segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Cândido Portinari - A vida e suas obras.




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Imigração Italiana no Brasil
Por Thais Pacievitch
Os primeiros imigrantes italianos chegaram ao Brasil no ano de 1870, o governo do Brasil estava estimulando a imigração européia, especialmente depois de 1850, época em que o tráfico de escravos foi abolido no Brasil e os europeus estavam tomando o lugar da mão-de-obra escrava.
Os italianos chegaram de início à região sul, onde estavam instalando colônias de imigrantes. Em meados do século XIX, o governo brasileiro criou as primeiras colônias. Estas colônias foram fundadas em áreas rurais como a Serra Gaúcha, Garibaldi e Bento Gonçalves (1875). Estes imigrantes eram, na maioria, da região do Vêneto, norte da Itália. Depois de cinco anos, face ao grande número de imigrantes, o governo teve de criar uma nova colônia italiana em Caxias do Sul. Nestas regiões os italianos começaram a cultivar a uva e produzir vinhos. Atualmente, estas áreas de colonização italiana produzem os melhores vinhos do Brasil. Também em 1875, foram fundadas as primeiras colônias catarinenses em Criciúma e Urussanga e, em seguida, as primeiras do Estado do Paraná.
Mesmo tendo sido a região sul que primeiro recebeu os imigrantes italianos, foi a região sudeste que recebeu o maior número de imigrantes oriundos da Itália. Isto se deve ao processo de expansão das fazendas de café, no Estado de São Paulo.
Depois de 1888, quando a escravidão foi abolida, a imigração italiana se converteu em uma grande fonte de mão-de-obra no Brasil. Os italianos começaram a expandir-se por Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. A maioria absoluta teve como destino inicial o campo e o trabalho agrícola. Muitos imigrantes italianos, após trabalhar anos colhendo café, conseguiram juntar dinheiro suficiente para comprar suas próprias terras e tornaram-se fazendeiros, outros partiram para os grandes centros urbanos (como São Paulo), pois as condições de trabalho no campo eram péssimas.
As contínuas notícias de trabalho semi-escravo e condições indignas nas fazendas de café no Brasil fizeram com que os italianos preferissem destinos como a Argentina e os Estados Unidos. A imigração italiana no Brasil continuou até a década de 20, quando o ditador Bento Mussolini, com seu governo nacionalista, começou a controlar a imigração italiana. Com a Segunda Guerra Mundial, a declaração de guerra do Brasil a Itália e a contínua recuperação da economia italiana, a chegada de italianos ao Brasil entrou em decadência.
Dentre as inúmeras contribuições italianas à cultura brasileira podemos citar novas técnicas agrícolas, o uso do “tchau” (ciao) em todo o Brasil, pratos que foram incorporados (pizzas, spagueti e o hábito de comer panetone no natal), novas palavras (paura, polenta, etc.), o enraizamento do catolicismo, incorporando elementos italianos na religião brasileira, etc.
Colonização Italiana no Sul do Brasil
A Imigração Italiana no Sul do Brasil foi muito expressiva na segunda metade do século XIX, os italianos se empregaram em diferentes atividades variáveis de acordo com o estado em que se localizaram.

Colonizadores italianos na cidade de Caxias do Sul (RS)
Os italianos formaram um grupo muito notório de imigrantes no Brasil no decorrer do século XIX, tornaram-se, em alguns momentos, mais numerosos na chegada ao país do que os imigrantes portugueses, tão ligados historicamente a nós. O impulso no Império pela atração de estrangeiros com o intuito de empregá-los nas lavouras de café, em núcleos coloniais ou nas nascentes indústrias foi a tônica da segunda metade do século XIX, quando a sociedade começou a apontar efetivamente para o fim do regime escravista.
A Imigração Italiana no Sul do Brasil é de grande destaque entre todo o fluxo imigratório que marcou o século XIX, naquela região desenvolveram diferentes formas de ocupação do território, empregando-se em diferentes atividades.
A unificação do Estado italiano foi, de forma controversa, o motivo que estimulou a emigração do povo nativo. Com a unificação da Itália, o governo passou a não dar a devida atenção aos trabalhadores do campo, deixando a agricultura em situação desfavorável no país. A má qualidade de vida foi ao encontro das propagandas brasileiras na Europa em favor da emigração para o Brasil, a união dos dois fatores foi decisiva para estimular a movimentação dos indivíduos, o que deixou vilas inteiras da Itália vazias por conta da mudança de seus habitantes para o Novo Mundo.
As primeiras colônias italianas formadas no Sul do Brasil foram na região da serra gaúcha. Como a Alemanha criou mecanismos para impedir a emigração para o Brasil, os italianos acabaram substituindo os alemães na região Sul através das novas colônias. A presença dos italianos no Rio Grande do Sul é muito marcante, em 1875 foram criadas as colônias Conde D’Eu e Dona Isabel que se tornaram as cidades de Bento Gonçalves e Garibaldi hoje. Através destas colônias e as que foram formadas ao redor, os italianos se expandiram pela serra gaúcha e marcaram a presença no Rio Grande do Sul. Em tal estado, a atividade de destaque que desenvolveram foi o cultivo da videira, mas também se plantava milho e trigo.
Em Santa Catarina a presença mais significativa dos italianos foi no sul do estado, muito pela expansão daqueles que vinham do Rio Grande do Sul. Foram criadas várias colônias italianas em torno de cidades como Blumenau e Brusque. Blumenau, à época, era colônia alemã e teve a sua volta a formação das colônias Rio dos Cedros, Rodeio, Ascurra e Apoiúna.
Já no Paraná, os colonos italianos pioneiros estabeleceram-se na região litorânea, em 1878. Entretanto, Curitiba os atraiu e levou grande quantidade de italianos para a cidade e a região em torno. Como o Paraná faz fronteira com São Paulo e este integrava o cinturão que produzia o principal produto de exportação do Brasil na época, os italianos do Paraná foram, em grande parte, empregados nas lavouras de café.
Não só na região Sul do Brasil estiveram os imigrantes italianos, foram uma corrente imigratória de notória expressividade no Brasil. Ocuparam todas as regiões do Brasil, até mesmo locais longínquos como o Amazonas. A influencia da cultura e da presença italiana está expressa, entre outras coisas, na grande quantidade de sobrenomes italianos existentes no Brasil.
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• Imigração Italiana
História
“Que entendeis por uma Nação, Senhor Ministro? É a massa dos infelizes? Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos pão branco. Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho. Criamos animais, mas não comemos a carne. Apesar disso, vós nos aconselhais a não abandonarmos a nossa Pátria? Mas é uma Pátria a terra onde não se consegue viver do próprio trabalho?”
— Fala anônima de um italiano para o Ministro de Estado da Itália.[5] Séc. XIX

A imigração italiana no Brasil foi intensa, tendo como ápice a faixa de tempo entre os anos de 1880 e 1930. A maior parte dela se concentrou na região do estado de São Paulo.[6]
Os italianos começaram a imigrar em número significativo para o Brasil a partir da década de 1870. Foram impulsionados pelas transformações socioeconômicas em curso no Norte da península itálica, que afetaram sobretudo a propriedade da terra. Um aspecto peculiar à imigração em massa italiana é que ela começou a ocorrer pouco após a unificação da Itália (1861), razão pela qual uma identidade nacional desses imigrantes se forjou, em grande medida, no Brasil.
O século XIX foi marcado por uma intensa expulsão demográfica na Europa. O alto crescimento da população, ao lado do acelerado processo de industrialização, afetaram diretamente as oportunidades de emprego naquele continente. Estima-se que, entre 1870 e 1970, em torno de 28 milhões de italianos emigraram (aproximadamente a metade da população da Itália). Entre os destinos principais estavam diversos países da Europa, América do Norte e América do Sul.[7]
[editar] A Itália pobre


A pintura "Os Emigrantes", de Antonio Rocco.
Não apenas a população da Itália, mas de toda a Europa de um modo geral estava afundada na miséria no século XIX. A transição entre um modelo de produção feudal para um sistema capitalista afetou diretamente as condições sociais no continente europeu.[8] As terras ficaram concentradas nas mãos de poucos proprietários, havia altas taxas de impostos sobre a propriedade, fazendo o pequeno proprietário se endividar com empréstimos, havia a concorrência desigual com as grandes propriedades rurais, que fazia o preço dos produtos do pequeno proprietário ficarem muito baixos, empurrando essa mão-de-obra para as indústrias nascentes, que não conseguiam absorver essa massa de trabalhadores, saturando as cidades com desempregados. A medida que a disputa pelos mercados consumidores se acirrou, a concentração de terras nas mãos de poucos se agravou. Assim, milhões de camponeses, que antes eram pequenos proprietários rurais, desceram à condição de trabalhadores braçais (bracciante) nas grandes propriedades rurais. Mesmo aqueles que continuaram na condição de pequenos proprietários não conseguiam mais tirar seu sustento da terra. Isto porque as terras eram normalmente adquiridas por herança, e o filho mais velho adquiria a propriedade após a morte do pai, enquanto os outros filhos eram excluídos. Mesmo quando as terras eram divididas entre os filhos, o fracionamento acarretava no recebimento de um pedaço de terra muito pequeno, tornando impossível dali extrair o sustento.[8]
No século XIX, a população europeia cresceu duas vezes e meia, agravando ainda mais os problemas sociais naquele continente. Ao retratar o Vêneto oitocentista, região italiana de onde veio 30% dos imigrantes italianos no Brasil, o historiador Emilio Franzina escreveu que "podia-se morrer de inanição e que a única alimentação da classe rural não passava de polenta, uma vez que a carne de vaca era um mito e o pão de farinha de trigo inacessível pelo seu alto preço". Em outras regiões da Itália e em outros países europeus a situação não era diferente: a fome e a miséra assolavam a Europa. O camponês europeu nutria grande amor pelo seu pedaço de terra e toda a sua existência girava em torno da manutenção da sua propriedade. O seu mundo não ia além da comunidade a qual pertencia e seu ideal econômico era a autosuficiência. O Continente Americano aparece, nesse contexto, como um destino sonhado por milhões de europeus, que imigravam com a promessa de se tornarem grandes proprietários agrícolas.[8]
Foi assim que milhões de camponeses europeus, que não conheciam nada além do seu vilarejo de origem, tornaram-se emigrantes. Primeiramente, buscaram trabalho nas cidades. Em seguida, nos países vizinhos, numa migração sazonal quando a demanda por mão-de-obra aumentava, como em época de colheitas. Depois, regressavam para casa. Quando essas alternativas já não surtiam mais efeitos, buscaram a emigração transoceânica, sobretudo para os países das Américas. Estados Unidos, Canadá e Argentina eram países que tinham a capacidade de atrair grande número de imigrantes espontâneos. O Brasil, por sua vez, teve que apelar para uma migração subvencionada, na qual o próprio governo brasileiro pagava a passagem dos imigrantes.[8] Do fim das Guerras Napoleônicas até a década de 1930, 60 milhões de europeus emigraram. Destes, 71% foram para a América do Norte, 21% para a América Latina (sobretudo Argentina e Brasil) e 7% para a Austrália. Nota-se que a nacionalidade que mais imigrou para a América Latina foi a italiana, superando os espanhóis e os portugueses. Dos 11 milhões de imigrantes que foram para a América Latina, 38% eram italianos, 28% eram espanhóis e 11% eram portugueses.[9]
[editar] O Brasil como destino


Panfleto estimulando a imigração para o Brasil. Lê-se "Na América. Terras no Brasil para os italianos. Navios partindo toda a semana do porto de Gênova. Venham construir seus sonhos com a família. Um país de oportunidades. Clima tropical e abundância. Riquezas minerais. No Brasil vocês podem ter o seu castelo. O governo dá terras e ferramentas para todos".
Para compreender a imigração italiana no Brasil, é necessário analisar os aspectos do país durante o século XIX. Na primeira metade deste século, a Grã-Bretanha, superpotência da época, pressionou fortemente o Brasil para acabar com o tráfico negreiro que supria as necessidades de mão-de-obra com a importação de escravos da África. A Lei Eusébio de Queirós proibiu o tráfico negreiro em 1850 e, a partir deste momento, começou a falta de mão-de-obra nas zonas em que se expandia a cultura cafeeira. Isto foi limitadamente resolvido com a importação de escravos da Região Nordeste.
Nesta época, surgiu no Oeste Paulista um grupo de fazendeiros que, premido pela falta de mão-de-obra escrava, defendeu o uso da mão-de-obra livre nas plantações de café, opondo-se politicamente aos fazendeiros do Vale do Paraíba, donos de grandes plantéis de escravos. A nação brasileira passou então por um período de fermentação das idéias abolicionistas. Novas leis, como a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885) anunciavam o fim próximo da escravidão. Ao mesmo tempo, a população escrava envelhecia durante a segunda metade do século XIX sem que a reprodução natural da população fosse suficiente para suprir a necessidade de mão-de-obra nas lavouras que se expandiam ou para colonizar as terras ainda inexploradas no sul do Brasil. É comum afirmar-se erroneamente que a libertação dos escravos em 1888 desencadeou a falta de mão-de-obra nas lavouras quando os escravos libertos saíram das fazendas para as grandes cidades. Isto aconteceu em pequena escala, e somente no Vale do Paraíba onde a lavoura cafeeira estava em franca decadência de produção. Enquanto isto, na então província de São Paulo, as plantações de café prosperavam e necessitavam cada vez mais de mão-de-obra em quantidade muito superior à existente.


