segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

PORTINARI





"A arte é o espelho da pátria.
O país que não preserva os seus valores culturais j
amais verá a imagem de sua própria alma."
- Chopin

Cândido Portinari – a alma, o povo e a vida brasileira

Cafe, de Portinari - 1935.
Acervo Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro,RJ
“Vim da terra vermelha e do cafezal.
As almas penadas, os brejos e as matas virgens
Acompanham-me como o espantalho,
Que é o meu auto-retrato.
Todas as coisas frágeis e pobres
Se parecem comigo.” 



Candido Portinari nasce no dia 30 de dezembro de 1903, numa fazenda de café, em Brodósqui, no interior do Estado de São Paulo.Filho de imigrantes italianos, de origem humilde, recebe apenas a instrução primária e desde criança manifesta sua vocação artística.

Auto retrato, Portinari - 1956.
Coleção particular, Rio de Janeiro, RJ.
Aos quinze anos de idade vai para o Rio de Janeiro, em busca de um aprendizado mais sistemático em pintura, matriculando-se na Escola Nacional de Belas-Artes.

Em 1928 conquista o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro, da Exposição Geral de Belas-Artes, de tradição acadêmica. Parte em 1929 para Paris, onde permanece até 1930.Longe de sua pátria, saudoso de sua gente, decide ao voltar ao Brasil, no início de 1931, retratar em suas telas o povo brasileiro, superando aos poucos sua formação acadêmica e fundindo à ciência antiga da pintura, uma personalidade moderna e experimentalista.

Em 1935 obtém a segunda Menção Honrosa na exposição internacional do Instituto Carnegie de Pittsburgh, Estados Unidos, com a tela Café, que retrata uma cena de colheita típica de sua região de origem.

Aos poucos, sua inclinação muralista revela-se com vigor nos painéis executados para o Monumento Rodoviário, na Via Presidente Dutra, em 1936, e nos afrescos do recém construído edifício do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, realizados entre 1936 e 1944. Estes trabalhos, como conjunto e como concepção artística, representam um marco na evolução da arte de Portinari, afirmando a opção pela temática social, que será o fio condutor de toda a sua obra a partir de então.

Auto retrato, Portinari - 1957.
Cultural Pinakotheke, Rio de Janeiro - RJ.
Companheiro de poetas, escritores, jornalistas, diplomatas, Portinari participa de uma notável mudança na atitude estética e na cultura do país. No final da década de trinta consolida-se a projeção de Portinari nos Estados Unidos.

Em 1939 executa três grandes painéis para o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York e o Museu de Arte Moderna de Nova York adquire sua tela Morro. Em 1940, participa de uma mostra de arte latino-americana no Riverside Museum de Nova York e expõe individualmente no Instituto de Artes de Detroit e no Museu de Arte Moderna de Nova York, com grande sucesso de crítica, venda e público. Em dezembro deste ano a Universidade de Chicago publica o primeiro livro sobre o pintor: Portinari, His Life and Art com introdução de Rockwell Kent e inúmeras reproduções de suas obras.

Em 1941 executa quatro grandes murais na Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso, em Washington, com temas referentes à história latino-americana. De volta ao Brasil, realiza em 1943, oito painéis conhecidos como Série Bíblica, fortemente influenciado pela visão picassiana de 'Guernica' e sob o impacto da Segunda Guerra Mundial.

Em 1944, a convite do arquiteto Oscar Niemeyer, inicia as obras de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte, Minas Gerais, destacando-se na Igreja de São Francisco de Assis, o mural São Francisco (do altar) e a Via Sacra, além dos diversos painéis de azulejo. A escalada do nazi-fascismo e os horrores da guerra reforçam o caráter social e trágico de sua obra, levando-o à produção das séries Retirantes (1944) e Meninos de Brodósqui (1946), assim como à militância política, filiando-se ao Partido Comunista Brasileiro, sendo candidato a deputado em 1945, e a senador em 1947.

Auto retrato, Portinari - 1930.
Coleção particular, São Paulo - SP.
Em 1946, Portinari volta a Paris para realizar, na Galeria Charpentier, a primeira exposição em solo europeu. Foi grande a repercussão, tendo sido agraciado, pelo governo francês, com a Legião de Honra.

Em 1947 expõe no Salão Peuser, de Buenos Aires e nos salões da Comissão Nacional de Belas Artes, de Montevidéu, recebendo grandes homenagens por parte de artistas, intelectuais e autoridades dos dois países. O final da década de quarenta assinala na obra do artista, o início da exploração dos temas históricos através da afirmação do muralismo.

Em 1948, Portinari se auto-exila no Uruguai, por motivos políticos, onde pinta o painel A Primeira Missa no Brasil, encomendado pelo Banco Boavista do Rio de Janeiro.

Em 1949 executa o grande painel Tiradentes, narrando episódios do julgamento e execução do herói brasileiro, que lutou contra o domínio colonial português. Por este trabalho, Portinari recebeu, em 1950, a Medalha de Ouro concedida pelo júri do Prêmio Internacional da Paz, reunido em Varsóvia.

Em 1952, atendendo à encomenda do Banco da Bahia, realiza outro painel com temática histórica: A Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia, e inicia os estudos para os painéis Guerra e Paz, oferecidos pelo governo brasileiro à nova sede da Organização das Nações Unidas. Concluídos em 1956, os painéis, medindo cerca de 14 x 10m cada 'os maiores pintados por Portinari' encontram-se no hall de entrada dos delegados do edifício-sede da ONU, em Nova York.

Em 1954, Portinari realiza, para o Banco Português do Brasil, o painel Descobrimento do Brasil. Neste mesmo ano, tem os primeiros sintomas de intoxicação das tintas, que lhe será fatal. Em 1955 recebe a Medalha de Ouro, concedida pelo International Fine Arts Council de Nova York, como o melhor pintor do ano.

