Abraçados podemos voar
Para a Elodie e o Marco Miranda
Marc Chagall - Os noivos
Tenho tido nestes anos, como padre, a gratíssima alegria de casar dezenas de amigos. Sei por eles, e da forma mais pura, a verdade daquele verso de Dante que diz:
«o amor move o sol
e as outras estrelas».
Ao olhar para o interior das suas vidas, para dentro dos seus sonhos e até dos seus temores é esse incomparável mistério que se deteta: o modo como o amor, como a frágil força do amor é capaz de mover, de transfigurar e de unir, até ao fim, cada fragmento do corpo e cada filamento da alma.
Um outro autor italiano escreveu:
«Somos anjos de uma asa apenas.
Só permanecendo abraçados
podemos voar».
O casamento é a serena e criativa conjugação destes dois sentimentos que, fora dele, pareciam destinados a existir unicamente em contraste: a solidão e a comunhão.
O amor agudiza
a consciência de sermos um;
descobre, aos nossos próprios olhos, a irresolúvel incompletude que individualmente nos caracteriza, a nossa insuperável carência; e ensina-nos o sabor de uma, até aí desconhecida, solidão: aquela que se sente por estar privados do ser amado.
No bíblico livro de Rute isso vem assim explicitado: «a vida tratar-me-á com duros rigores se outra coisa, a não ser a morte, me impedir de olhar diariamente o teu rosto» (Rt 1,17). A solidão incandescente com que o amor fere os que se amam é, porém, o que faz dele uma prática de desejo e de caminho, um exercício de mendicância (na verdade, o amor é sempre uma conversa entre mendigos) e de busca, uma forma de entrega e de súplica.
Por alguma razão a experiência religiosa da mística recorre a uma linguagem próxima desta amorosa. Os enamorados percebem o estado dos grandes orantes e vice-versa, creio.
Mas o amor
é sobretudo milagre da comunhão.
Uma comunhão construída também com esforço, é claro, conquistada continuamente ao território muito defendido do egoísmo, traduzida em decisões quotidianas e vigilantes. Porém, não é propiamente de uma conquista que se trata, mas do arrebatamento comum pelo dom, do espanto inesgotável, de uma hospitalidade radical. «Se me tapares os olhos: ainda poderei ver-te.
Se me tapares os ouvidos: ainda poderei ouvir-te. E mesmo sem pés poderei ir para ti. E mesmo sem boca poderei invocar-te». O fundamental é vislumbrado e servido em completa dádiva, acontece sem porquês, no âmbito de uma gratuidade infatigável, numa geografia sem condições nem reservas.
O amor não se explica: implica-se.
É uma voluntária hipoteca, um sigilo de sangue, entrelaçamento vital. Os enamorados conspiram com o milagre e, por isso, tornam-se, de forma tão íntima, cúmplices de Deus.
Compreendo o aviso meio irónico que Auden faz contra as festas de casamento. Ele diz que os noivos deviam ser humildes e não fazer logo no primeiro do seu casamento uma festa colossal, quando, no fundo, está ainda tudo por construir. Mas também acho impossível não celebrar a alegria do casamento, e fazê-lo com uma simbólica desmesura. Poucos momentos dão a ver assim a vida na sua transparência.
Vaticano
José Tolentino Mendonça
é um dos 60 artistas convidados
para os 60 anos de ordenação sacerdotal de Bento XVI
Bento XVI - Esboço- Radeir -2010
Ateliér de Radeir
O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, padre José Tolentino Mendonça, está entre os 60 artistas convidados para a sessão de homenagem ao papa Bento XVI, pelos seus 60 anos de ordenação sacerdotal, que se completam a 29 de junho.
O presidente do Conselho Pontifício da Cultura, o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, organizou uma homenagem ao papa por parte de 60 personalidades de «nível internacional e pertencentes às diversas categorias artísticas», como a «pintura, escultura, fotografia, literatura e poesia, música, cinema, ourivesaria», refere uma nota de imprensa daquele dicastério da Santa Sé.
Na manhã de 4 de julho Bento XVI vai inaugurar a exposição com os contributos artísticos e profere um discurso aos artistas presentes.
A mostra, intitulada
“O esplendor da verdade, a beleza da caridade”,
vai estar aberta ao público entre 5 de julho e 4 de setembro, de segunda a sábado, das 10h00 às 19h00.
A nota de imprensa revela que o encontro de Bento XVI com as 60 personalidades e a realização da exposição sublinham o
«diálogo entre a Igreja e os artistas»,
estabelecido em torno de um tema de
«grande profundidade e valor espiritual».
No discurso que pronunciou durante o encontro com o mundo da arte e da cultura a 21 de novembro de 2009, na Capela Sistina, Vaticano, Bentro XVI despediu-se com um «até breve».
Entre os convidados encontram-se Santiago Calatrava, Ennio Morricone, Oscar Niemeyer, Arvo Pärt, Renzo Piano e Marc Rupnik. Confira a lista integral, ordenada segundo o apelido:
Gustavo Aceves, Tito Amodei, El Anatsui, Pupi Avati, Kengiro Azuma, Domenico Bartolucci, Gianni Berengo Gardin, Anna Bini, Agostino Bonalumi, Mário Botta, Christoph Brech, Santiago Calatrava, Pedro Cano, Francesca Cataldi, Mário Ceroli, Max Cole, Laura Cretara, Luca Doninelli, Giuseppe Ducrot, Leandro Espinosa, Luigi Fieni, Sidival Fila, Fausto Maria Franchi, Omar Galliani, Giuliano Giuliani, Piero Guccione, Claudia Henzler, Pierluigi Isola, Mimmo Jodice, Jannis Kounellis, Dominique Lomré, James MacMillan, Imre Makovecz, Giulio Manfredi, José Tolentino Mendonça, Valentin Miserachs, Ennio Morricone, Aurélio Mortet, Roberto Mussapi, Carlo Nangeroni, Jackie Nickerson, Oscar Niemeyer, Mimmo Paladino, Arvo Pärt, Tullio Pericoli, Renzo Piano, Pietro Pizzi Cannella, Arnaldo Pomodoro, Paolo Portoghesi, Oliviero Rainaldi, Davide Rondoni, Marc Rupnik, Piero e Claudio Savi, Matthias Schaller, Ettore Spalletti, Guido Strazza, Natalia Tsarkova, Guido Veroi, Simona Weller e Giuseppe Zigaina.
Fonte:
http://www.snpcultura.org/abracados_podemos_voar.html
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
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