Navio com italianos no porto de Santos(1907).
Enquanto isso, a Itália passava pelas guerras pela Unificação Italiana. Após o fim destas, a economia italiana se encontrava debilitada, associada a problemas de alta taxa demográfica e desempregos. Os Estados Unidos (maior receptor de imigrantes) passaram a criar barreiras para a entrada de estrangeiros. Tais fatores levaram, a partir da década de 1870, ao início da maciça imigração de italianos para o Brasil.[10]
No final do século XIX e início do século XX, as ideias de darwinismo social e eugenia racial tiveram grande prestígio no pensamento científico mundial. Na medida em estas ideias eram aceitas e divulgadas pela comunidade científica nacional, o imaginário social e político brasileiro passou a considerar que os brasileiros eram incapazes de desenvolver o país por serem, em sua grande maioria, negros e mestiços.[11][12] A política de imigração passou então a ser planejada não apenas com o propósito de suprir a mão-de-obra necessária ou de colonizar territórios pouco ocupados, mas também para "branquear" a população brasileira. Neste projeto social, negros e mestiços iriam paulatinamente desaparecer da população brasileira por meio da miscigenação com as populações de imigrantes europeus.
Neste contexto, o imigrante italiano era considerado um dos melhores, pois além de ser branco, também era católico. Deste modo, sua assimilação seria fácil na sociedade brasileira e ele colaboraria para o "branqueamento" da população em geral.
Deve-se ressaltar não foi apenas o Brasil que implantou políticas de imigração que privilegiavam os grupos de imigrantes conforme as características raciais ou religiosas desejadas. Vários países do mundo preferiam até mesmo o imigrante do norte da Europa em vez dos que vinham do sul.
A imigração italiana para o Brasil tornou-se significante a partir da década de 1870 e transformou-se num fenômeno de massa entre 1887 e 1902, influenciando decisivamente no aumento da população do Brasil. Entre 1880 e 1924, entraram no Brasil mais de 3,6 milhões de imigrantes, dos quais 38% eram italianos. Considerando-se a faixa de tempo entre 1880 e 1904, os italianos representaram 57,4% dos imigrantes. Em um distante segundo lugar apareciam os portugueses, seguidos dos espanhóis e dos alemães. O Brasil posicionou-se, assim, como o terceiro maior país receptor de imigrantes italianos entre os anos 1880 e a I Guerra Mundial, atrás apenas dos Estados Unidos (5 milhões de italianos entre 1875 e 1913) e da Argentina (2,4 milhões).[13]
A imigração italiana para o Brasil atingiu seu ápice no final do século XIX. Porém, por volta de 1900, aparecem na imprensa italiana notícias de péssimas condições de vida de emigrantes italianos que não podiam abandonar as fazendas de café onde trabalhavam, pois tinham dívidas principalmente relativas ao pagamento dos custos de suas viagens. Isto faz com que, em 1902, o governo da Itália emita o decreto Prinetti proibindo a imigração subsidiada de cidadãos italianos para o Brasil. O fluxo de imigrantes diminui bruscamente já que, a partir de então, cada cidadão italiano que quisesse emigrar para o Brasil deveria ter dinheiro para pagar a própria passagem.
Imigração italiana para o Brasil por períodos [14]

Período 1884-1893 1894-1903 1904-1913 1914-1923 1924-1933 1934-1944 1945-1949 1950-1954 1955-1959 Total
Quantidade 510.533 537.784 196.521 86.320 70.177 N/D 15.312 59.785 31.263 1.507.695
Canção dos imigrantes toscanos
"Itália bela, mostra-te gentil
e os filhos teus não a abandonarão
senão eles vão todos para o Brasil
e não se lembram mais de voltar
ainda aqui haveria trabalho
sem ter que emigrar para a América
o século presente está nos deixando
e o novecentos se aproxima
eles têm a fome pintada na cara
e para saciá-los não existe a medicina
a cada momento escutamos dizer:
e vou para lá onde tem a colheita do café".

Canção dos imigrantes
(Final do século XIX)[15][16]


Uma família de imigrantes italianos. Canção dos imigrantes vênetos
"América América
lá se vive que
é uma maravilha
vamos ao Brasil
com toda a família
América América
se ouve cantar
vamos ao Brasil
Brasil a povoar"

Canção dos imigrantes
(Final do século XIX)[17]

[editar] A questão racial
A questão racial foi decisiva na política imigratória brasileira. O imigrante ideal teria que ser agricultor e, mais do que isso, branco e que emigrava com a família. Neste momento, imigrante virou sinônimo de europeu, pois negros e mestiços foram automaticamente excluídos dos projetos de colonização baseados na distribuição de terras. Nos contratos firmados por agenciadores, os imigrantes eram selecionados de acordo com suas origens regionais (o que indicava que a categoria genérica de "europeu" não era absoluta ou exclusiva). Como exemplo, no decreto 5.663, de 1873, celebrado pelo governo imperial com Joaquim Caetano Pinto Júnior, no topo da lista apareciam alemães e austríacos, portugueses e espanhóis foram excluídos, mas incluía bascos e italianos do Norte. Porém, a política imperial quase sempre não se prendia a escolhas minuciosas da região de origem, sendo o europeu genérico o alvo preferido da política imigrantista. Por muitas décadas os alemães permaneceram no topo da preferência entre os imigrantes, por sua "índole" e seu "pendor" agrícola. A situação se alterou no final do século XIX, quando cresceu a corrente contrária à imigração alemã, devido à formação de quistos germânicos no sul do Brasil, que não se assimilavam dentro da sociedade brasileira, o que passou a ser considerado uma ameaça.[18]
Recorrer à imigração de trabalhadores africanos foi uma ideia prontamente descartada pois, para a elite, isso representaria um reestabelecimento do tráfico negreiro e um aumento da "africanização" do Brasil. O grande número de negros e mestiços, majoritários na população brasileira, causava preocupação entre a elite. Chineses, indianos e outros asiáticos também foram excluídos uma vez que, ao lado dos africanos, eram considerados pertencentes às "raças inferiores", em um momento em que as ideias de eugenia racial tinham grande prestígio no pensamento científico. O decreto 528, de 1890 foi explícito ao restringir a entrada no Brasil de "indígenas da Ásia e da África".[18]
O privilégio concedido aos europeus também não era irrestrito, uma vez que criminosos, mendigos, vagabundos, portadores de doenças contagiosas, inválidos, velhos, ciganos, ativistas políticos, refugiados, etc, eram listados como "indesejáveis". Os alemães também passaram a figurar na lista dos "indesejáveis", devido à sua tendência à não assimilação. Neste momento, a questão da "latinidade" ganhou força, uma vez que o governo pretendia formar um crisol de raças, que se miscigenaria, caldearia, fundindo-se e assimilando imigrantes e descendentes, alcançando uma meta que seria uma totalidade inequivocadamente brasileira. No pensamento da elite, se formaria no Brasil um povo mestiço, mas onde deveria predominar as características da raça branca, diluindo a presença das "raças inferiores" (negros e índios).[18]
Assim, italianos, portugueses (e, às vezes, espanhóis), pelo fato de serem povos de cultura latina, próxima à matriz luso-brasileira, apareciam como os imigrantes preferenciais, provavelmente com ênfase nos italianos, pois também havia um certo sentimento antilusitano, inclusive nos meios intelectuais. Assim, a política migratória brasileira privilegiou italianos e portugueses, considerados "assimiláveis", tratou com reservas alemães e japoneses (menos propensos à assimilação) e excluiu por completo africanos e asiáticos (a restrinção à migração de asiáticos só foi revogada em 1907, pouco antes da chegada dos primeiros imigrantes japoneses).[18]
[editar] A escolha em imigrar para o Brasil
A política imigratória brasileira teve duas vertentes: uma era atrair imigrantes e fazer deles proprietários rurais e a outra focava em simplesmente obter braços para as lavouras de café. Em consequência, os imigrantes podiam optar entre rumar para os núcleos coloniais ou para as fazendas. Os núcleos coloniais apenas vigoraram nas regiões onde não havia plantações de café, uma vez que, nas regiões cafeeiras, as terras disponíveis à colonização eram escassas e marginais. Ademais, a formação de novos núcleos coloniais dependia da autorização do parlamento, e os representantes obstacularizavam o fluxo exagerado de imigrantes para as colônias, visando garantir o fluxo da mão de obra necessária para as fazendas de café. Isso, todavia, não impediu a formação de núcleos coloniais onde havia plantações de café, desde que aqueles não fizessem concorrência com estes.[13]
Para atrair imigrantes, o governo efetuava contratos com empresas ou particulares. O mais famoso foi o firmado entre o governo federal e a Companhia Metropolitana, que pretendia trazer um milhão de imigrantes ao Brasil num espaço de dez anos. Embora essa meta não tenha sido alcançada, não eram raros os contratos que estipulavam a vinda de 50 ou 60 mil imigrantes. Em 1894, os serviços de imigração foram transferidos do governo federal para os estados-membros. Apenas os estados mais ricos, como São Paulo, puderam prosseguir na política de imigração, em consequência. A passagem gratuita de navio oferecida pelo governo brasileiro surtiu grande efeito na Itália.[13] A imigração subsidiada deu a oportunidade para que milhares de camponeses e lavradores assalariados, que dificilmente conseguiriam dinheiro para pagar suas próprias passagens, pudessem fazer a viagem migratória. A imigração subvencionada constituiu, em São Paulo, 89% da imigração total entre 1891 e 1895. Embora o governo estipulasse que apenas agricultores aptos ao trabalho deveriam ser recrutados para imigrarem para o Brasil, na prática os agentes e subagentes contratados na Europa para atrair imigrantes recrutavam qualquer um. Isso acarretava em litígios logo na chegada, uma vez que no meio dos jovens camponeses também chegavam velhos, crianças de peito e mulheres em gravidez avançada. Os problemas não paravam por aí, uma vez que era comum que imigrantes fossem forçados a pagar a sua passagem, mesmo quando tinham direito à passagem gratuita.[13]
Os agentes de emigração foram os grandes responsáveis pela vinda em massa de italianos para o Brasil. Em 1892, existiam na Itália 30 agências de emigração e 5.172 subagentes que perambulavam pelo país persuadindo as pessoas a irem para o Brasil. Em 1895, o número de agências havia crescido para 33 e o de agentes para 7.169. Os agentes eram contratados pelas companhias de imigração e eram conhecidos pela sua falta de honestidade. Passavam pelas aldeias nos dias de feira ou mercado, vendendo uma ideia positiva do Brasil, dizendo que era o país do ganho assegurado e onde a propriedade rural estava ao alcance da mão. Os agentes focavam nas famílias miseráveis e indigentes, às quais prometiam passagem gratuita e a possibilidade de, em poucos anos, juntarem dinheiro para poder retornar à Itália e ali comprar um pedaço de terra.[13] A companhia de imigração La Veloce pagava entre 5 e 25 dólares para o agente que conseguisse convencer uma família a imigrar para o Brasil.[19]
A imprensa da época comparava os agentes aos traficantes de escravos. As aldeias eram inundadas com panfletos e cartas falsificadas de emigrantes que já tinham partido. Porém, muitas vezes essas estratégias não eram suficientes uma vez que, mesmo premidos pela miséria e sendo persuadidos a imigrarem para um país de "ganho assegurado", também era necessário que quem estivesse acenando a possibilidade de emigração fosse uma pessoa que ocupasse um papel na sociedade para oferecer um mínimo de garantias. Nestes casos, eram os próprios prefeitos e vigários e, sobretudo, os secretários municipais e os mestres-escolas que estimulavam as pessoas a emigrar.[13]
Os imigrantes tinham que enfrentar uma viagem naval terrível, amontoados no navio como passageiros de terceira classe. Não eram raros os envenenamentos por comida estragada, mortes por epidemias e ondas de furtos. Ao chegarem ao porto brasileiro, se encantavam com o verde intenso da natureza exuberante do país e estranhavam os homens e mulheres de pele escura que perambulavam pelo porto, os quais os italianos nunca tinham visto em seu país de origem. Encaminhados para as fazendas, muitos imigrantes tiveram que enfrentar uma vida de semi-escravidão nas plantações de café, bem diferente dos relatos de paraíso vendido pelos agentes que os persuadiram a abandonar a Itália. Em consequência, um número elevado de imigrantes retornou para a Itália ou re-emigrou para outros países. Entre 1882 e 1914, entraram no estado de São Paulo 1.553.000 imigrantes e saíram 695.000, ou seja, 45% do total.[13] Entre aqueles que voltaram para a Itália, ficou na lembrança histórias trágicas que ainda hoje permanecem na memória dos filhos e netos desses imigrantes retornados. Mas também ficou na lembrança memórias positivas do Brasil, das plantações de café, das frutas tropicais que nunca mais iriam provar e, de certo modo, um agradecimento à terra que os havia permitido viver por algum tempo.[19] Já aqueles que permaneceram no Brasil e ali reconstruíram suas vidas, influenciaram na formação dessa nação em diversos aspectos e contribuíram para o desenvolvimento do país social e economicamente.[13]
[editar] A colonização italiana no Sul