Auto Retrato, Portinari - 1957.
Coleção particular, Rio de Janeiro - RJ.
Em 1956 faz os desenhos da Série D. Quixote e viaja para Israel, a convite do governo daquele país, expondo em vários museus e executando desenhos inspirados no contato com o recém-criado estado israelense e expostos posteriormente em Bolonha, Lima, Buenos Aires e Rio de Janeiro. Neste mesmo ano recebe o Prêmio Guggenheim do Brasil e, em 1957, a Menção Honrosa no Concurso Internacional de Aquarelas do Hallmark Art Award, de Nova York.
No final da década de 50 Portinari realiza diversas exposições internacionais, expondo em Paris e Munique em 1957. é o único artista brasileiro a participar da exposição '50 Anos de Arte Moderna', no Palais des Beaux Arts, em Bruxelas, em 1958, e expõe como convidado de honra, em sala especial, na 'I Bienal de Artes Plásticas' da Cidade do México.

Em 1959 expõe na Galeria Wildenstein de Nova York e em 1960 organiza importante exposição na Tchecoslováquia.

Em 1961 o pintor tem diversas recaídas da doença que o atacara em 1954 - a intoxicação pelas tintas -, entretanto, lança-se ao trabalho para preparar uma grande exposição, com cerca de 200 obras, a convite da Prefeitura de Milão.

Candido Portinari falece no dia 6 de fevereiro de 1962, vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava.

"O alvo da minha pintura é o sentimento. 
Para mim, a técnica é meramente um meio.
 Porém, um meio indispensável."

Retrato de João Candido com Cavalo, 1941.
Coleção particular, Fortaleza - CE.
Cronologia da vida e obra de Cândido Portinari
1903 Portinari nasceu em 30 de dezembro de 1903 numa fazenda de café do interior do Estado de São Paulo. Viveu sua infância na pequena Brodowski, pouco mais do que uma parada para o trem carregar o café, e assim descrita pelo pintor: 

"pequenininha, 
duzentas casas brancas de um andar,
 no alto de um morro espiando para todos os lugares…
 lugar arenoso no meio da terra roxa cafeeira. 
Imenso céu azul circula o areal.
 Milhares de brancas nuvens viajam".

Brodowski, de Portinari - 1958.
Coleção particular, Rio de Janeiro - RJ.
Nasci numa fazenda de café.
 Meus pais trabalhavam na terra... 
Mudaram-se da fazenda Santa Rosa 
para a estação de Brodósqui 
- onde não havia ainda povoado;
 eu devia ter dois anos de idade. 
No local viviam com meus pais minha vó paterna, 
um tio e uma tia, ambos irmãos de meu pai.
 Lembro-me
 vagamente da casa e do armazém;
 havia um quarto cheio de melancias
 e de caixa de vinho do Porto.
  Estas caixas vinham sempre com surpresa. 
Grande 
foi minha alegria
 quando numa veio um pequeno canivete 
com cabo de madrepérola". 
- Paris, 29 de novembro de 1957.
Auto retrato, Portinari - 1939.
Coleção particular, Rio de Janeiro - RJ.
Segundo de doze irmãos, Portinari era filho de Batista Portinari e Domênica Torquato, italianos que, crianças ainda, emigraram com suas famílias para o Brasil, para trabalhar na lavoura do café. Além de plantar o café, plantaram também o grande pintor brasileiro. Portinari criou-se como outras crianças da roça, ouvindo histórias de lobisomem e almas do outro mundo, saci-pererê e mula-sem-cabeça, de príncipes e princesas, montando cavalo a pêlo, colhendo manga e admirando as meninas do povoado, onde a garotada brincava de carniça e de pegar, acompanhava o circo, as procissões e a banda de música, empinava pipa e jogava futebol. 

1909 - Para o menino Candinho, a profissão chegou quase como brincadeira. Primeiro, foi um leão que desenhou na aula. O desenho foi comentado por professores e alunos. Não o deixaram mais em paz: teve que desenhar a capa das provas a serem expostas no final do ano. Tempos depois, vieram de Ribeirão Preto uns pintores para trabalhar na igreja. O menino Portinari os ajudou, enchendo o fundo do altar de estrelas. O que mais gostava era de misturar as tintas. Quando se apresentou a ocasião de partir para o Rio de Janeiro, já estava decidido a pintar. Tinha pouco mais de 15 anos e passou noites sem dormir, ainda indeciso:
"Pena de deixar
 meus pais e meus irmãos..." 
 Sente saudades antecipadas:  
"O sol, a lua, as estrelas, 
as águas do rio, o vento, 
tudo ficaria lá e eu entraria no escuro".
1912 - Participa, durante vários meses, dos trabalhos de restauração da Igreja de Brodowski, ajudando os pintores italianos a "Dipingere Le Stelle" (pintar estrelas). Mais tarde, auxilia um escultor frentista (especialista em fazer anjos/adornos).
"O vigário João Rulli desejava encomendar uma porteira
 e não se entendiam, peguei um papel e desenhei a porteira.
 O padre ficou olhando para mim e disse:
 _ Amanhã chegará o frentista para ornamentar
 a fachada da nova igreja. Você deve ir vê-lo e aprender.
 Ricardo Luini era o nome do meu escultor. (...) 
Quando terminou, deu-me uma prata de dois mil réis
 e uma viagem a Ribeirão Preto. Pessoa muito boa”. 
- Retalhos de minha vida de infância.
1914 - A partir de uma carteira de cigarros, Portinari faz a lápis um retrato do músico Carlos Gomes. A família guarda o desenho.
Auto retrato, Portinari 0 1957.
Coleção desconhecida.
1918 - Viaja para o Rio de Janeiro. Tem aulas de desenho no Liceu de Artes e Ofícios. Matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes, na qual estuda desenho e pintura. Seus professores foram Rodolfo Amoedo, Batista da Costa, Lucílio Albuquerque e Carlos Chambelland.
"Quanto mais próxima a partida mais aflito ficava. Olhava o chão, as plantas, os animais, as aves e aquela luz... Parecia que nunca mais iria ver tudo aquilo que era parte de mim mesmo. Quantas lágrimas derramei às escondidas. Vi e revi mil vezes todos os recantos. Saudade incontida do que ficava. (...) 

