Enviado por matheusrodriguez em 05/02/2011
Programa Sangue Latino, do Canal Brasil, gravado em 2009.
O jornalista e escritor uruguaio, Eduardo Galeano, autor de As Veias Abertas da América Latina fala sobre a cidade de Montevidéu, onde vive e também sobre a morte de seu cachorro.
Direção de Felipe Nepumuceno.
A dignidade da arte
Eu escrevo para os que não podem me ler. Os de baixo, os que esperam há séculos na fila da história, não sabem ler ou não tem com o quê.
Quando chega o desânimo, me faz bem recordar uma lição de dignidade da arte que recebi há anos, num teatro de Assis, na Itália. Helena e eu tínhamos ido ver um espetáculo de pantomima, e não havia ninguém. Ela e eu éramos os únicos espectadores. Quando a luz se apagou, juntaram-se a nós o lanterninha e a mulher da bilheteria. E, no entanto, os atores, mais numerosos que o público, trabalharam naquela noite como se estivessem vivendo a glória de uma estréia com lotação esgotada. Fizeram
sua tarefa entregando-se inteiros, com tudo, com alma e vida; e foi uma maravilha.
Nossos aplausos ressoaram na solidão da sala. Nós aplaudimos até esfolar as mãos.
Eduardo Galeano
em O livro dos abraços
" De nuestros miedos
nacen nuestros corajes
y en nuestras dudas
viven nuestras certezas.
nacen nuestros corajes
y en nuestras dudas
viven nuestras certezas.
Los sueños anuncian
otra realidad posible
y los delirios otra razón.
En los extravios
nos esperan hallazgos,
porque es preciso perderse
para volver a encontrarse."
" O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência.
Nem uma culpa como nos fez crer a religião.
O corpo é uma festa. "
" Somos o que fazemos,
mas somos, principalmente,
o que fazemos para mudar o que somos."
"A utopia está lá no horizonte.
Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".
" Na luta do bem contra o mal, é sempre o povo que morre "
" Na parede de um botequim de Madri,
um cartaz avisa: Proibido cantar.
Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro,
um aviso informa:
É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem.
Ou seja: Ainda existe gente que canta,
ainda existe gente que brinca. "
" Há aqueles que crêem
que o destino descansa nos joelhos dos deuses,
mas a verdade é que trabalha,
como um desafio candente,
sobre as consciências dos homens."
" Quando as palvras não são tão dignas
quanto o silêncio,
é melhor calar e esperar. "
"Assovia o vento dentro de mim.
Estou despido. Dono de nada,
Estou despido. Dono de nada,
dono de ninguém, nem mesmo dono
de minhas certezas,
sou minha cara contra o vento,
a contravento,
e sou o vento que bate em minha cara."
"A memória guardará o que valer a pena.
A memória sabe de mim mais que eu;
e ela não perde o que merece ser salvo."
“As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal,
aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.”
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.”
" O sistema que os despreza,
despreza o que ignora, porque ignora
o que teme.por trás da máscara do desprezo,
aparece o pânico:estas vozes antigas, teimosamente vivas, o que dizem?
O que dizem quando falam?
O que dizem quando calam? "
" O mundo
Um homem da aldeia de Negu・
Um homem da aldeia de Negu・
no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus.
Quando voltou, contou.
Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida
humana.
humana.
E disse que somos um mar de fogueirinhas.
— O mundo é isso — revelou —
— O mundo é isso — revelou —
Um montão de gente, um mar de
fogueirinhas.
fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras.
Não existem duas fogueiras iguais.
Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas
e fogueirasde todas as cores.
Existe gente de fogo sereno,
que nem percebe o vento, e gente de fogo louco,
que enche o ar de chispas.
Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam;
mas outros incendeiam a vida
com tamanha vontade que é impossível olhar para eles
sem pestanejar, e quem chegar perto
pega fogo."
" ..De Cuba em diante,
outros países também iniciaram por distintas vias
e distintos meios a experiência de mudança:
a perpetuação da atual ordem de coisas é a perpetuação do crime.
Os fantasmas de todas as revoluções estranguladas ou traídas,
ao longo da torturada história latino-americana,
ressurgem nas novas experiências, assim como os tempos presentes
tinham sido pressentidos e engendrados pelas contradições do passado.
A história é um profeta
com o olhar voltado para trás:
pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que será... "
" Não importa de onde vim,
mais sim aonde quero chegar "
"A Igreja diz: o corpo é uma culpa.
A Ciência diz: o corpo é uma máquina.
A publicidade diz: o corpo é um negócio.
E o corpo diz: eu sou uma festa."
"A utopia está lá no horizonte.
Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."
Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."
Eduardo Galeano
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