Plantação da uva em Caxias do Sul.
No Brasil, havia grande disponibilidade de terras e um grande vazio demográfico, que causava preocupação no governo. Atrair imigrantes europeus para ocupar essas regiões foi uma política que existia desde o início do século XIX. Entre 1818 e 1824, foram feitas duas tentativas de colonização por imigrantes, sendo elas Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro, com suíços, e São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, com alemães. Em 1867, as terras públicas disponíveis à colonização mediam 503.965 hectares e em 1861 existiam 33 colônias habitadas por 33.970 estrangeiros. Quatorze anos depois, o número de colônias crescera para 89, sendo 66 delas no Sul (de São Paulo ao Rio Grande do Sul).[13]
Esse modelo de colonização era bastante limitado, devido à falta de disponibilidades financeiras para levar a cabo um projeto desse porte e à desorganização das iniciativas que envolviam particulares, o Estado e as províncias. Em decorrência, das 96 colônias criadas entre 1846 e 1860, 66 desapareceram sem deixar sinal. A primeira lei orgânica para tratar da colonização data de 1867, integrada por sucessivos decretos nos anos posteriores, até o abandono da política de colonização, no ano de 1914. Os imigrantes recebiam diversos auxílios governamentais, como viagem paga entre o porto do Rio de Janeiro até o núcleo colonial, recebimento de um lote de terra para a família imigrante, que poderia ser pago em várias prestações, uma casa provisória e auxílio para construir uma nova moradia.[13]
Nessa época, foram poucas as colônias que conseguiram prosperar, com exceção das colônias alemãs, mais bem organizadas devido às iniciativas de particulares. O governo brasileiro já assistia, com apreensão, à progressiva germanização das províncias sulinas, haja vista a sua organização e a sua impermeabilidade em relação à população brasileira. É nesse momento que, com a crise afetando as zonas rurais na Itália, se incentivou a vinda de colonos italianos para a região. O Sul do Brasil, nesse período, exercia um poder de atração de italianos, pois contava com disponibilidade de terras, atraindo os que aspiravam se tornar proprietários rurais. Ademais, as notícias de que o clima no Brasil meridional era suficientemente semelhante ao italiano para assegurar o cultivo de produtos aos quais estavam acostumados e tinham conhecimento contribuiu para a corrente migratória italiana ter se concentrado quase que exclusivamente nos estados sulinos, nesse primeiro período de imigração.[13] É importante salientar que a historiografia sempre deu destaque à questão do clima "temperado" do sul como um fator de atração dos imigrantes para a região. Na realidade, a questão climática teve um peso reduzido na escolha em imigrar para aquela região. O que, de fato, contribuiu para esse modelo de colonização europeia ter predominado no sul é que, desde o início, essa região foi a que mais sistematicamente investiu nesse modelo de povoamento com pequenos proprietários estrangeiros. Esse modelo de colonização também foi tentado em outras partes do Brasil, mas os parcos recursos gastos e a falta de organização geraram colônias que prontamente fracassaram.[18]
Os imigrantes que se dirigiram para o Sul do Brasil eram quase todos do Norte da Itália. Isto porque a imigração de italianos do Sul da Itália para o Brasil só se intensificou a partir de 1895, quando a imigração italiana para o Sul do Brasil já estava em plena decadência, pois o fluxo migratório estava se dirigindo maciçamente para o estado de São Paulo. No Rio Grande do Sul, vênetos e lombardos corresponderam a 87% dos imigrantes. Em Santa Catarina, trentinos, vênetos e lombardos formavam a maioria, além de um número reduzido de emilianos. No Paraná, no início da imigração, os vênetos corresponderam a 90% dos imigrantes, caindo para 70% mais tarde. Em 1908, dos 52 núcleos coloniais habitados por italianos no Paraná, 46 eram habitados por vênetos, 3 por meridionais, 1 por friulanos e 1 por imigrantes de várias regiões.[13]
Os italianos tiveram que ocupar lotes localizados no planalto gaúcho, região coberta pela mata, sem vias de comunicação, tendo que desenvolver uma agricultura de subsistência. Isto porque as terras mais férteis já estavam ocupadas pelos alemães, estimados em número de 70 mil indivíduos, que gozavam de certa prosperidade, devido à sua organização. A emigração italiana para a região foi contínua entre 1875 e 1892, quando entrou em decadência. A colônia que apresentava mais características italianas era Caxias do Sul, que no ano de 1898 já contava com 25 mil habitantes, quase todos italianos. Os colonos apresentavam uma alta taxa de reprodução, com uma média de 8-10 filhos, provocando um excedente populacional que tinha que buscar terras virgens em outras áreas.[13]
Essas colônias italianas ficavam normalmente em regiões isoladas por matas. Esse isolamento representou barreiras enormes ao seu desenvolvimento, como para escoar a sua produção devido às estradas que foram precariamente construídas e para encontrar mercado consumidor para seus produtos, além de trazer problemas como a falta de acesso à saúde e à educação. Por outro lado, esse isolamento permitiu a manutenção de usos e costumes italianos, onde foi possível a "reprodução orgânica de um tipo de sociedade vêneta de fins do século XIX, tradicionalista e católica". A influência italiana ficou visível no panorama arquitetônico da região, onde até as casas de madeira tinham telhado inclinado para facilitar o deslizamento de uma neve que não viria mais. Mas a influência italiana foi além disso, sendo visível no modelo de família patriarcal, na alimentação (pão, polenta, toucinho) e também na língua, sendo que o dialeto vêneto predominou na região por muitos anos e, ainda hoje, empréstimos linguísticos vênetos são usados nas áreas de colonização italiana.[13]
Inicialmente, 95% dos italianos nos estados sulinos estavam dedicados à agricultura. Isso se devia à uma carência de demanda em algumas áreas, sobretudo a industrial, praticamente inexistente, e no artesanto urbano. Isso fazia com que alguns operários migrassem para os países do Prata (Argentina e Uruguai) em busca de outros campos de trabalho. O subproletariado que não desejava viver do trabalho agrícola tinha que procurar as capitais, como Porto Alegre. Com o decorrer do tempo, tanto nas colônias como nos centros urbanos, assistiu-se à uma diversificação das atividades e italianos passaram a se dedicar também ao comércio. Em 1920, as fábricas pertencentes a italianos eram apenas 227 no Rio Grande do Sul, 56 em Santa Catarina e 61 no Paraná, mostrando que a acumulação de poupança não foi muito satisfatória entre os imigrantes italianos no Sul.[13]
Os italianos se espalharam por várias partes do Rio Grande do Sul, e muitas outras colônias foram criadas por particulares, que vendiam as terras aos italianos. Nessas terras, os imigrantes italianos começaram a cultivar uvas e a produzir vinhos. Atualmente, essas áreas de colonização italiana produzem os melhores vinhos do Brasil.
Em Santa Catarina, os colonos que vieram do norte da Itália no final do século XIX fugindo da pobreza se estabeleceram principalmente no sul do estado. Hoje seus descendentes representam quase metade da população catarinense e ocupam posição de destaque na economia através da vinicultura e da produção de grãos, queijos e embutidos. O turismo rural encontra terreno fértil na região de Criciúma, Urussanga e Orleans, onde antigos casarões coloniais e cantinas típicas dividem a atenção com obras de arte como o Paredão do Zé Diabo e o Museu ao Ar Livre, que retrata a vida dos primeiros imigrantes.
Nas colônias do Sul do Brasil, os imigrantes italianos puderam se agrupar no seu próprio grupo étnico, onde podiam falar seus dialetos de origem e manter sua cultura e tradições. A imigração italiana para o Brasil meridional foi muito importante para o desenvolvimento econômico, assim como para a cultura e formação étnica da população.
[editar] Mão-de-obra italiana para o café no Sudeste


O Memorial do Imigrante, antiga Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo.
Embora tenha sido a região Sul a pioneira na imigração italiana, foi a Região Sudeste aquela que recebeu a maioria dos imigrantes. Isto se deve ao processo de expansão das lavouras de café em São Paulo (e, em menor medida, também em Minas Gerais). Com o fim do tráfico negreiro e o sucesso da colonização italiana no Sul, o Governo Paulista passa a incentivar a imigração italiana com destino aos cafezais. A imigração subsidiada de italianos começou na década de 1880. Os próprios donos das fazendas de café tratavam de atrair imigrantes italianos para as suas propriedades. Os proprietários de terras pagavam a viagem e o imigrante tinha que se propor a trabalhar nas fazendas para devolver o valor da passagem paga.
Os imigrantes italianos, na maioria, imigravam para o Brasil em famílias e eram chamados de colonos. O governo brasileiro preferia atrair famílias inteiras para o Brasil. Nas plantações de café, todos trabalhavam: homens, mulheres e até crianças.[3] Os fazendeiros, acostumados a trabalhar com escravos africanos, passaram a lidar com trabalhadores europeus livres e assalariados. Todavia, muitos italianos nas fazendas de café foram submetidos a jornadas de trabalho maçantes como as enfrentadas pelos afro-brasileiros e muitos eram tratados de maneira semelhante a dos escravos. Essa situação gerou muitos conflitos entre os imigrantes italianos e os fazendeiros brasileiros, causando rebeliões e revoltas. As notícias de trabalho semi-escravo chegaram à Itália, e o governo italiano passou a dificultar a imigração para o Brasil.[20]
O estado de São Paulo absorveu a maioria dos imigrantes italianos que vieram para o Brasil. Este estado foi o destino de 44% da imigração italiana para o Brasil entre os anos de 1820 e 1888, de 67% entre 1889 e 1919, com ênfase entre 1900 e 1909, quando atraiu 79%. O peso demográfico italiano no estado foi enorme: em 1934, italianos e seus filhos representavam 50% da população de São Paulo. O estado oferecia muitas vantagens para quem quisesse imigrar: pagava 75.000 réis por adulto, a metade por meninos de 7 a 12 anos e 20% pelas crianças de 3 a 7. A Sociedade Promotora de Imigração foi criada com o intuito de incentivar a imigração. Não era difícil atrair imigrantes: os jornais paulistas publicavam anúncios convidando os estrangeiros já residentes a chamar parentes para o Brasil, que teriam passagem gratuita. Na sede europeia na Itália, somavam-se milhares de pedidos de pessoas dispostas a ir para o Brasil. Em 1887, foi edificada a Hospedaria de Imigrantes no bairro do Brás, onde os imigrantes permaneciam por no máximo oito dias. Lá, eles eram visitados por fazendeiros que lhes ofereciam contratos de trabalho. O contrato era estipulado de forma verbal, sem nenhuma garantia de que fosse integralmente cumprido conforme o combinado. Uma vez aceito o acordo, os imigrantes eram transportados de trem, custeado pelo estado, até a fazenda.[13]
Ao chegarem à fazenda, os colonos se deparavam com as péssimas condições que os aguardavam. As fazendas eram um mundo à parte, isoladas por horas, às vezes dias, dos centros urbanos, sem acesso médico, distantes das igrejas, raramente com acesso à escola, tinham que dormir em cima de palha, em casas minúsculas, sem as mínimas condições de higiene. As condições de trabalho eram degradantes, com frequentes abusos por parte do fazendeiro. Houve rebeliões dos imigrantes, em alguns casos envolvendo colonos que chegavam a assassinar o fazendeiro (o caso mais emblemático foi do fazendeiro Diogo Salles, irmão do presidente Campos Salles, que tentou estuprar a irmã do colono italiano Angelo Longaretti e acabou morto por ele). Mas as revoltas eram exceções, pois os camponeses italianos normalmente agiam de forma apática, pois provinham eles próprios de uma sociedade que via a resignação como uma virtude cristã. Ademais, havia o afluxo contínuo de imigrantes e os trabalhadores descontentes eram prontamente substituídos por outros. Embora os italianos estivessem habituados a levar uma vida de privações em seu país de origem, a vida nas plantações restringia de tal forma a liberdade que se tornava insuportável.[13]
A fazenda era um mundo fechado e o fazendeiro era o senhor absoluto, impondo leis próprias. Habituado a lidar com escravos, o tratamento despendido aos imigrantes não era muito diferente. Os colonos eram vigiados e tinham seu tempo controlado por capangas, com toques de sino marcando o início e o fim do trabalho. Os abusos se verificavam sobretudo na violência física generalizada, inclusive com uso de chicote, como no tempo da escravidão. O fazendeiro raramente era punido pelas autoridades por seus abusos, o que estimulava a manutenção do seu comportamento e frequentes abusos econômicos. Dentre os quais, a aplicação de multas, confisco dos produtos dos colonos, adulteração de pesos e medidas e retenção do salário. Aliás, o endividamento do colono era uma estratégia usada para o manter preso à fazenda e impedir sua saída. Neste caso, apenas restava a fuga como forma de escapar da plantação. De fato, seria muito difícil romper com a mentalidade escravista de forma célere, e isso só ocorreu anos mais tarde.[13]
[editar] O Decreto Prinetti e o refluxo migratório
No período da grande imigração, companhias de navegação como a Navigazione Generale Italiana, a Veloce, a Transporte Maritimes, a Ligure-Brasiliana e o vetor Ottavio Zino obtiveram licença do governo italiano para transportar imigrantes que tinham suas passagens pagas pelo governo de São Paulo (imigração subsidiada). Houve uma troca do fluxo de escravos africanos por uma aliciação de trabalhadores italianos, ávidos por enriquecimento rápido, transformando companhias de navegação em aliciadoras promotoras de um novo modelo de tráfego humano. A violência da escravidão foi substituída pela mentira persuasiva de que o Brasil era o país do enriquecimento rápido. Por muitos anos, o governo italiano não se preocupou com a emigração. Pelo contrário, a via com bons olhos, pois naquele momento de depressão econômica evitaria-se, com a migração, que a ordem interna fosse abalada com a permanência daquela massa descontente de trabalhadores, mantendo o equilíbrio social e o status quo intacto. Além dos mais, os emigrantes engordavam a economia italiana por meio das remessas que enviavam para o país natal.[13]
Todavia, em decorrência de um relatório sobre as condições de trabalho nas fazendas brasileiras, a Itália assinou o Decreto Prinetti (que na realidade foi uma Portaria) em 26 de março de 1902. O relatório denunciava as situações vividas pelos imigrantes nas plantações cafeeiras, com ênfase no período pós-abolição. Essa portaria proibiu a migração subsidiada de italianos para o Brasil, mas não restringiu a migração espontânea, ou seja, os italianos que quisessem imigrar para o Brasil teriam que comprar suas próprias passagens, e não depender da passagem paga pelo governo brasileiro.[21] São Paulo prontamente sentiu os efeitos dessa decisão, com a brusca queda na migração italiana, acarretando em dificuldades de se achar trabalhadores. Mesmo assim, a imigração subsidiada continuou a existir no Brasil até 1927, beneficiando outros imigrantes, como os japoneses. Para agravar a situação, nos primeiros anos do século XX houve uma grande crise cafeeira, que afetou a economia local, fazendo não apenas o fluxo migratório cair, mas também acarretou na saída de milhares de imigrantes do Brasil.[13]
O Brasil, a partir de então, deixou de ser um destino atraente para os imigrantes da Itália. Em decorrência, entre 1903 e 1919 a imigração italiana, que havia sido hegemônica em São Paulo nos anos anteriores, caiu para o terceiro lugar, sendo superada pela imigração de espanhóis e portugueses. A procedência regional também sofreu abalos: antes, predominaram os vênetos e os lombardos, que passaram a perder importância frente aos italianos do Sul, sobretudo calabreses e campânios.[13]
[editar] Os italianos nas cidades brasileiras