Procurava ensaiar para não ser traído pela emoção. Ia à casa de minha vó, trocava duas palavras e saía vencido, qual, não era possível. Voltava para casa, falava com minha mãe e sentia-me impossibilitado de dizer palavras. Não poderia despedir-me. Preferia não ir mas necessitava ir, estava na idade. O sol, a lua, as estrelas, as águas do rio, o vento, tudo ficaria lá e eu encontraria o escuro." 
- Paris, setembro de 1958.
A Figura em foco Cândido Portinari, por Méndez. 
1922 - Realiza-se em São Paulo, a Semana de Arte Moderna. Portinari não participa.Expõe, pela primeira vez, no Salão da Escola de Belas Artes.
1923 - Portinari manda para o Salão da Escola de Belas Artes o retrato do escultor Paulo Mazzucchelli, ganhando três prêmios, entre eles a medalha de bronze do Salão.
1924 - Participa do Salão Nacional de Belas Artes com o quadro Baile na Roça obra com temática brasileira, mas é recusado pelo júri. Baile na Roça
1925 - Obtém a pequena medalha de prata no Salão, no qual expõe dois retratos.
1927 - Portinari recebe a grande medalha de prata.
1928 - Com o retrato do poeta Olegário Mariano, ganha o prêmio de Viagem ao Estrangeiro. Portinari retratando Olegário.
1929 - Antes de viajar, faz sua primeira exposição individual, com 25 retratos, por iniciativa da Associação dos Artistas Brasileiros. Parte para a Europa. Viaja pela Itália, Inglaterra, Espanha e se fixa em Paris.
"Comecei a trabalhar, 
mas no meu quarto, porque não consegui 
ainda ateliê dentro de minhas posses. 
Contudo, não estou triste,
 porque não estou perdendo tempo: 
pela manhã vou ao Louvre, à tarde faço estudos.
 Não pretendo fazer quadros por enquanto. 
Aprendo mais olhando um Ticiano, um Raphael, 
 do que para o Salão de Outono todo"
- Carta ao amigo Olegário Mariano.
1930 - Vai diariamente aos museus, descobre a pintura moderna da Escola de Paris, discute sobre arte nos cafés e não tem quase nenhum tempo para pintar. Conhece Maria Martinelli, jovem uruguaia de 19 anos, radicada com a família em Paris e se casa com ela.Sente saudade e vem-lhe à lembrança Palaninho, um dos mais humildes habitantes de Brodowski, escreve para o Brasil: 
Palaninho, Portinari - Paris, 1930.
Coleção particular, Rio de Janeiro - RJ.
"(…) bigode empoeirado e ralo e com algumas falhas; e só tem um dente. Usa umas calças brancas feitas de saco de farinha de trigo (…) ainda se nota o carimbo da marca da farinha. Embaixo ele amarra as calças com palha de milho para não apanhar lama - não usa botina nos dias de semana (…). Usa paletó escuro listrado, com uma golinha muito pequena e quatro botões: - três pretos e um branco".
O jovem pintor se espanta: 
"Vim conhecer aqui em Paris o Palaninho, depois de ter visto tantos museus e tantos castelos e tanta gente civilizada. Aí no Brasil eu nunca pensei no Palaninho (...). Eu uso sapatos de verniz, calça larga e colarinho baixo e discuto Wilde, mas no fundo ando vestido como o Palaninho e não compreendo Wilde."
Palaninho foi o começo de uma revelação:
"Daqui fiquei vendo melhor a minha terra - fiquei vendo Brodowski como ela é. Aqui não tenho vontade de fazer nada. Vou pintar o Palaninho, vou pintar aquela gente com aquela roupa e aquela cor.. Quando comecei a pintar, senti que devia fazer a minha gente e cheguei a fazer o "Baile na Roça” (...) A paisagem onde a gente brincou a primeira vez não sai mais da gente, e eu quando voltar vou ver se consigo fazer a minha terra..."
Portinari e Maria, no Ateliê - Rio de Janeiro, 1931.
1931 - Portinari e Maria regressam ao Rio de Janeiro e ele passa a trabalhar num ritmo intenso. Participa da comissão destinada a promover a reforma do Salão Nacional de Belas Artes, no qual os artistas modernos são admitidos pela primeira vez. Portinari é convidado pelo então diretor da Escola Nacional de Belas Artes, o arquiteto Lúcio Costa, a fazer parte da comissão organizadora do Salão. Nesse ano, Portinari apresenta 17 obras.
1932 – Expõe individualmente no Palace Hotel. Dessa vez exibe obras de temática brasileira - cenas de infância, circo, cirandas.
1933 - Faz outra exposição individual no mesmo local.
1934 - Nesse ano Portinari pinta “Despejados”, obra de temática social.
Intelectuais começam a ver em sua figura o verdadeiro representante plástico do modernismo brasileiro. Tem sua tela “O Mestiço” adquirida pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, sendo a primeira instituição pública a incluir uma obra de Portinari em seu acervo.

"A pintura moderna tende francamente para a pintura mural. Com isso não quero afirmar que o quadro de cavalete perca o seu valor, pois a maneira de realizar não importa. No México e nos Estados Unidos já há muitos anos essa tendência é uma realidade, e noutros países se opera o mesmo movimento, que há de impor à pintura o seu sentido de massa.”
- Entrevista de Portinari ao Diário de São Paulo, em 21 de novembro de 1934.
Portinari sentado diante do cavalete onde executa
 a obra "Torso". Rio de Janeiro, RJ, 1924.
1935 - Em julho é contratado para lecionar pintura mural e de cavalete na Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Ao participar da Exposição Internacional do Instituto Carnegie, nos Estados Unidos, junto com pintores de 21 países, recebe a Segunda Menção Honrosa, com a tela "Café". Essa obra é adquirida, antes mesmo da premiação, pelo ministro da Educação Gustavo Capanema, para o Museu de Belas Artes.
1936 - Portinari pinta o seu primeiro mural, para o monumento rodoviário da Estrada Rio/São Paulo, medindo 0,96m x 7,68m. O ministro Gustavo Capanema convida-o a trabalhar no edifício que será construído para o Ministério da Educação.
1937 - Com a intenção de dedicar-se ao estudo para os afrescos do Ministério, Portinari recebe a colaboração de alguns alunos da Universidade do Distrito Federal. Enrico Bianco, jovem pintor italiano recém-chegado ao Brasil, é apresentado a Portinari, que o convida para trabalhar no Ministério.
1938 - Esse ano é marcado pela execução dos trabalhos do Ministério da Educação.
"Faltava ao Brasil
 uma pintura mural de caráter e de assuntos nacionais,
 ligados aos temas históricos da nossa formação étnica
 ou da vida econômica e social do país. 
Essa obra está sendo atualmente realizada por Candido Portinari,
 para o novo edifício do Ministério da Educação”.
- Antônio Bento para o jornal A Tarde,
 em 02 de abril de 1937.

