes encontradas na produção divergente como a capacidade de transformação, originalidade, flexibilidade, disponibilidade para resolver problemas, talento, engenhosidade e fluidez expressiva seja ela verbal, ideativa ou associativa, compõem o perfil para a expressão do potencial criador. 

Uma vez conhecidos os ítens de informação e armazenados na memória, estão em situação de ser integrados quando as ocasiões o exigem. Revivificar os ítens de informação armazenados na memória para atingir certos objetivos é o fundamental da produção psicológica seja ela divergente ou convergente. Ambas supõem a criação de informação a partir da informação dada e a informação depende muito do armazenamento da memória. 

As atitudes que têm importância especial para o pensamento criativo são a fluidez, flexibilidade e originalidade de pensamento. Na produção divergente a resposta a um problema se alterna com a avaliação. Vale-se de uma conduta de ensaio e erro. 

Na produção convergente o problema pode ser estruturado de maneira rigorosa e assim a estrutura e a resposta surgem sem muitas dúvidas, há muitas restrições e buscas limitadas, os critérios são restritos, definidos,rigorosos e exigentes. Nestes aspectos configuram o oposto do pensamento criador. 

Reapropriando-se do indivíduo criativo Fayga Ostrower afirma que "a este torna-se possível dar forma aos fenômenos, porque ele parte de uma coerência interior que absorve os múltiplos aspectos da realidade externa e interna, os contém e os "compreende"coerentemente,e os ordena em novas realidades significativas para o indivíduo. Como ser coerente,ele estará mais aberto ao novo por que mais seguro dentro de si. Sua flexibilidade de questionamento, ou melhor, a ausência de rigidez defensiva ante o mundo, permite-lhe configurar espontaneamente tudo o que toca".

O poder criador é um potencial estruturante que gera consciência diante da vida, quer ele apareça na relação terapêutica, quer na relação homem-matéria da qual surge a obra de arte. E ambos, Artista e Terapeuta só realizam a obra em cumplicidade com Deus, sua presença permissão e em uma atmosfera de Amor. 

Os passos a serem seguidos precisam ser vividos com um profundo respeito aos mistérios da realização de uma obra e só alcançam a compreensão aqueles que assumem uma atitude de entrega e confiança. 

 Fonte:
SYMBOLON-Estudos Junguianos
http://www.symbolon.com.br/artigos/arteepsicologia.htm

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