Estabelecimento comercial de imigrantes italianos na cidade de Jequié, Bahia, ano de 1930.
Embora a imigração italiana no Brasil fosse quase que exclusivamente rural, com o passar do tempo, muitos dos imigrantes começaram a sair das zonas rurais. Nas fazendas de café, a situação de semi-escravidão culminou, em 1902, num decreto do governo italiano proibindo a imigração subsidiada para o Brasil. Muitos imigrantes voltaram para a Itália, enquanto muitos se instalaram nos centros urbanos brasileiros. O imigrante italiano no meio urbano brasileiro foi de extrema importância, participando ativamente no desenvolvimento do comércio e de atividades urbanas. Em 1901, 90% dos operários fabris de São Paulo eram italianos. Foram um dos protagonistas no desenvolvimento dos maiores centros urbanos do Brasil.[3]
Ao lado de brasileiros e de outros imigrantes, os italianos trabalharam ativamente nas fábricas que se multiplicavam pelo País. Os salários eram muito baixos, o que forçava os imigrantes a viverem amontoados em cortiços, podendo viver em uma única casa diversas famílias. Surgem, então, bairros como o Brás e o Bixiga, ainda hoje ligados ao passado operário italiano. O trabalho não era exclusivo dos homens: crianças e mulheres italianas formavam parte significativa dos trabalhadores. Com o passar do tempo, o setor terciário das cidades brasileiras cresceu e muitos imigrantes italianos deixaram as indústrias para trabalhar como artesãos autônomos, pequenos comerciantes, motoristas de ônibus e táxi, vendedores de frutas e vegetais, sapateiros, garçons de restaurante.[3] Surgiram então pessoas que se destacaram. O exemplo mais notável é de Francesco Matarazzo, criador do maior complexo industrial da América Latina do início do século XX, tendo sido um dos marcos da modernização no Brasil. Desta forma, membros da comunidade italiana passaram a compor a elite paulista: a maioria dos primeiros grandes industriais de São Paulo vinham da colônia italiana.[10]
Regiões de origem
Imigração italiana para o Brasil (1876-1920)[22]

Região de Origem Número de Imigrantes Região de Origem Número de Imigrantes
Vêneto
365.710 Sicília
44.390
Campânia
166.080 Piemonte
40.336
Calábria
113.155 Puglia
34.833
Lombardia
105.973 Marche
25.074
Abruzzo-Molise
93.020 Lácio
15.982
Toscana
81.056 Úmbria
11.818
Emília-Romagna
59.877 Ligúria
9.328
Basilicata
52.888 Sardenha
6.113
Total : 1.243.633
A imigração italiana no Brasil ficou marcada por ter vindo, sobretudo, do Norte da Itália. A grande corrente migratória veio do Vêneto, no Nordeste italiano, região outrora com grandes problemas nas zonas rurais. Foi notória, porém, a presença de pessoas originárias do Centro e Sul da Itália, sobretudo no início do século XX, nas plantações de café paulistas.
Os italianos do Norte emigravam preferencialmente para outros países da Europa. O Brasil e a Argentina foram os únicos países fora da Europa que conseguiram atrair uma migração significativa oriunda do Norte da Itália. Os italianos do Sul, por sua vez, preferiam a imigração transoceânica, sendo os Estados Unidos o destino principal.[23]
Os vênetos predominaram entre os imigrantes italianos no Brasil, enquanto os toscanos eram os mais numerosos dentre aqueles oriundos do Centro da Itália. Entre os do Sul, destacavam-se os campânios, seguidos dos calabreses e abruzenhos. De fato, o Brasil recebeu imigrantes de quase todas as regiões da Itália. Apenas quatro regiões não contribuíram com praticamente nenhuma imigração para o Brasil: Liguria, Úmbria, Lazio e Sardenha.[13]
As regiões de origem dos imigrantes variaram no decorrer do tempo. Entre 1878 e 1886, praticamente somente chegaram vênetos e lombardos e meridionais ao Brasil. Entre 1887 e 1895 ficou nítida a predominância dos italianos do Norte. A partir de 1893-95 cresceu a participação dos italianos do Sul, que passaram a predominar a partir de 1898. O Brasil foi o destino principal da imigração transoceânica dos habitantes da Emilia-Romagna e da Toscana, entre os anos de 1887 e 1902. Também recebeu 80% da imigração transoceânica oriunda do Vêneto e Friul (mas apenas 20% da sua imigração global).
Os vênetos e os lombardos eram os preferidos dos fazendeiros brasileiros, pois eram valorizados por sua parcimônia, frugalidade e docilidade. Em alguns contratos de introdução de imigrantes, aqueles provenientes da Sicília, da Romanha e das Marcas eram explicitamente excluídos, pois eram considerados rebeldes.[13]
Os vênetos eram pequenos proprietários de terra na Itália e viam na imigração para o Brasil a possibilidade de se tornarem grandes fazendeiros. Os imigrantes do Sul da Itália, por sua vez, eram braccianti, gente muito pobre que trabalhava em terras alheias.[3] Ademais, os vênetos são mais claros que a maioria dos italianos e, em contrapartida, os meridionais são mais morenos.[24] O governo brasileiro incentivava a vinda de europeus para o Brasil, dentre outros motivos, para "branquear" a população brasileira.[25]
Os italianos que foram para o Brasil podem ser classificados em três grupos distintos: os meridionais, os setentrionais e os pequenos proprietários vênetos. Os meridionais vieram sobretudo das regiões de Campânia e da Calábria, ao sul da Itália, e emigravam preferencialmente sem família. Privilegiavam as ocupações urbanas (o que não quer dizer que não tenham, também, se dedicado à agricultura). Os setentrionais provinham das regiões ao norte da Itália e eram os trabalhadores braçais sem terra que foram trabalhar ao lado dos escravos e ex-escravos nas plantações de café. Por fim, os proprietários vênetos foram aqueles encaminhados para os núcleos coloniais no interior do Brasil.[13][26]
Rio Grande do Sul
Ver artigo principal: Imigração italiana no Rio Grande do Sul


Parte da réplica da antiga Caxias do Sul, no parque de exposições da Festa da Uva, em Caxias do Sul, Brasil.
O estado do Rio Grande do Sul recebeu a primeira leva de imigrantes italianos a chegar ao Brasil. Os primeiros imigrantes desembarcaram em 1875, para substituírem os colonos alemães que, a cada ano, chegavam em menor quantidade. Os colonos italianos foram atraídos para a região para trabalharem como pequenos agricultores e lhes foram reservadas terras selvagens na encosta da Serra Gaúcha.
Na região foram criadas as primeiras três colônias italianas: Conde D’Eu, Dona Isabel e Campo dos Bugres, atualmente as cidades de Garibaldi, Bento Gonçalves e Caxias do Sul, respectivamente. Com o tempo, os italianos passaram a subir as serras e a colonizá-las. Com o esgotamento de terras na região, esses colonos passaram a migrar para várias regiões do Rio Grande. A base da economia na região italiana do Rio Grande foi, e continua a ser, a vinicultura.
No centro do estado foi criada a Quarta Colônia de Imigração Italiana, o primeiro reduto de italianos fora da Serra Gaúcha e que originou municípios como Silveira Martins, Ivorá, Nova Palma,Faxinal do Soturno, Dona Francisca e São João do Polêsine. Nesse último, está a localidade de Vale Vêneto, nome dado para fazer homenagem a tal região italiana.
Outras colônias italianas foram criadas e deram origens a cidades como Caxias do Sul, Farroupilha, Bento Gonçalves, Garibaldi, Flores da Cunha, Antônio Prado, Veranópolis, Nova Prata, Encantado, Nova Bréscia, Coqueiro Baixo, Guaporé, Lagoa Vermelha, Soledade, Cruz Alta, Jaguari, Santiago, São Sepé, Caçapava do Sul e Cachoeira do Sul. Essas são as principais colônias italianas do estado. Estima-se que imigraram para o Rio Grande 100 mil italianos, entre 1875 e 1910. Em 1900, já viviam no estado 300 mil italianos e descendentes.
Atualmente, vivem no Rio Grande do Sul três milhões de italianos e descendentes, representando cerca de 30% da população do estado.[28]
[editar] Santa Catarina


Casa de pedra em Nova Veneza, marco da colonização italiana.
Cerca de 95% dos italianos que chegaram ao estado de Santa Catarina eram do norte da Itália, dos atuais estados do Vêneto, Lombardia, Friul-Veneza Júlia e Trentino-Alto Ádige. Porém, os primeiros imigrantes italianos que chegaram ao estado, em 1836, eram oriundos da Sardenha, fundando a colônia de Nova Itália (atual São João Batista).[29] Esses imigrantes pioneiros chegaram em número reduzido e pouco influenciaram na demografia do estado. Foi mais tarde, a partir de 1875, que passou a ser assentado no estado número maior de imigrantes italianos. Foram criadas, assim, as primeiras colônias italianas do estado: Rio dos Cedros, Rodeio, Ascurra e Apiúna, todas estas no entorno da colônia alemã de Blumenau, servindo assim, os italianos, como a ponta de lança deste núcleo germânico. Neste mesmo ano, imigrantes do Tirol Italiano fundaram Nova Trento, e em 1876 foi fundado Porto Franco (hoje Botuverá). Os italianos instalados nestas primeiras colônias provinham majoritariamente da Lombardia e do Tirol Italiano, o qual pertencia na época à Áustria.
Diversas outras colônias foram criadas nos anos seguintes, sendo o sul de Santa Catarina o principal foco de colonização italiana do estado. Nesta região foram fundadas Azambuja em 1877, Urussanga em 1878, Criciúma em 1880, a colônia mista de Grão-Pará em 1882, o núcleo Presidente Rocha (hoje Treze de Maio) em 1887, os núcleos de Nova Veneza, Nova Belluno (hoje Siderópolis) e Nova Treviso (hoje Treviso) em 1891, e Acioli de Vasconcelos (hoje Cocal do Sul) em 1892. No sul do estado os imigrantes provinham principalmente do Vêneto, e, em menor número, da Lombardia e de Friul-Veneza Júlia. Os imigrantes se dedicaram principalmente ao desenvolvimento da Agricultura e à mineração do carvão, sendo eles imprescindíveis na formação desta região. Os eventos que mais caracterizam essa colonização no sul do estado são as festas típicas, como a festa do vinho e o Ritorno alle origine, ambos no município de Urussanga.
A chegada de Italianos ao estado terminou em 1895, quando um número já reduzido de colonos chegaram para colonizar a comunidade de Rio Jordão, no sul do estado. Principalmente pela guerra civil que estourou no país com a Revolução federalista e pelo contrato da república que deixava a imigração subsidiada a cargo dos estados, os italianos pararam de adentrar aos portos catarinenses.
A partir de 1910, milhares de gaúchos migraram para Santa Catarina, entre eles, milhares de descendentes de italianos. Esses colonos ítalo-brasileiros colonizaram grande parte do Oeste catarinense. Atualmente, vivem em Santa Catarina três milhões de italianos e descendentes, representando cerca da metade da população, sendo que muito da cultura ainda é preservada nos antigos focos de colonização, principalmente na culinária, e na linguagem.[30]
[editar] Paraná


Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário, em Colombo, Paraná. Obra iniciada em 1898, em estilo romano, sendo uma cópia fiel das igrejas italianas.
Os primeiros italianos a imigrar para o Paraná foram os vênetos, a partir de 1875, alocados em colônias próximas à Paranaguá, nas regiões de Morretes e Antonina. A Colônia Alexandra e posteriormente a Colônia Nova Itália tiveram vários problemas, sendo que seus moradores foram posteriormente remanejados para regiões mais próximas da capital[31].
Em 1900, viviam no estado do Paraná mais de trinta mil italianos, espalhados por catorze colônias etnicamente italianas e outras vinte mistas. No início, a maior parte dos imigrantes trabalhou como colonos autônomos porém, com o desenvolvimento do café, passaram a compor a mão-de-obra da região. As maiores colônias prosperaram na Região Metropolitana de Curitiba, sendo o município de Colombo (localizado na Grande Curitiba) a maior colônia italiana do Paraná[32][33][34]. A Colônia Alfredo Chaves (que posteriormente se tornaria a cidade de Colombo) foi uma das quatro onde se concentraram os primeiros italianos que chegaram ao estado. As outras são a Senador Dantas (que deu origem ao bairro curitibano Água Verde), a Santa Felicidade (atual pólo gastronômico da capital paranaense) e a Colônia de Santa Maria do Tirol, localizada no município de Piraquara (na Grande Curitiba). A influência italiana se faz presente em todas as regiões do estado (como no norte do estado, com o vocábulo terra roxa, oriundo da confusão da língua italiana para a cor vermelha - "terra rossa").
Em Curitiba chegaram a partir de 1872, estabelecendo-se como agricultores em vários núcleos coloniais da região, que posteriormente deram origem aos atuais bairros de Pilarzinho, Água Verde, Umbará e Santa Felicidade (tradicional bairro de cultura e gastronomia italiana da capital paranaense), por exemplo. Com o passar do tempo adotaram outras atividades, incluindo industriais e comerciais.
Fato inédito no Brasil, a Colônia Cecília foi a primeira experiência anarquista no país [35]; fundada em 1890 no atual município de Palmeira por um grupo de libertários mobilizados pelo italiano Giovanni Rossi, os colonos plantaram mais de oitenta alqueires de terra - em área que lhes fora cedida pelo Imperador Pedro II, pouco antes da proclamação da República - e construíram mais de dez quilômetros de estrada, numa época na qual inexistiam máquinas, tratores ou guindastes de transporte de terras. Nos quatro anos de existência da colônia, sua população chegou a atingir cerca de 250 pessoas. O experimento da Colônia Cecília terminou por vários motivos, tanto econômicos como sócio-culturais.
Outras cidades receberam imigrantes italianos: além de municípios da Microrregião de Paranaguá (na Serra do Mar e litoral) e a capital, cidades da Grande Curitiba (como São José dos Pinhais, Araucária, Campo Largo, Piraquara, Cerro Azul e Colombo), assim como do interior receberam significativo número de imigrantes[36]. Atualmente representam cerca de 40% da população paranaense, sendo o estado sulista com maior população descendente de italianos[27].
[editar] São Paulo


Imigrantes posando para fotografia no pátio central da Hospedaria dos Imigrantes, ca. 1890.
O estado de São Paulo possui a maior colônia italiana no Brasil. Atraídos para trabalharem nas colheitas de café, no ano de 1900 já viviam no estado 800 mil italianos. Com o fim da escravidão no Brasil, o país começou a atrair imigrantes a fim de substituir a mão de obra africana. São Paulo concentrava a maior parte das fazendas de café e, por isso, recebeu mais de 70% de todos os imigrantes italianos que vieram para o Brasil.
Com a decadência da produção cafeeira, os italianos passaram a rumar cada vez mais para o centros urbanos, onde chegaram a compor a maior parte da mão-de-obra nas indústrias paulistas. A influência italiana em São Paulo é evidente tanto no interior do estado, como nas regiões urbanizadas, em bairros como a Mooca ou o Bixiga.
Atualmente, vivem em São Paulo treze milhões de italianos e descendentes, representando cerca de 32,5% da população do estado.[37]
[editar] Na capital


O Edifício Itália, no centro de São Paulo, um dos símbolos da imigração italiana na cidade.
Cidade de São Paulo [38]

Ano Italianos Porcentagem da população da cidade
1886
5.717 13%
1893
45.457 35%
1900
75.000 31%
1910
130.000 33%
1916
187.540 37%
Ouve-se falar o italiano mais em São Paulo do que em Turim, em Milão e em Nápoles, porque entre nó se falam os dialetos e em São Paulo todos os dialetos se fundem sob o influxo dos vênetos e toscanos, que são em maioria(Gina Lombroso, viajante italiana em São Paulo no início do século XX). [1]
(...) a impressão de espanto de um mineiro ao conhecer São Paulo em 1902:' Os meus ouvidos e os meus olhos guardaram cenas inesquecivéis. Não sei se a Itália o seria menos em São Paulo. No bonde, no teatro, na rua, na igreja, fala-se mais o idioma de Dante que o de Camões. Os maiores e mais numerosos comerciantes e industriais eram italianos'. Sousa Pinto, um jornalista português que esteve na Cidade na mesma época, não conseguiu se fazer entender por vários chocheiros de tílburi, todos falando dialetos peninsulares e gesticulando à napolitana. Escritas em italiano eram também as tabuletas de vários edifícios. 'Encontramo-nos a cogitar se por um estranho fenômeno de letargia em vez de descer em São Paulo teríamos ido parar à Cidade de Vesúvio' (...)(Ernani da Silva Bruno. História e tradições da cidade de São Paulo) [2]
[editar] Minas Gerais
Ver artigo principal: Imigração italiana em Minas Gerais
Minas Gerais tornou-se um dos maiores redutos da colônia italiana do Brasil. A imigração ficou dividida em dois segmentos: colonos agricultores que foram atraídos para os arredores de Belo Horizonte e trabalhadores para o café, atraídos para o Sul de Minas. Em 1900, já viviam no estado 70 mil italianos.
Atualmente, vivem em Minas Gerais 1,5 milhão de descendentes de italianos, representando cerca de 7,5% da população do estado.
O Cruzeiro Esporte Clube foi fundado em 1921 pelos italianos, como Società Sportiva Palestra Italia e só alterou seu nome devido a Segunda Guerra Mundial.
[editar] Rio de Janeiro
Ao contrário do que sucedeu no restante do Brasil, no Rio de Janeiro os imigrantes italianos eram majoritariamente urbanos, trabalhando principalmente na indústria e no comércio. Em 1900 viviam no estado 35 mil italianos, a maioria na própria cidade do Rio de Janeiro, e o restante nas colheitas de café.
Atualmente, vivem no Rio de Janeiro 600 mil italianos e descendentes, representando cerca de 4% da população do estado.
Os italianos que foram para o Rio de Janeiro se diferenciavam pois eram sobretudo meridionais, oriundos especialmente das Províncias de Cosenza, Potenza e Salerno e, em número menor, também de Nápoles, Caserta e Reggio Calábria. Isto porque os italianos do Sul preferiam se dedicar às ocupações urbanas, sendo que a então capital do Brasil oferecia uma série de profissões alternativas.[13]
[editar] Espirito Santo
O Espírito Santo abriga uma das maiores colônias italianas do Brasil. Os imigrantes foram atraídos para o Estado a fim de ocupar inicialmente a região das serras. Os imigrantes foram obrigados a enfrentar a mata virgem e foram abandonados pelo governo à própria sorte. A situação de miséria vivida por muitos colonos fez com que, em 1895, o governo italiano proibisse a emigração de seus cidadãos para o Espírito Santo.[39]
[editar] Centro-Oeste do Brasil
Praticamente não houve imigração italiana para a região Centro-Oeste do Brasil. A maior parte das pessoas de origem italiana da região são migrantes oriundos do Sul do Brasil. A partir da década de 1970, a falta de oportunidades no interior do Sul fez com que milhares de sulistas migrassem para o Centro-Oeste, em especial para o Mato Grosso do Sul. Entre esses migrantes, figuravam milhares de ítalo-brasileiros.[40]
Atualmente, vivem na região Centro-Oeste 400 mil italianos e descendentes, representando cerca de 4% da população da região.
[editar] Norte do Brasil
No Norte do Brasil, os imigrantes italianos fixaram-se majoritariamente no Acre. Atualmente, vivem na região Norte cerca de 1 milhão de italianos e descendentes, representando cerca de 11% da população da região.[27]
[editar] Nordeste do Brasil
A imigração italiana do Nordeste teve um padrão, que pode compreender quatro fases: a pré-colonial, a colonial, a imperial e a republicana. A descendência italiana na região se tornou indecifrável por causa da miscigenação [41].
Na fase pré-colonial, o território nordestino era para os europeus apenas uma massa de terra dentro do Brasil, eles toleraram os povos indígenas da região e o que lhe eram de direito, fazendo apenas o avistamento da costa, para num futuro próximo enganá-los através do escambo e logo depois tentar escravizá-los. Nessa fase a entrada de italianos no Nordeste já era considerada como importante, devido à sua presença em várias expedições exploradoras, no que lhe renderam experiências no Mediterrâneo, e acabando por ficar na Península Ibérica à procura da oportunidade de participar de outras expedições marítimas, a fim de achar riquezas e de aumentar os seus negócios, fazendo eles partirem para o Nordeste do Brasil. Entre os navegadores, o mais famoso a pisar em terras nordestinas foi o florentino Américo Vespúcio, que por suas cartas, acabou por dar seu nome para ao continente "descoberto" por Cristóvão Colombo.
Na fase colonial, entre 1535 a 1822, a atuação da imigração foi diferente, tendo em vista que os territórios já não eram os mesmos, pois os portugueses para realizar totalmente a conquista do país, se fixaram no território, colocaram a baixo as nações indígenas e reorganizaram o lugar em função de uma economia de exportação de riquezas, nessa fase os indígenas já lutavam contra os franceses, ingleses e holandeses, que também queriam as terras. Assim os reis de Portugal e da Espanha (durante o domínio espanhol de Nápoles) criaram uma guerra contra os holandeses entre 1624 a 1654 (na época da Nova Holanda), utilizando, forças militares italianas vinda de Nápoles. Ainda nessa fase foram numerosos os sacerdotes italianos enviados ao país, para trabalharem no processo de evangelização dos povos indígenas. Dois jesuítas italianos, Andreoni e Benci, se destacaram por haver escrito livros sobre o Brasil, no século XVIII. Outros religiosos vindo para o Nordeste Brasileiro, são os capuchinhos, que foram desbravadores dos sertões. Além dos religiosos e das forças militares, muitos costureiros, alfaiates, sapateiros, funileiros, caldeireiros, mecânicos e etc, se fixaram tanto nas capitais como no interior do Nordeste, a fim de trabalhar.
Na fase imperial, as coisas também foram diferentes, houve uma preocupação com a ocupação de posições consideradas importantes para o governo brasileiro e com o desejo de "embranquecer" a população. Por isto, o governo passou a desenvolver uma política de colonização, com mais intensidade no sul do país, não só com os italianos, como com outras nacionalidades europeias. Eles se instalaram no país e passaram a se mobilizar por outras províncias do Império. A partir de então, a descendência italiana no Nordeste já estava indecifrável por causa da miscigenação.
Na fase do Brasil republicano, o Nordeste continuou a receber italianos, que vieram por causa do grande crescimento e da modernização da agroindústria canavieira, do desenvolvimento da indústria têxtil, do crescimento da cultura do cacau e do lançamento, no mercado externo, de produtos extrativos.
Após a Segunda Guerra Mundial, houve novas experiências, como a de implantação de uma colônia de agricultores em Jaguaquara e Itiruçu, na Bahia, o que provocou modificações nos usos e costumes dessas cidades.[42]
Em 1837 chega à Bahia um grupo de 62 exilados políticos oriundos da península italiana, que foram presos devido às agitações políticas que ocorriam no período que antecedeu à unificação da Itália. Estes exilados sensibilizaram-se e aderiram ao movimento revolucionário que ocorria em Salvador, a Sabinada. Alguns foram presos, outros retornaram para a Itália e houve aqueles que mudaram para o Rio de Janeiro. Este envolvimento político dos imigrantes fez com que uma nova leva de exilados, oriundos da região de Nápoles, fosse cancelada.[43] Em 1950, alguns rumaram para Itiruçu, fundando a colônia Bateia.
Com a migração inter-regionais, alguns descendentes de italianos oriundos do Sudeste do Brasil vivem na região. Atualmente, vivem no Nordeste 150 mil italianos e descendentes (ainda reconhecidos, por não terem passado por miscigenações), representando cerca de 0,35% da população da região.
[editar] O declínio da imigração italiana


Casa de pedra e madeira do fim do século XIX em Caxias do Sul, influenciada pela arquitetura italiana
As contínuas notícias de trabalho semi-escravo e condições indignas nas fazendas de café do Brasil fizeram com que a imigração de italianos para o Brasil caísse, e se desviasse para os Estados Unidos e Argentina. Em 1902, a Itália ativa o "decreto Prinetti", proibindo a imigração subsidiada para o Brasil, devido aos relatos de trabalho semi-escravo nas fazendas de café de São Paulo.[44]
A imigração italiana no Brasil continuou grande até a década de 1920, quando o ditador Benito Mussolini, com seu governo nacionalista, passou a controlar a emigração italiana. Após a Segunda Guerra Mundial e a declaração de guerra do Brasil contra os países do eixo, a vinda de italianos para o Brasil entrou em decadência. Paralelamente, o país recebeu ajudas financeiras através do Plano Marshall, que obrigou a permanência de trabalhadores para reconstruir a Itália.[10]
No Brasil, com o excesso de mão-de-obra, o então presidente Getúlio Vargas decreta, em 1934, a Lei de Cotas de Imigração, que dificultava a entrada de estrangeiros no País. Após a II Guerra Mundial entraram, ainda, 106.360 italianos no Brasil encerrando, assim, o grande fenômeno migratório para o País.[45]
[editar] Língua
Hoje em dia, quase todos os ítalo-brasileiros falam o português como língua materna. A língua italiana foi proibida no Brasil na década de 1930, pelo presidente Getúlio Vargas, após declarar guerra contra a Itália. Qualquer manifestação da cultura italiana no Brasil era crime. Isso contribuiu bastante para que o idioma italiano fosse pouco desenvolvido entre os descendentes de italianos.[46]
Na cidade de São Paulo, a diversidade dos falares dos imigrantes resultou numa maneira de falar bastante peculiar, que se difere substancialmente do falar caipira, que predominava na região antes da chegada dos italianos e é ainda generalizado no interior do estado. O novo falar se forjou da mescla do calabrês, do napolitano, do vêneto, do português e ainda com o caipira. Atualmente, a influência italiana no português falado em São Paulo não é tão grande quanto no passado, embora o sotaque paulistano continue marcado pelo dialeto ítalo-brasileiro que predominava na cidade no início do século XX. É de notar que a influência italiana no falar paulistano se generalizou bastante, ao ponto de englobar os habitantes da cidade que nem ao menos possuem ascendência italiana.[16]
Fenômeno semelhante ocorreu no interior do Rio Grande do Sul, mas englobando quase que exclusivamente a população de origem italiana. O dialeto talian (com raiz no vêneto), é bastante difundido nas zonas vinícolas do estado.[47] Nas zonas rurais marcadas pelo bilinguismo, mesmo entre a população monolíngue em português, o sotaque italiano é bastante característico.[48]
[editar] A influência italiana no Brasil e seus descendentes


Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha.
A imigração italiana para o Brasil foi um dos maiores fenômenos imigratórios já ocorridos. A medida que o número de imigrantes e seus descendentes ia crescendo, o Brasil modificava os seus costumes, assim como os imigrantes modificam os seus. É de notar que a influência italiana no Brasil não ocorreu de forma uniforme: enquanto no Sul/Sudeste do País a comunidade italiana era forte e, em certas localidades, chegaram a representar a maioria da população, noutras regiões do País a presença italiana foi quase nula.
Das inúmeras contribuições dos italianos para o Brasil e à sua cultura, destacam-se:
• Introdução de elementos tipicamente italianos no catolicismo de algumas regiões do Brasil (festas, santos de devoção, práticas religiosas).
• Diversos pratos que foram incorporados à alimentação brasileira, como o hábito de comer panetone no Natal e comer pizza e espaguete frequentemente (principalmente no Sudeste), além da popular polenta frita.
• O sotaque dos brasileiros (principalmente na cidade de São Paulo, o sotaque paulistano), na Serra gaúcha, no sul catarinense e no interior do Espírito Santo.
• A introdução de novas técnicas agrícolas (Minas Gerais, São Paulo e no Sul).
• A criação do time Palestra Itália em 1914 com o intuito de aproximar e unificar os imigrantes italianos que viviam na cidade de São Paulo. Mas por ocasião da segunda guerra mundial, o time foi forçado a mudar o seu nome para Sociedade Esportiva Palmeiras sob pena do clube perder todo o seu patrimônio físico. Isso por imposição da ditadura Vargas após declarar guerra contra a Itália, sendo criminalizado no Brasil qualquer manifestação cultural italiana.
A imigração italiana no Brasil também serviu de inspiração para várias obras artísticas, televisivas e cinematográficas, como as telenovelas Terra Nostra e Esperança, e o filme O Quatrilho, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
[editar] Assimilação e identidade
Católico e latino, o imigrante italiano se assimilou no Brasil mais facilmente que alemães e japoneses, por exemplo. O quase desaparecimento dos dialetos italianos no Brasil é um exemplo dessa rápida assimilação.[2]
É evidente, porém, as diferenças entre o grupo de italianos que se concentrou em colônias (no Sul) e os trabalhadores do café (Sudeste). Nas colônias, o imigrante se manteve por cerca de três gerações praticamente isolado com outros italianos nas zonas rurais sulistas. No Sudeste do Brasil, por outro lado, o italiano mais facilmente se integrava entre a população local.
Os italianos que chegaram ao Brasil em finais do século XIX não traziam uma identidade italiana definida. A Itália, enquanto Estado nacional, apenas se unificou em 1870. Antes disso, a Península Itálica era um amontoado de pequenos Estados independentes ou dominados por potências estrangeiras. A construção de uma identidade italiana se deu bem mais tarde, num processo bastante custoso com reflexos até os dias atuais. Não foi à toa que Massimo D'Azeglio, um dos mentores da Unificação da Itália, afirmou: “Nós fizemos a Itália: agora temos que fazer os italianos”.[49] Eram "vênetos", "calabreses", "sicilianos" ou "lombardos", antes de serem "italianos". E, mesmo dentro desses grupos regionais, havia diversas outras subdivisões.[50]
Os imigrantes que partiam da Itália tinham como noção identitária de pertencimento o seu vilarejo de nascimento e moradia. Falavam dialetos distintos, adoravam santos diferentes, alimentavam-se e casavam-se distintamente. A noção de ser italiano apenas surgiu mais tarde, após a imigração para o Brasil, visando fazer uma diferenciação entre eles próprios, os "italianos" e os "outros", os "brasileiros" ou "negri" (o termo "negro" designava os brasileiros, nem sempre com uma referência à cor da pele). Dessa forma, o sentimento de ser italiano consolidou-se mais prematuramente nas comunidades italianas no exterior do que na própria Itália, onde apenas se consolidaria anos mais tarde.[50] Da colônia para fora, os imigrantes eram "italianos" mas, internamente, as divisões regionais ainda se perpetuaram. Os imigrantes procuravam se agrupar com italianos que vinham da sua mesma região de origem na Península.[51]
Com a ascenção do fascismo na Itália, a busca por uma "identidade italiana" (italianità) tornou-se uma questão política, com a adesão de muitos italianos e descendentes ao fascismo. A Igreja Católica teve papel fundamental na formação da identidade italiana, pois o catolicismo e a italianidade estavam estreitamente ligados, pois nos espaços de ensino e lazer as escolas religiosas e as festas a santos padroeiros sempre tiveram grande destaque.[52]
O Estado Novo (1937-1945), comandado por Getúlio Vargas, iniciou uma campanha de nacionalização que afetou a vida dos italianos e seus descendentes. Depois, durante a II Guerra Mundial, quando o Brasil declarou guerra aos países do eixo (Alemanha, Itália e Japão), as medidas se tornaram mais pesadas. Ser italiano passou a ser sinônimo de "perigo". Os dialetos italianos foram proibidos de ser falados publicamente, as associações italianas foram fechadas e o comércio e residência de italianos foram invadidos. Nas colônias italianas do sul, muitos descendentes de italianos tiveram que esconder características que remetessem às suas origens, alguns desenvolveram sentimento de vergonha, principalmente os jovens que frequentavam escolas para aprender corretamente a língua portuguesa e eliminar qualquer vestígio que denunciasse as suas origens.[53] Ser colono passou a ser algo negativo, associado ao "atrasado", "rude", "da roça". Ser brasileiro passou a ser algo positivo, uma necessidade de sobrevivência social e econômica. Porém, na intimidade, muitos descendentes continuaram a falar seus dialetos, mantiveram suas formas tradicionais de vestimenta e de alimentação, mas sempre receosos da ação policial que os reprimia. A vontade de fazer a italianidade ser algo positivo continuava a existir, e o "brasileiro" continuou a ser considerado o outro que contrastava, por ser considerado menos trabalhador e religioso e sem os mesmos compromissos em relação à família.[51]
A partir da década de 1970, durante as comemorações do centenário da imigração, assistiu-se a um movimento inverso. Se antes as origens italianas eram, muitas vezes, motivo de vergonha, recriou-se a italianidade, fazendo dela um atributo positivo. Muitos descendentes de italianos, já bem posicionados socialmente, criaram um novo discurso acerca da italianidade, positivando-a. Buscaram qualidades na saga dos imigrantes, no seu pioneirismo empreendedor e civilizador, aliado a um "padrão moral italiano", tido como trabalhador, religioso, focado na família. Desde então, proliferaram a criação de circolos italianos que passaram a agregar a comunidade de origem italiana, recriando a própria visão dos descendentes de si mesmos. Os aspectos negativos, se uma vez existiram, passaram a ser omitidos ou reinterpretados sob uma nova ótica social.[51]
De maneira geral, os italianos não tiveram grandes problemas em se assimilar no Brasil. Com a exceção de alguns casos isolados de atritos entre italianos e brasileiros, houve uma rapidez na assimilação dos italianos em relação ao novo ambiente, aliada à facilidade com a qual os brasileiros acolheram e fizeram próprios alguns hábitos e costumes trazidos pelos imigrantes. Essa assimilação aconteceu mais rápido em São Paulo do que nos estados sulinos, devido ao isolamento característico das colônias que predominaram no sul, permitindo a manutenção de grupos homogêneos e de uma estrutura patriarcal que dava preferência aos casamentos entre italianos.[13] A elite brasileira, embora considerasse o imigrante europeu superior,[54] tendia a relacionar-se entre si e admitia estrangeiro com hesitação, quando este tinha acumulado alguma fortuna ou títulos de distinção que lhe proporcionara prestígio. Samuel H. Lowrie estimou que 40% da elite de São Paulo tenha se misturado com imigrantes no decorrer de três gerações, o que mostra que a infiltração do elemento estrangeiro na elite paulista não foi nada desprezível. Nas classes baixas brasileiras, onde não havia barreiras econômicas impedindo a convivência, a infiltração do elemento estrangeiro foi, por consequência, bem mais intensa.[55]
Contrastavam o jus sanguinis italiano e o jus soli brasileiro. Os filhos de italianos tinham, portanto, uma dupla nacionalidade mas, vivendo e trabalhando no país em que haviam nascido, acabavam privilegiando a nacionalidade que era sentida como única e verdadeira. Esse rápido processo de assimilação, todavia, não significou a perda automática da identidade italiana, que ainda continuava a se manifestar de diversas maneiras, seja na língua, na religião ou na culinária.[13]
[editar] Conflitos étnicos
A relação dos imigrantes italianos com brasileiros negros (e com pardos, mulatos, mestiços e caboclos) foi ambígua. Embora há registros de uma convivência pautada na colaboração, amizade e intimidade entre italianos e negros, também há comprovação de que havia conflitos e violência permeando essa relação interracial.[56] Com base num estudo histórico realizado em São Carlos (interior de São Paulo) constatou-se que a violência física entre italianos e negros advinha, geralmente, de conflitos simbólicos. De um lado, os negros queriam afirmar a sua igualdade perante os italianos e, por outro lado, estes tentavam afirmar a sua superioridade. Ao contrário do que muitas vezes se propagou, os negros não abandonaram as plantações de café com a abolição da escravatura. Muitos permaneceram no meio rural, trabalhando lado a lado dos imigrantes. Em consequência, muitos imigrantes encontraram negros em condição de classe igual à sua, exercendo as mesmas funções ou em atividades com níveis parecidos de renda e respeitabilidade. Em alguns casos, pretos e mulatos tinham posição de autoridade sobre italianos, como administradores de fazenda ou diretores de colonos, além do fato de que 20% dos soldados esquartelados de São Carlos eram negros.[56]
A maneira como os fazendeiros tratavam os imigrantes remetia à condição escravista e, mesmo nos centros urbanos, italianos recebiam tratamento parecido por parte da polícia, que os espancava e roubava. Ao mesmo tempo, a ideologia racial predominante no Brasil afirmava a superioridade racial dos europeus sobre os negros. Essa ambiguidade levava a tensões, uma vez que os italianos, ao verem sua própria condição tão próxima a dos negros, mesmo antes de aprender o discurso racial brasileiro, sentiam a importância de manter as distinções de cor em relação aos negros, mestiços e caboclos, com os quais não queriam se confundir. Os negros, por outro lado, não admitiam ser subordinados ou rebaixados devido à sua cor de pele.[56] Era uma luta, portanto, pelo "capital simbólico", ou seja, o capital de respeito ou importância social. Nos inquéritos policiais de São Carlos, havia duas vezes mais negros sendo agredidos por brasileiros brancos do que o inverso e quase três vezes mais negros sendo agredidos por italianos do que o oposto. Os imigrantes italianos eram verdadeiros substituidores de escravos e, ao perceberem que sua situação social estava "perigosamente" perto da dos negros, os italianos sentiam as reivindicações por respeito e igualdade no trato como ameaça à sua identidade e honra. Assim, as análises dos inquéritos policiais de São Carlos sugeram que os italianos, ao verem como os brasileiros brancos tratavam os pretos, mulatos e caboclos, aprenderam que estes podiam ser ameaçados, agredidos ou mortos, caso ousassem contradizer, desacatar ou desrespeitar os "brancos." [56]
Esses conflitos, opondo imigrantes europeus de um lado e pretos, mulatos e caboclos do outro, fortaleceram a formação de uma "identidade branca", que contribuiu para amenizar as fronteiras que existiam entre os próprios imigrantes europeus.[57] Os imigrantes italianos chegavam ao Brasil com resquícios do forte regionalismo então existente na Itália, onde a identidade italiana ainda era bastante débil, haja vista tratar-se a Itália de um Estado recém-unificado. As interações sociais vividas no Brasil, todavia, acabaram diluindo e enfraquecendo o regionalismo e fortalecendo a identidade italiana e branca. Segundo Denys Cruche, "a construção das identidades se faz no interior de contextos sociais, que determinam a posição do agente e por isso mesmo orientam suas representações e escolhas". O fato de os brasileiros desconhecerem a grande variação regional que existia na Itália, tratando todos os imigrantes como meros "italianos", contribuiu para redefinir a identidade italiana dessas pessoas. Assim, ao entrar em contato com outras nacionalidades e criando fronteiras étnicas, o imigrante italiano reconstruiu a visão que tinha de si mesmo, assumindo uma identidade nacional que nem ao menos possuía antes do ato imigratório.[58]
No sul do Brasil as diferenças "étnicas" também foram remarcadas como um elemento de diferenciação. Se durante a II Guerra Mundial ser italiano era algo negativo, após o conflito houve uma reelaboração do conceito, apontando o italiano como o "civilizador". A cultura assume um significado classificatório, implicando a noção de superioridade e inferioridade, formando hierarquia de etnias. Os pretos eram chamados de brasileiros, trazendo uma visão pejorativa e racista em favor de uma superioridade italiana. Azevedo, em 1952, observou que, em Caxias do Sul, havia uma linha de cor bastante nítida que separava os "brancos" dos "morenos".[59] Uma linha, embora mais tênue, também separava os descendentes de italianos dos "brasileiros" originários de outras partes do Rio Grande do Sul e descendentes de portugueses. Para muitos descendentes de italianos, a reivindicação de uma identidade "ítalo-gaúcha" atualmente os fazem acreditar que isso lhes agrega valor e contribui para uma diferenciação social. "Ser ítalo-gaúcho é mais valorizado do que ser simplesmente, brasileiro". O historiador Stanley Fish denomina esse fenômeno de "multiculturalismo de boutique" e que, segundo Stuart Hall, "celebra a diferença sem fazer diferença". A ascendência italiana passa a ser tida como um diferencial, que permite o acesso à cidadania italiana, trabalho no exterior, bolsas de estudos etc. Vitalina Maria Frosi, num trabalho sobre o uso de dialetos italianos no Rio Grande do Sul, afirma que "o uso da fala dialetal italiana é, muitas vezes, artificial na boca de falantes urbanos". Para ela, muitas vezes o uso da língua italiana, no sul do Brasil, não tem a função de comunicação e de transmissão de cultura, pois assume a função "instrumental para demarcar um espaço próprio, uma identidade cultural local, um perfil de determinado grupo humano ítalo-brasileiro regional".[59]
[editar] Casamentos e padrões de miscigenação
Pesquisas apontam que, no início da imigração, havia uma grande resistência dos italianos de se casarem com brasileiros. Havia, inclusive, a tendência nítida de italianos se casarem com imigrantes que vinham da sua mesma região de origem na Itália. Analisando os casamentos de italianos no município de São Carlos, interior de São Paulo, entre 1880 e 1899, os dados mostram que 80% dos homens e 91% das mulheres oriundos do Norte da Itália se casaram com imigrantes oriundos da mesma região italiana. 88% dos homens e 71% das mulheres oriundos do Sul da Itália contraíram matrimônio com pessoas vindas daquela mesma região, enquanto que 23% dos homens e 61% das mulheres do Centro da Itália se uniram a italianos também vindos do Centro (as taxas de endogamia para os italianos do Centro foi mais baixa pois o número de imigrantes oriundos daquela região era menor, portanto tinham maior dificuldade de encontrar companheiros da mesma região, o que os levava a casar com italianos de outras regiões). Os italianos mais endogâmicos eram os vênetos: de 1880 a 1914, em São Carlos, 76,4% dos homens vênetos se casaram com mulheres vênetas, enquanto que 65,3% das mulheres do Vêneto se uniram a homens daquela região. Em seguida vieram os calabreses: 53,1% dos homens calabreses se uniram a mulheres calabresas, enquanto que 77,3% das mulheres da Calábria casaram com homens daquela região. Os menos endogâmicos eram os lombardos, pois estes acabavam se casando sobretudo com vênetos, os mais numerosos naquela região. Isto mostra que os imigrantes italianos tinham uma alta taxa de endogamia, preferindo casar com outros italianos, inclusive optando por se unir a italianos que provinham da sua mesma região de origem na Itália.[60] A Itália era um Estado recém-unificado, e os italianos não tinham uma consciência nacional definida, e o que imperava na época era o regionalismo. Essa mentalidade foi trazida para o Brasil pelos imigrantes, influenciando seus padrões de casamento. Conflitos, animosidades e preconceitos entre italianos de diferentes regiões foram igualmente transportados e vivenciados pelos italianos no Brasil. Com o passar do tempo, porém, essa perspectiva regionalista foi sendo suavizada pois, uma vez no Brasil, italianos de diferentes regiões eram tratados pelos brasileiros como sendo iguais, pois essas diferenças regionais eram desconhecidas pelos brasileiros. O contato com a sociedade brasileira fez crescer não apenas as taxas de casamento entre italianos de diferentes regiões, mas a própria união entre italianos e brasileiros ou com imigrantes não italianos.[61]
A partir de 1910 verifica-se uma mudança no quadro, pois aumenta o número de casamentos entre italianos e brasileiras. Mas essa mudança deve ser analisada com cautela, pois na maior parte dos casos a cônjuge definida como "brasileira" era filha de italianos. Qualquer pessoa nascida no Brasil era definida como brasileira, independente de ser filha de estrangeiros. A partir da segunda década do século XX, há grande número de jovens brasileiras, filhas de italianos, em idade de se casar, que se uniam a homens italianos. Isto caracterizava uma "endogamia oculta" pois, apesar de serem brasileiras de nacionalidade, no plano étnico-cultural as cônjuges eram italianas.[60]
Para os imigrantes, a escolha do cônjuge estava fortemente influenciada pelas condições de trabalho a que estavam submetidos. O colonato era um sistema baseado na força de trabalho familiar, e a sobrevivência ou mobilidade social passavam pelo matrimônio, daí a preferência por cônjuges italianos já inseridos naquele sistema de trabalho e com perspectivas semelhantes. Os italianos, nesse contexto social, eram compelidos pelos seus próprios familiares e por membros da comunidade a se casarem entre si, dando origem a "famílias de produção", que se formavam em torno do trabalho. Eram, portanto, famílias numerosas, com vários filhos que ajudavam no trabalho e no aumento da produção. Este modelo de família numerosa, dedicada à produção, era o desejado pelo governo brasileiro, que incentivava a imigração de famílias inteiras para o Brasil, ao invés de indivíduos isolados. Em decorrência, visando aumentar a capacidade produtiva, casais formados por dois cônjuges italianos tendiam a ter uma extensa prole, com uma média de dez a treze filhos. Em contrapartida, casais mistos, nos quais um cônjuge era italiano e o outro brasileiro, tendiam a ter número bem menor de filhos, não mais que quatro.[60][62]
Se para os italianos o casamento com um outro italiano de uma região diferente da sua já apresentava uma barreira, o casamento com brasileiros tinha barreiras maiores, e ainda mais intensas eram se se tratava de um pretendente negro, mulato ou caboclo, pois os estigmas de cor existentes na sociedade brasileira também foram incorporados pelos imigrantes. Para muitos italianos, a imigração para o Brasil era algo passageiro, portanto, o casamento com não italianos atrapalharia os planos de retorno para a Itália. Em relação aos homens italianos, havia a resistência das mães italianas de aceitarem noras brasileiras, pois na cultura italiana a nora teria que se submeter às ordens da mãe do noivo, enquanto que as brasileiras preferiam morar sozinhas com o marido, quebrando o costume italiano. Porém, era mais fácil aceitar uma nora brasileira, pois esta passaria, mesmo que forçosamente, a conviver no meio italiano e a se submeter à sogra. Porém, quando a filha italiana se casava com um brasileiro, se afastava da família, sofrendo maior risco de "abrasileiramento". A família italiana era patriarcal e, segundo a legislação brasileira da época, os filhos menores de idade tinham de ter permissão do pai para se casarem. Os pais italianos muitas vezes negavam permitir o casamento de seus filhos com brasileiros ou com imigrantes não italianos, não apenas pelos fatores já apresentados, mas também porque havia preconceito e racismo por parte de alguns italianos em relação a casamento de seus filhos com brasileiros ou com imigrantes de outras nacionalidades. Também seriam significantes as uniões informais entre homens italianos e mulheres brasileiras. O Brasil tinha uma longa tradição de uniões informais, frequentemente toleradas pela Igreja, desde que envolvessem indivíduos passíveis de se casar. As uniões consensuais eram convenientes para o homem italiano, pois poderiam ser desfeitas, deixando em aberto a possibilidade de retorno à Itália. Também refletiam a relutância de alguns italianos em assumir casamento com mulheres brasileiras, refletindo um preconceito de cor, pois parte dessas brasileiras amasiadas com italianos eram pardas ou negras.[63] Na época, um membro do Comissário Geral de Emigração (CGE) escreveu, em tom preconceituoso, que "A degradação não para nem diante da distinção de raça: não são incomuns os casamentos de italianos com negras e, o que é pior, de mulheres italianas com negros".[13]
Em alguns casos extremos, casais de noivos interétnicos tinham que fugir de casa e manter relações sexuais, o que fazia o juiz suprir a necessidade da permissão do pai para realizar o casamento. Essas fugas também serviam para compelir o pai a aceitar a união, pois na época a perda da virgindade da filha antes do casamento maculava a honra da família, fato que poderia ser contornado com o casamento.[63]
Com o passar dos anos, as taxas de endogamia entre os italianos cai. Embora boa parte seja efeito da denominada "endogamia oculta" (italianos se casando com filhos de italianos nascidos no Brasil), ela não é apenas explicada por isso, pois houve de fato um crescimento notável de casamentos e uniões envolvendo cônjuges de origem italiana com cônjuges sem origem italiana.[61] A miscigenação entre italianos e brasileiros ocorreu sobretudo entre homens italianos e mulheres brasileiras, por diferentes fatores. Os pais brasileiros raramente se opunham ao casamento de suas filhas com homens italianos, enquanto que os pais italianos frequentemente se opunham à união de suas filhas com homens brasileiros. Havia uma discrepância entre o número de homens e mulheres italianos, sendo os homens mais numerosos, portanto, as mulheres italianas tinham grande disponibilidade de homens italianos para se casarem, mas os homens tinham um número mais limitado de noivas compatriotas disponíveis, aumentando as uniões com brasileiras. As mulheres italianas chegavam ao Brasil acompanhadas de seus pais e se casavam, na maior parte dos casos, quando ainda eram menores de idade, tendo que ter a permissão do pai para realizar o casamento, e este dava preferência para genros italianos. Os homens, por sua vez, muitas vezes chegavam ao Brasil sozinhos, desacompanhados de seus pais, e tinham maior liberdade em escolher suas companheiras. Os casamentos interétnicos entre italianos e brasileiros contribuíram para a integração da comunidade ítalo-brasileira no Brasil e no seu "abrasileiramento". Em um levantamento entre estudantes do Oeste Paulista, dos sobrenomes de 224 alunos, 108 (48%) tinham sobrenomes italianos e desses, 61 (56%) também tinham sobrenomes não italianos.[64]
A segunda geração de imigrantes, ou seja, os filhos de italianos já nascidos no Brasil apresentavam índices de assimilação mais extremos, devido ao elevado número de casamentos com a juventude brasileira. Esse fenômeno era mais acentuado nas áreas urbanas do que nas rurais e mais nas fazendas do que nas colônias. Mas, mesmo nas últimas, esse fenômeno não era pequeno, como observou o cônsul da Itália em Santa Catarina: "Os casamentos entre um italiano e uma brasileira, entre uma italiana e um brasileiro são comuníssimos, e seriam ainda mais frequentes se a maior parte dos italianos não vivesse segregada na roça". Com o passar dos anos e a suspensão da emigração, até nos núcleos coloniais os casamentos foram perdendo seu caráter de mononacionalidade que prevalecia na origem.[13]
[editar] A comunidade hoje
População italiana no Brasil[65]