1939 - Nasce seu único filho, João Cândido, em janeiro desse ano.
Executou três painéis para o pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova York: “Jangadas do Nordeste”; “Cena Gaúcha” e “Festa de São João”. O Museu de Arte Moderna de Nova York adquire o quadro "O Morro", que René Huyghe, diretor do Museu do Louvre, aconselhara Portinari a não utilizar. Em novembro, expõe 269 trabalhos no Museu Nacional de Belas Artes. A Universidade do Distrito Federal é fechada.
Cândido Portinari
1940 - Portinari participa da Exposição de Arte Latino-Americana no Museu Riverside, em Nova York. Expõe com grande sucesso em Detroit e no Museu de Arte Moderna de Nova York. A University Of Chicago Press publica "Portinari, His Life and Art", o primeiro livro sobre o artista, com prefácio de Rockwell Kent e Josias Leão. Ilustra "A Mulher Ausente", de Adalgisa Nery.
1941 - Em Brodowski, na casa de seus pais, Portinari passa a pintar uma capela para sua avó ("Capela da Nonna"), que já não mais podia frequentar a igreja.
1942 - Passa vários meses nos Estados Unidos, pintando quatro afrescos para a Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso, em Washington.
 Vê o quadro "Guernica", de Pablo Picasso, que o impressionou profundamente. Ilustra o livro infantil "Maria Rosa", da autora norte-americana Vera Kelsey.
1943 - A pedido de Assis Chateaubriand, pinta uma série de murais para a Rádio Tupi do Rio, inspirados na música popular brasileira. Realiza nova exposição individual no Museu Nacional de Belas Artes. Ilustra "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis.
Sobre a série Os Músicos, Assis Chateaubriand comenta:
Chorinho, de Portinari - 1943
Acervo Museu Nacional de Arte Contemporânea de Lisboa/ Portugal
 "Grandezas e misérias do Brasil, 
sua sensibilidade, suas tragédias secretas, 
a contra-revolta obscura das suas classes desafortunadas, 
o frenesi dos sambas, dos batuques, o desengonço do frevo, 
a melancolia, sem azedume, dos negros e dos mulatos, (...)
 o tocador de flauta e o malandro dos morros,
 em toda essa comédia humana 
a paleta de Portinari deita cores imortais (...)."

1944 - Pinta três painéis para a capela Mayrink, Rio de Janeiro. Acaba de executar um ciclo bíblico, que Assis Chateaubriand compra e leva para a Rádio Tupi de São Paulo, onde a influência da Guernica de Picasso é visível.
Trabalha com dois painéis da série Retirantes. Pinta um mural e azulejos sobre a vida de São Francisco de Assis para a capela da Pampulha, em Belo Horizonte (MG).
1945 - Portinari perde seu grande amigo Mário de Andrade. Faz uma "Via Sacra" para a capela da Pampulha. Filia-se ao Partido Comunista vendo na organização, mesmo clandestina, a chance de lutar contra a ditadura, a favor da anistia e de eleições. Nomes de grande prestígio junto à sociedade reúnem-se nesse partido. Candidato a deputado federal por São Paulo, Portinari perde as eleições. O PCB consegue eleger um senador (Luiz Carlos Prestes) e 14 deputados.
Os Retirantes, Portinari - 1955.
Coleção particular, Rio de Janeiro - RJ.
1946 - Expõe na Galeria Charpentier, de Paris, seus quadros e desenhos das séries "Os Retirantes" e "Meninos de Brodósqui”. Recebe a "Legião de Honra" do governo francês.
1947 - Candidato a senador, em São Paulo, pelo Partido Comunista, perde por pequena margem de voto, colocando em dúvida a lisura do pleito. Viaja para Buenos Aires, onde faz uma exposição individual, que volta a apresentar em Montevidéu, no Salão da Comissão Nacional de Belas Artes do Uruguai.
1948 - Pinta em Montevidéu, em têmpera, o grande painel "A Primeira Missa no Brasil", para o Banco Boavista do Rio de Janeiro. Ilustra "O Alienista" de Machado de Assis. No final do ano, Portinari faz uma retrospectiva no Masp (Museu de Arte de São Paulo), tendo as obras ‘Enterro na Rede”, “Criança Morta” e “Retirantes” doadas ao museu por Assis Chateuabriand.
1949 - Pinta o mural "Tiradentes" para o colégio de Cataguases. Apesar do convite, não consegue participar da Conferência Cultural e Científica para a Paz Mundial, em Nova York, pois tem seu visto de entrada negado.
1950 - Viaja para a Itália em fevereiro e visita Chiampo, terra natal de seu pai.
Expõe seis trabalhos na XXV Bienal de Veneza. Recebe, pelo painel Tiradentes, a Medalha de Ouro da Paz do II Congresso Mundial dos Partidários da Paz, em Varsóvia.
1951 - Participa, com uma sala especial, da 1ª Bienal de São Paulo. A Bienal conta com mais de 2.000 trabalhos de pintura, escultura, arquitetura e gravura de artistas de 19 países. Na Itália é lançada a monografia Portinari,
 organizada e apresentada por Eugenio Luraghi (ed. Della Mondione, Milão).
1952 - Pinta para o Banco da Bahia, em Salvador, o Mural "A Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia". Com ilustrações de Portinari, o semanário O Cruzeiro publica o romance Os Cangaceiros de José Lins do Rego. Pinta um conjunto de obras sacras para a Igreja Matriz de Batatais - SP, pequena cidade próxima de Brodowski.
Portinari com pincéis e paleta, por Lan.
1953 - É inaugurada a decoração para a Igreja de Batatais. E realizada a Via Sacra para integrar o conjunto das obras. Começa a demonstrar um problema grave de saúde devido à intoxicação com tintas. Expõe no Museu de Arte Moderna do Rio uma mostra com mais de 100 obras. Inicia o trabalho dos enormes painéis "Guerra e Paz" para a sede da ONU em Nova York.
1954 - Participa com mais 14 artistas de 15 países da mostra organizada pelo Comitê de Cooperação Cultural Com o Estrangeiro em Varsóvia, que tem como tema principal a luta dos povos pela paz. Executa também um painel dedicado aos "Fundadores do Estado de São Paulo" para o jornal O Estado de São Paulo. Expõe novamente no Museu de Arte de São Paulo. Participa da III Bienal de São Paulo, com uma sala especial. Com os sintomas da intoxicação cada vez mais presentes, é proibido pelos médicos de pintar por algum tempo. 
"Estou proibido de viver", reclama.
1955 - Participa da III Bienal de São Paulo, ocupando novamente uma sala especial. O Internacional "Fine Arts Council", de Nova York, confere-lhe uma medalha como o pintor do ano. Ilustra o romance "A Selva", de Ferreira de Castro. Em outubro, é inaugurado o painel “O Descobrimento do Brasil", encomenda do Banco Português do Brasil, no Rio.
1956 - Viaja à Itália e Israel e faz exposição nos museus de Tel-Aviv, Haifa e Ein Harod. Os painéis "Guerra e Paz" são apresentados no Teatro Municipal do Rio. Recebe o prêmio "Guggenheim's National Award", da Fundação Guggenheim, de Nova York. O Museu de Arte Moderna do Rio edita o livro "Retrato de Portinari", de Antônio Callado.
1957 - A Maison De La Pensée, em Paris, apresenta uma exposição individual de Portinari, patrocinada pela Embaixada do Brasil, com 136 obras. Expõe também no Museu de Munique. Os painéis "Guerra e Paz" são inaugurados na sede da ONU. Recebe a "Hallmark Art Award", de Nova York. Solomon Guggenheim expõe "Mulheres Chorando", um dos grandes estudos preliminares do painel "Guerra". No final do ano Portinari começa a escrever suas memórias: Retalhos da minha vida de infância. 

"Eram belas as manhãs frias 
na época da apanha do café
 e delicioso o canto dos carros de boi 
transportando as sacas da colheita. 
Quantas vezes adormecíamos sobre as sacas.
 A luz do sol parecia mais forte. 
Era somente para nós. 
Ia pela estrada afora
 o carro vagaroso, cantando. 
 Dormíamos cheio de felicidades. 
Sonhávamos sempre, dormindo ou não.
 Nossa imaginação esvoaçava pelo firmamento. 
Fantasias forjadas,
 olhando as nuvens brancas, 
mais brancas do que a neve. 
Tudo se movia ao nosso redor
 como um passe de mágica.
Belas eram as seriemas, as saracuras e os tatus. Quando víamos no chão um orifício, sabíamos a que bicho pertencia. Conhecíamos também a maioria das árvores e arbustos, sabíamos a maioria das árvores e arbustos, sabíamos suas serventias para as doenças; as chuvas, o arco-íris, as nuvens, as estrelas, a lua, o vento e o sol eram-nos familiares. 
O contacto com os elementos 
moldava nossa imaginação 
e enchia nosso coração de ternura e esperança."

1958 - Expõe, inaugurando a Galleria Del Libraio, em Bolonha (Itália), os trabalhos com motivos de Israel, os quais mostra a seguir em Lima e Buenos Aires. É convidado de honra, com sala especial, na 1ª Bienal do México. No retorno de uma viagem pela Europa declara que passará a dedicar-se à poesia. É convidado para receber em Bruxelas a Estrela de Ouro. Seu pai, "Seu Baptista", morre no Rio de Janeiro.
Café, Portinari - 1957.
Coleção particular, São Paulo - SP.
1959 - Expõe na Galeria Wildenstein, em Nova York e no Museu Nacional de Belas Artes em Buenos Aires. A pedido da Librairie Gallimard, executa 12 ilustrações, em cores, para "O Poder e a Glória", romance de Graham Greene. Ilustra também, com 30 gravuras, "O Menino de Engenho", de José Lins do Rego. Pinta o mural "Inconfidência Mineira" para o Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais S/A, do Rio de Janeiro.  Na V Bienal de São Paulo, expõe 130 trabalhos.
1960 - Após 30 anos de casamento, Portinari separa-se de Maria, que, assumindo mais que o papel de esposa, ajudava-lhe com os problemas do cotidiano, deixando-o livre para dedicar-se mais tempo ao seu trabalho. Mesmo separados, Maria continua a prestar-lhe assistência. Ainda para a Librairie Gallimard, ilustra os romances "Terre Promisse" e "Rose de September", de André Maurois. Executa cinco painéis para o Banco de Boston de São Paulo: "Os Bandeirantes", "Fundação de São Paulo", "Colheita de Café", "Transporte do Café" e "Industrialização".
Expõe individualmente na Tchecoslováquia, em São Paulo e na Galeria Bonino, no Rio. É convidado a participar do júri da II Bienal do México.
Realiza-se em Moscou, uma mostra de fotografias de várias de suas obras. Nasce sua neta Denise. Feliz com o nascimento da neta, declara: "Minha neta me libertará da solidão" (Poemas: cento e vinte e seis, 1960). A partir daí, passa a retratar sua neta em pintura e poesia.
Portinari e seus pincéis.
1961 - Faz a última viagem à Europa. Encontra-se com seu filho João Candido em Paris, revê amigos e lugares que muito lhe emocionavam. Sua saúde mostra-se mais uma vez abalada, devido à doença que o atacara.
Juntamente com o amigo Eugenio Luraghi, planeja a exposição para o ano seguinte em Milão. Em julho a galeria Bonino, no Rio de Janeiro, apresenta a última exposição do artista em vida.
1962 - Envolvido no trabalho para a exposição de Milão, descuida-se de vez de sua saúde. Morre, no dia 06 de fevereiro, na Casa de Saúde de São José, no Rio de Janeiro. Seu corpo é velado no Ministério da Educação, de onde sai o enterro, com grande acompanhamento.
"Quando o esquife de Portinari saiu do Ministério, na manhã do dia 8, em carreta do Corpo de Bombeiros, dos edifícios envidraçados, do pátio do Palácio da Educação, das bancas de jornais, dos cafés em súbito silêncio diante da Marcha Fúnebre e do Hino Nacional, voltaram-se para o cortejo milhares de caras irmãs das que aparecem nos Morros, nos Músicos nos Retirantes de Portinari. Milhares de anônimas criaturas suas disseram adeus ao pintor, miraram uma última vez o claro e sutil feiticeiro que para sempre se aprisionou em losangos de luz e feixes de cor. Como se no espelho apagado da vida do artista ardesse num último lampejo tudo aquilo que refletira durante a vida".
- Antônio Callado