Ano Número
1920 558.405
1940 325.283
1950 242.279
1970 152.801
1991 53.543
2000 43.718
A população de imigrantes italianos no Brasil está, atualmente, em franco decréscimo. A maior parte dos imigrantes são idosos, visto que as últimas grandes levas de imigrantes chegaram na década de 1950. O número de italianos residentes no Brasil ultrapassava meio milhão de pessoas em 1920, caindo para apenas pouco mais de 40 mil em 2000.
Porém, no ano de 2003, segundo a Aire (l’Anagrafe degli italiani residenti all’estero) havia no Brasil 162.225 cidadãos italianos e, segundo os Anagrafi consolari del Ministero degli Esteri, há 284.136 cidadãos italianos no País. A maioria destes são cidadãos ítalo-brasileiros, visto que a Itália garante a cidadania italiana para os descendentes, salvo algumas exceções, e o Brasil permite a dupla-nacionalidade de seus cidadãos. De acordo com as leis italianas, não há diferença jurídica entre um italiano nascido na Itália ou no estrangeiro. Em São Paulo estão inscritos no Consulado 154.546 cidadãos italianos, no Rio de Janeiro 38.736, em Porto Alegre 37.278, em Curitiba 30.987 e em Belo Horizonte 13.769. O Brasil possui, de acordo com diferentes fontes, a oitava ou a sexta maior população de cidadãos italianos no mundo.[3]
Presidente Lula, a esposa Marisa Letícia e membros da comunidade ítalo-brasileira durante a Festa da Uva. A esposa Marisa nasceu numa família de imigrantes italianos (lombardos de Palazzago, província de Bérgamo[66]).
Quando se toma por base o número de brasileiros descendentes de italianos, o Brasil possui a maior população italiana fora da Itália. Não se sabe o número exato, visto que os censos nacionais não questionam a ancestralidade do povo brasileiro. Todavia, as estimativas oscilam entre 23 a 25 milhões os brasileiros com algum grau de ascendência italiana, representando cerca de 15% da população brasileira.[3]
Os italianos e descendentes não formam um grupo étnico à parte da população brasileira, mas integrante e enraizado dentro da sociedade brasileira. Seus descendentes figuram nos mais diversos setores da sociedade do País. Por exemplo, numa pesquisa de 2001, das 10.641 empresas industriais do Rio Grande do Sul, 42% estavam nas mãos de brasileiros de origem italiana.[3] Certas localidades do Brasil meridional e do Sudeste têm uma clara maioria de brasileiros de origem italiana. Tal fato é mais evidente em localidade rurais do Sul do Brasil, tomando por exemplo municípios como Nova Veneza, onde os de origem italiana somam 95% da população local.[67] Mesmo nas grandes metrópoles a presença da coletividade italiana é enorme: São Paulo com seus 10 milhões de habitantes, maior cidade do Brasil, possui 60% da população com ascendência italiana e, Belo Horizonte com 2,5 milhões de moradores, 30% é descendente.[68][69]
Nas eleições italianas de 2006, os italianos residentes no estrangeiro puderam participar. No Brasil, 62.599 cidadãos italianos votaram.[70]