1963 - Realiza-se a mostra de Candido Portinari no Palazzo Reale, Salla delle Cariatini, Milão (Itália), com 201 obras.
1964 - A Livraria José Olympio Editora, publica o livro "Poemas de Portinari".
1970 - A antiga residência do artista em Brodowski transforma-se no Museu Casa de Portinari. O Museu de Arte de São Paulo apresenta a exposição "Cem Obras-Primas Portinari".
1972 - Realiza-se no Museu Nacional de Belas Artes uma mostra comemorativa dos dez anos da morte de Portinari.
1974 - É realizada no Palácio das Nações Unidas, em Genebra, uma exposição de 42 trabalhos de Portinari, ocasião em que são lançados quatro selos comemorativos reproduzindo detalhes dos painéis "Guerra e Paz". O painel "Tiradentes" é exposto no Museu de Arte de São Paulo e no Ministério da Educação, no Rio de Janeiro.
1977 - Realiza-se no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, a mostra "Portinari Desenhista", reunindo 71 obras.
1978 - Realiza-se no Museu de Arte de São Paulo, a mostra "Portinari Desenhista", com 71 obras.
1979 - É criado o Projeto Portinari, sediado na PUC/Rio de Janeiro, tendo à sua frente João Candido, filho do artista, com o objetivo de documentar não só a obra completa do pintor como também a sua geração.
1987 - Realiza-se no Rio de Janeiro a exposição "25 Anos Sem Portinari", com 50 obras.
1993 - Realiza-se no Jockey Club Brasileiro (Rio de Janeiro), a exposição "Portinari 90 Anos", com 80 obras.
1996 - Realiza-se no Museu de Arte Moderna de São Paulo a exposição "Portinari Leitor" e "Portinari Imagens do Brasil".
1997 - Realiza-se no Museu de Arte de São Paulo a exposição "Retrospectiva", com mais de 200 obras.
2003 - Centenário do artista. Projeto Portinari
2007 - Comemoração dos 50 anos do painel “Guerra e Paz”. O filho do artista, João Candido, participou das comemorações na sede da ONU em Nova York.
2009 - O Museu de Arte de São Paulo inaugura a mostra “Portinari: As Séries Bíblica e Retirantes”.
2010 - Em 14 de março, comemorou-se os 40 anos do Museu Casa de Portinari, em Brodowski/SP. Depois de 53 anos o Theatro Municipal do Rio de Janeiro voltou a abrigar os painéis “Guerra e Paz”, do pintor Cândido Portinari. A exposição ocorreu entre 21 e 30 de dezembro de 2010.
Casal Portinari com seu filho Joao Candido.
Rio de Janeiro, 1941.


Portinari, Graciliano Ramos, Pablo Neruda e Jorge Amado. Rio de Janeiro, 1952.

Paisagem de Brodowski, Portinari - 1940.
Gilberto Chateaubriand - MAM RJ, Rio de Janeiro -RJ.
"Quanta coisa eu contaria se pudesse,
 e se soubesse ao menos a língua, 
como a cor"

MENINO DE BRODÓWSKI
"Este é um livro sobre a infância. 
A infância do pintor e a infância vista na sua obra. 
E como a infância chama o futuro, é sobre o pintor, 
nós e o futuro que eu quero falar. 
Mas antes preciso contar uma história.
 Porque acontece que o pintor, 
o "Menino de Brodósqui", foi meu pai 
- ou, como descendente de italianos, meu "papa".
A história tem a forma de uma carta 
que eu-filho-nós escreve para ele-pai-Brasil.

João Candido, 1979.

Jangadas do Nordeste, Portinari - 1939.
Acervo particular, Belo Horizonte - MG.
"Não pretendo entender de política. 
Minhas convicções, que são fundas, 
 cheguei a elas por força da minha infância pobre, 
de minha vida de trabalho e luta, e porque sou um artista.
 Tenho pena dos que sofrem, e gostaria de ajudar 
a remediar a injustiça social existente.
 Qualquer artista consciente sente o mesmo".

- Portinari, em depoimento feito ao Poeta Vinícius de Moraes,
 publicado postumamente, em março de 1962.

Menino com Carneiro, Portinari - 1954.
Coleção particular, São Paulo,SP.
Observador, o menino Candinho impressionava-se com os pés dos lavradores das fazendas de café: 
Café, de Portinari - 1938.
Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro,RJ. 
"Pés disformes.
 Pés que podem contar uma história.
 Pés semelhantes aos mapas,
 com montes e vales, vincos como rios. 

Quantas vezes, nas festas e bailes, no terreiro, que era oitenta centímetros mais alto do que o chão, os pés ficavam expostos e era divertimento de muitos apagar a brasa do cigarro nas brechas dos calcanhares sem que a pessoa sentisse"

- Portinari, relembra num relato autobiográfico 
escrito poucos anos antes de sua morte.

A Obra de Portinari
Em quase 5 mil obras, de pequenos esboços a gigantescos murais, Portinari legou ao nosso imaginário uma ampla síntese crítica de todos os aspectos da vida brasileira. Sua obra foi celebrada pelos mais notáveis nomes de sua geração, no Brasil e no exterior.
Colheita do Milho, Portinari - 1959.
Coleção particular, São Paulo - SP.
“Portinari participou da elite intelectual brasileira, 
ao lado dos mais consagrados poetas, escritores, arquitetos, educadores, jornalistas e políticos, no período exato em que todos eles provocavam uma notável mudança na atitude estética e na cultura dos grandes centros brasileiros. (…) 

De nenhum outro artista ou sábio, pintor ou escritor, recebemos um legado de transcendência lírica de nossa história comparável ao dele. E se somarmos os seus grandes murais - A Descoberta da Terra, A Catequese, Os Bandeirantes e a Descoberta do Ouro, em 1941 para a Biblioteca do Congresso de Washington, a várias outras obras como, por exemplo, a Primeira Missa (1943), o estudo para o painel Padre Anchieta (1953-1961), Chegada de D. João VI (1952), Navio Negreiro (1950), Tiradentes (1949), O Descobrimento do Brasil (1954) e mais ainda, aos temas do políptico do Ministério da Educação e Saúde (1936-1944) denominado, na época, Trabalho na Terra Brasileira ou Evolução Econômica, ao famoso Café (1935) e à série Retirantes (1945), então estaremos em face de um acervo de pintura histórica-social de determinado povo e região que se poderá reconhecer como dos mais notáveis da história da pintura.”
- Clarival do Prado Valladares, historiador da arte.

Campo de Arroz, Portinari - 1947.
Coleção particular São Bernardo do Campo - SP.
Quadros de Portinari - 1, música Dança Brasileira_Camargo Guarnieri (CD Brazil_YoYoMa)


“Portinari não é só o maior pintor brasileiro de todos os tempos: é o exemplo único em todas as nossas artes da força do povo dominada pela disciplina do artista completo pela ciência e pelo instinto infalível do belo.Diante destes choros, destes cavalos-marinhos, que falam ao mais profundo de minh'alma de brasileiro, me sinto em estado de absoluta inibição crítica. Tudo que posso fazer é admirar.”
- Manuel Bandeira

Carnaval, Portinari - 1957.
Coleção particular, São Paulo - SP.
Quadros de Portinari - 2, música Um a Zero_Pixinguinha (CD Brazil_Yo Yo Ma)

“Considero Portinari
 um dos maiores pintores do nosso tempo. 
Sua força é enorme. Na manhã em que vi o conjunto de suas telas, experimentei tal emoção que fiquei possuido de uma verdadeira fadiga nervosa. Nessa tarde não pude trabalhar, achava-me realmente cansado.”
- René Huyghe, conservador-chefe do Museu do Louvre

Quadros de Portinari - 3, música Brasileirinho_V. Azevedo (CD Brazil_Yo Yo Ma)


“Considero Portinari como o maior pintor brasileiro de todos os tempos. Ele representa, em sua arte, a expressão perfeita da sentença de Gœthe, segundo a qual toda liberdade autêntica é fruto da disciplina. Portinari pôde tomar todas as liberdades, no manejo do pincel e da cor, porque não se serviu de licensiosidade, mas tratou de superar todas as regras impostas, depois de se ter assenhorado da mais perfeita técnica. Partiu da liberdade de intenção até chegar à liberdade de criação mas através de uma rigorosa disciplina de instrumentação. Daí a riqueza de seu polimorfismo, que vai desde a arte religiosa mais pura, em sua objetividade litúrgica, como na capelinha particular de sua nona em Brodósqui, até às composições históricas, sociológicas, culturais, como o seu admirável ciclo de Dom Quixote ou então nacionais, como os seus inexcedíveis Retirantes. Em tudo o que fez em pintura, deixou estampada sua inconfundível personalidade, tão inconfundível como inimitável. Pois só os gênios são tão inimitáveis como irreprodutíveis. Creio que nossa arte moderna poderá figurar no quadro da cultura universal ao menos com dois espíritos geniais: Villa-Lobos na música e Portinari na pintura.”
- Alceu Amoroso Lima

Domingo no morro, Portinari - 1935
Coleção particular, São Paulo - SP.
“Nestes dias de desorientação, de funambulismos e de anemia, o exemplo da arte poderosa de Candido Portinari, tão rica de significado, de matéria e de sólida técnica, chega a nós como um bom vento vivificante, a demonstrar-nos que a grande veia latina não se exauriu, mas, ao contrário, enriquecida de novos temas, continua viva, também pelo mérito de um filho de emigrantes que ainda acredita que a pintura seja um ofício sério, árduo e útil aos homens.”
- Giuseppe E. Luraghi, crítico de arte,
 escritor e poeta italiano.

Iemanjá, Portinari - 31.12.1959.
Museu Castro Maya, Rio de Janeiro - RJ.
Pinturas e desenhos da série Retirantes, de Cândido Portinari. Trilha sonora: Aria # 4 das Bachianas Brasileiras, Heitor Villa-Lobos.

“Foi em você que conseguimos a nossa expressão mais universal, e não apenas pela ressonância, mas pela natureza mesma do seu gênio criador, que, ainda que permanecesse ignorado ou negado, nos salvaria para o futuro. Você é a alegria e a honra do nosso tempo e da nossa geração. Não sei se saberia dizer-lhe isso pessoalmente, mas encho-me de coragem nesta carta para exprimir uma convicção que é de todos os seus companheiros, os quais se sentem elevados e explicados na sua obra. Sim, meu caro Candinho, foi em você que conseguimos a nossa expressão mais universal, e não apenas pela ressonância, mas pela natureza mesma de seu gênio criador, que ainda que permanecesse ignorado ou negado, nos salvaria para o futuro.”
- Carlos Drummond de Andrade, em carta a Portinari, 1946.

Mercedes Sosa - Un son para portinari

O menino Candido Portinari saiu de minha terra com papel e cores em punho para a imensa aventura de pintar uma pátria. Pintá-la, não: criá-la de uma realidade ignorada, mostrá-la aos quatro cantos do mundo, contorcida, ofegante, opressa, inaugural, como a dizer-lhe:"Somos assim". … Um dia, seremos apenas os farrapos de narrativa de nossa existência. E mãos ávidas, mãos sábias do futuro virão recompor o que fomos, virão surpreender-se de nós. E do pó que seremos, retirarão o que beberam aqueles olhos e o que se escapou por aqueles dedos. E saberão que neste lugar existimos, porque ele inventou a nossa eternidade…
- Guilherme Figueiredo
Menino a Cavalo, Portinari - 1959.
Ilustração original nº 3 do livro “Menino de engenho”, de José Lins do Rego.
O menino e o povoado
Fizeram uma parada, uma parada
Para o trem carregar café,
Antes, estradas difíceis, só carros de bois
Transitavam, levando dias e dias,
Depois, uma casa aqui, outra ali.

Formaram o povoado. Não
Há rio, nem pedras.
De tijolos caiados e telhas antigas
São as construções; de taipas e
Arame farpado, os divisores.

Lugar arenoso no meio da terra roxa
Cafeeira. Imenso céu azul circula
O areal. Milhares de brancas nuvens
Viajam. Caravanas luminosas
Em movimento. O mais solitário, ali
Deixaria de sê-lo. Toda essa fagueira
Companhia. Alegre e promissor
Futuro...

As festas, os bailes, a banda de música
Procissões e o sino repicando...
Muito povo endomingado
Noites enluaradas e todas as estrelas
Eram mais claras do que os dias nos outros povoados.

Antes da luz e da água encanada,
No povoado havia lamparina
E cisterna; dez a quinze metros
Para encontrar o líquido.

Os circos traziam iluminação
De carbureto. Próximos
Dos elementos. Quantos vendavais e
Chuvas de granizo!

Moinhos de garapa,
Feitos de madeira - canaviais
E matas virgens com seus pássaros e
Frutas. Consumiram

Tudo e mais as lendas. Onde
Estarão os jacus e as pacas?
Os jenipapos e jatobás?
As estradas cortando as

Matas criavam histórias
E medos. Os caminhos
Também fugiram. Olhando
O céu, às vezes os vejo transformados em nuvens.

Saí das águas do mar
E nasci no cafezal de
Terra roxa. Passei a infância
No meu povoado arenoso.
[...]

Serenata, de Portinari - 19
Coleção particular, São Paulo - SP
"Arte brasileira só haverá 
quando os nossos artistas abandonarem 
 completamente as tradições inúteis 
e se entregarem com toda alma, 
à interpretação sincera do nosso meio"
- Portinari, em entrevista publicada originalmente 
no jornal A Manhã em junho de 1926.

Frevo, de Portinari - 1956.
Acervo Banco Central do Brasil, Brasilia - DF.
Bumba-Meu-Boi, Portinari - 1956.
Acervo Banco Central do Brasil, Brasília - DF.
Samba, Portinari - 1956.
Acervo Banco Central do Brasil, Brasília - DF.
“Candido Portinari nos engrandeceu com sua obra de pintor. Foi um dos homens mais importantes do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa gente. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade. A terra e o povo brasileiros - camponeses, retirantes, crianças, santos e artistas de circo, os animais e a paisagem - são a matéria com que trabalhou e construiu sua obra imorredoura.”
- Jorge Amado

Projeto Portinari

Transporte de Café, Portinari - 1956. 
Coleção particular, São Paulo - SP.

Menino, Portinari - 1950.
Coleção particular, Rio de Janeiro - RJ.

Semeadora, Portinari - 1955.
Coleção particular, Rio de Janeiro - RJ.
Palhacinhos na Gangorra, Portinari - 1957.
Coleção particular, Rio de Janeiro - RJ.
Colona sentada, Portinari - 1935.
Instituto de Estudos Brasileiros da USP,
Coleção Mário de Andrade, São Paulo - SP.

Espantalho, Portinari - 1961.
Coleção particular, Rio de Janeiro - RJ.
Canavial, Portinari - 1956.
Coleção particular, Campinas - SP.
Menina, Portinari - 1938.
Coleção particular, Rio de Janeiro - RJ.

Cena Gaúcha, Portinari - 1939.
Ministério das Relações Exteriores, Brasília - DF.

MUSEU CASA DE PORTINARI
Museu Casa de Portinari,  Brodowski - SP.
O Museu: Constituído de uma casa principal, dois anexos e uma capela,que abriga importantes obras de Portinari produzidas em pintura mural, nas técnicas de afresco* e têmpera, bem como estudos, objetos de uso pessoal e profissional, móveis, utensílios e documentos do artista e de sua família.
Acervo de Portinari: 33 Obras, além de estudos, mobiliário,
Localização: Brodowski, cidade do interior paulista, a aproximadamente 330km da capital. O principal acesso é pela Rodovia Candido Portinari, entre Ribeirão Preto (23km) e Batatais (12km).
Endereço:
 Praça Candido Portinari, nº 298 - centro
14340-000  Brodowski – SP-Telefone: (16) 3664-4284     
Visitação pública: de terça a domingo, das 9 às 17h, Entrada: gratuita
Obs.: O Museu não abre de segunda-feira (exceto feriados), 
Natal (25/12), Confraternização Universal (01/01) e Eleições.

Lembranças da minha infância, Portinari - 1957.
Coleção particular, São Paulo - SP.
PROJETO PORTINARI
O acervo do Projeto Portinari é resultado do levantamento e catalogação de quase 5.000 obras e aproximadamente 30.000 documentos relacionados a estas obras. Entre estes documentos encontram-se: correspondências, recortes de periódicos, livros, fotografias de época, depoimentos, catálogos de exposição e de leilão, textos, entre outros.

Contatos e endereço
Projeto Portinari – PUC-Rio
Rua Marquês De São Vicente, 225
Gávea - Rio De Janeiro - RJ
Cep: 22453-900
Tels.|Fax: 21.3527.1438 | 21.3527.1439
Tels.|Fax: 21.3527.1440 | 21.3527.1441
Painel "Guerra", Portinari (1952-1956, Rio)
ONU - New York, NY

Painel "Paz", Portinari (1952-1956, Rio)
ONU - New York, NY
“A trajetória de Portinari é um pedaço do Brasil, de sua cultura, de sua vida e de sua história. Sempre fiel à pintura, ao Brasil e ao comunismo, Candinho pintou e recriou o nosso país, fez chegar aos nossos olhos os principais personagens populares da gesta de construção da nação, viveu e morreu das tintas e articulou estreitamente sua obra a uma visão emancipadora
da parte dos explorados e ofendidos.”
- Emir Sader, Sociólogo, 
cientista-político e jornalista.

Pedra da Gávea, Portinari - 1927.
Coleção particular, Salvador - BA.

REFERÊNCIAS E PESQUISAS

DESENHOS, FOTOS, IMAGENS E ICONOGRAFIA
. Acervo Digital Projeto Portinari
. Museu Casa de Portinari
Pablo Picasso e eu lhe oferecemos
Li
 Fonte:
Templo Cultural Delfos - Ano II, 2012.
http://elfikurten.blogspot.com/2011/02/candido-portinari-mestres-da-pintura.html
 

Um comentário:

BEATRIZ CORDEIRO disse...

LINDOS DESENHOS