Fontes:
http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao09/materia01/texto01.pdf
BIGAZZI, Anna Rosa Campagnano. Italianos: história e memória de uma comunidade. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2006.
DIEGUES JR, Manuel. Imigração, Urbanização, Industrialização. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1964.
DIEGUES JÚNIOR, Manuel. Etnias e Culturas no Brasil. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército Editora, 1980
GASPARETTO JÚNIOR, Antonio. Imigração na Zona da Mata Mineira: fases e características entre 1850 e 1914. In: Anais do I Encontro de Pesquisadores da História da Zona da Mata Mineira. Rio Pomba, 2010. (a)
GASPARETTO JÚNIOR, Antonio. “Lo Stato di Minas Geraes”: a propaganda como elemento da política imigratória. In: Anais do III Simpósio do Laboratório de História Política e Social. Juiz de Fora, 2010. (b)
MARTINS, José de Souza, A Imigração e a Crise do Brasil Agrário.
http://www.infoescola.com/historia/colonizacao-italiana-no-sul-do-brasil/
História
“Que entendeis por uma Nação, Senhor Ministro? É a massa dos infelizes? Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos pão branco. Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho. Criamos animais, mas não comemos a carne. Apesar disso, vós nos aconselhais a não abandonarmos a nossa Pátria? Mas é uma Pátria a terra onde não se consegue viver do próprio trabalho?”
— Fala anônima de um italiano para o Ministro de Estado da Itália.[5] Séc. XIX

03/06/2011 09:27:09

Museu do Café busca depoimentos de italianos e descendentes
Entre outubro de 2011 e junho de 2012 será comemorado o ano da Itália no Brasil (Momento Itália-Brasil).



Antecipando as celebrações, ainda no mês de agosto, o Museu do Café, instituição da Secretaria de Estado da Cultura, localizado em Santos, inaugura a exposição “Itália – Café – Brasil: qui si beve caffè”. Para contar essa história, a instituição cultural está em busca de depoimentos de imigrantes e descendentes interessados em colaborar com o processo de pesquisa. As mensagens podem ser encaminhadas para o endereço eletrônico museudocafe@museudocafe.org.br.
Quando um museu une os temas café e Itália, o caminho natural e esperado é que ele aborde a imigração e o trabalho nos cafezais como seus objetos principais. Porém, sem deixar de lado a importância histórica destes assuntos, a exposição do Museu do Café será centrada nos hábitos e na presença do café no dia-a-dia dos italianos e seus descendentes.
O objetivo da instituição é esclarecer como a Itália, um país mundialmente reconhecido como apaixonado por café, influenciou os hábitos e a relação do brasileiro com a bebida ontem e hoje. Dessa forma, termos, horários, misturas, utensílios, peculiaridades, lugares, companhias, e tudo o que remeta aos modos de preparar e beber o café, seja em casa, no campo, nas indústrias, nas ruas ou nas cafeterias, pode ser uma rica contribuição para a montagem da mostra.

O Museu do Café
O Museu do Café foi criado em 1998 com o objetivo de preservar e divulgar a histórica relação entre o café e o Brasil. Instalado no edifício da antiga Bolsa Oficial de Café em Santos – tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) –, entre objetos e documentos que formam seu acervo é possível perceber como a evolução da cafeicultura e o desenvolvimento político, econômico e cultural do país estão intimamente ligados.
Entre outras ações, o Museu do Café realiza exposições temporárias e de longa duração que abordam épocas e aspectos pontuais da história do café no Brasil. Em suas instalações, ainda possui um Centro de Informação e Documentação, o Centro de Preparação de Café - que disponibiliza cursos relacionados ao conhecimento e ao preparo da bebida –, e a Cafeteria do Museu.

Fonte: Asscom Museu do Café
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A arte é o espelho da pátria.
O país que não preserva os seus valores culturais
Jamais verá a imagem de sua própria alma.

- Chopin



O biênio 2003-2004 marca um importante acontecimento para o Brasil: o centenário de nascimento do pintor Candido Portinari. Quem foi esse homem, Portinari? Quem foi esse pintor? Por que essa data é tão importante para nós?
Portinari nasceu em 30 de dezembro de 1903 numa fazenda de café do interior do Estado de São Paulo. Viveu sua infância na pequena Brodowski, pouco mais do que uma parada para o trem carregar o café, e assim descrita pelo pintor: "…pequenininha, duzentas casas brancas de um andar, no alto de um morro espiando para todos os lugares… lugar arenoso no meio da terra roxa cafeeira. Imenso céu azul circula o areal. Milhares de brancas nuvens viajam".
Segundo de doze irmãos, Portinari era filho de Dominga e Baptista, italianos que, crianças ainda, emigraram com suas famílias para o Brasil, para trabalhar na lavoura do café. Além de plantar o café, plantaram também o grande pintor brasileiro. Portinari criou-se como outras crianças da roça, ouvindo histórias de lobisomem e almas do outro mundo, saci-pererê e mula-sem-cabeça, de príncipes e princesas, montando cavalo a pêlo, colhendo manga e admirando as meninas do povoado, onde a garotada brincava de carniça e de pegar, acompanhava o circo, as procissões e a banda de música, empinava pipa e jogava futebol.



Observador, o menino Candinho impressionava-se com os pés dos lavradores das fazendas de café: "Pés disformes. Pés que podem contar uma história. Pés semelhantes aos mapas, com montes e vales, vincos como rios. Quantas vezes, nas festas e bailes, no terreiro, que era oitenta centímetros mais alto do que o chão, os pés ficavam expostos e era divertimento de muitos apagar a brasa do cigarro nas brechas dos calcanhares sem que a pessoa sentisse" - ele relembra num relato autobiográfico escrito poucos anos antes de sua morte.
Relembra também os devaneios de menino criado no campo: "Eram belas as manhãs frias na época da apanha do café e delicioso o canto dos carros de boi transportando as sacas da colheita. Quantas vezes adormecíamos sobre as sacas. A luz do sol parecia mais forte. Era somente para nós. Ia pela estrada afora o carro vagaroso, cantando. Dormíamos cheios de felicidades. Sonhávamos sempre, dormindo ou não. Nossa imaginação esvoaçava pelo firmamento (...). À noite, deitávamos na grama ao redor da igreja e de barriga para cima ficávamos vendo as estrelas e sonhando; um perguntava ao outro o que desejava ser - as respostas eram ambiciosas: um desejava ser rei, outro general, aquele dono de circo".



Para o menino Candinho, a profissão chegou quase como brincadeira. Primeiro, foi um leão que desenhou na aula. O desenho foi comentado por professores e alunos. Não o deixaram mais em paz: teve que desenhar a capa das provas a serem expostas no final do ano. Tempos depois, vieram de Ribeirão Preto uns pintores para trabalhar na igreja. O menino Portinari os ajudou, enchendo o fundo do altar de estrelas. O que mais gostava era de misturar as tintas. Quando se apresentou a ocasião de partir para o Rio de Janeiro, já estava decidido a pintar. Tinha pouco mais de 15 anos e passou noites sem dormir, ainda indeciso: "Pena de deixar meus pais e meus irmãos..." Sente saudades antecipadas: "O sol, a lua, as estrelas, as águas do rio, o vento, tudo ficaria lá e eu entraria no escuro".
Daí para a Escola de Belas Artes foi quase um pulo. Depois veio o prêmio de viagem ao exterior, do Salão Nacional de Belas Artes, em 1929, para Paris. Mas lá Portinari pensa em sua terra e sente saudades. Vem-lhe à lembrança Palaninho, um dos mais humildes habitantes de Brodowski: "(…) bigode empoeirado e ralo e com algumas falhas; e só tem um dente. Usa umas calças brancas feitas de saco de farinha de trigo (…) ainda se nota o carimbo da marca da farinha. Embaixo ele amarra as calças com palha de milho para não apanhar lama - não usa botina nos dias de semana (…). Usa paletó escuro listrado, com uma golinha muito pequena e quatro botões: - três pretos e um branco".



O jovem pintor se espanta: "Vim conhecer aqui em Paris o Palaninho, depois de ter visto tantos museus e tantos castelos e tanta gente civilizada. Aí no Brasil eu nunca pensei no Palaninho (...). Eu uso sapatos de verniz, calça larga e colarinho baixo e discuto Wilde, mas no fundo ando vestido como o Palaninho e não compreendo Wilde.".
Palaninho foi o começo de uma revelação: "Daqui fiquei vendo melhor a minha terra - fiquei vendo Brodowski como ela é. Aqui não tenho vontade de fazer nada. Vou pintar o Palaninho, vou pintar aquela gente com aquela roupa e aquela cor ".
Promessa cumprida até o último suspiro, como atesta Jorge Amado:
Candido Portinari nos engrandeceu com sua obra de pintor. Foi um dos homens mais importantes do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa gente. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade. A terra e o povo brasileiros - camponeses, retirantes, crianças, santos e artistas de circo, os animais e a paisagem - são a matéria com que trabalhou e construiu sua obra imorredoura.



Em quase cinco mil obras, de pequenos desenhos a grandes murais, este pintor fixou para sempre a fisionomia da sua terra e do seu povo:
A OBRA DE PORTINARI É COMO UMA GRANDE CARTA QUE ELE ESCREVE AO POVO BRASILEIRO.
UMA CARTA QUE AINDA NÃO FOI ENTREGUE.
Mais de 95% da obra do maior pintor brasileiro contemporâneo está hoje inacessível ao público, guardada em coleções particulares. O que foi feito do trabalho de um homem que, durante toda sua vida, exprimiu emocionadamente a alma, o povo e a vida brasileira?
"PORTINARI, O PINTOR. UM FAMOSO DESCONHECIDO", O GLOBO, 06/01/1980
O CENTENÁRIO DE PORTINARI É O MOMENTO DE ENTREGAR ESTA CARTA AO DESTINATÁRIO, O POVO BRASILEIRO, ONDE QUER QUE ELE ESTEJA.
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Vim da terra vermelha e do cafezal.
As almas penadas, os brejos e as matas virgens
Acompanham-me como o espantalho,
Que é o meu auto-retrato.
Todas as coisas frágeis e pobres
Se parecem comigo.

- Candido Portinari



Em quase 5 mil obras, de pequenos esboços a gigantescos murais, Portinari legou ao nosso imaginário uma ampla síntese crítica de todos os aspectos da vida brasileira. Sua obra foi celebrada pelos mais notáveis nomes de sua geração, no Brasil e no exterior, como o exemplificam os testemunhos a seguir:
Nenhum outro pintor pintou mais um país do que Portinari pintou o seu…

- Israel Pedrosa, 1983, em depoimento ao Projeto Portinari
Considero Portinari como o maior pintor brasileiro de todos os tempos (…) Creio que nossa arte moderna poderá figurar no quadro da cultura universal ao menos com dois espíritos geniais: Villa-Lobos na música e Portinari na pintura.

- Alceu Amoroso Lima
[ Clique aqui para ler o depoimento na íntegra. ]
Portinari não é só o maior pintor brasileiro de todos os tempos: é o exemplo único em todas as nossas artes da força do povo dominada pela disciplina do artista completo pela ciência e pelo instinto infalível do belo.
Diante destes choros, destes cavalos-marinhos, que falam ao mais profundo de minh'alma de brasileiro, me sinto em estado de absoluta inibição crítica. Tudo que posso fazer é admirar.

- Manuel Bandeira
Considero Portinari um dos maiores pintores do nosso tempo. Sua força é enorme. Na manhã em que vi o conjunto de suas telas, experimentei tal emoção que fiquei possuido de uma verdadeira fadiga nervosa. Nessa tarde não pude trabalhar, achava-me realmente cansado.

- René Huyghe, conservador-chefe do Museu do Louvre
Nestes dias de desorientação, de funambulismos e de anemia, o exemplo da arte poderosa de Candido Portinari, tão rica de significado, de matéria e de sólida técnica, chega a nós como um bom vento vivificante, a demonstrar-nos que a grande veia latina não se exauriu, mas, ao contrário, enriquecida de novos temas, continua viva, também pelo mérito de um filho de emigrantes que ainda acredita que a pintura seja um ofício sério, árduo e útil aos homens.

- Giuseppe E. Luraghi, crítico de arte, escritor e poeta italiano



O interesse de Portinari como pintor e como itinerário de acesso ao Brasil de sua época não se limita ao legado pictórico. Ele representou, também, um importante pólo de captação e irradiação das principais preocupações estéticas, artísticas, culturais, sociais e políticas de sua geração, como observou o historiador da arte Clarival do Prado Valladares:
Portinari participou da elite intelectual brasileira, ao lado dos mais consagrados poetas, escritores, arquitetos, educadores, jornalistas e políticos, no período exato em que todos eles provocavam uma notável mudança na atitude estética e na cultura dos grandes centros brasileiros. (…) De nenhum outro artista ou sábio, pintor ou escritor, recebemos um legado de transcendência lírica de nossa história comparável ao dele. E se somarmos os seus grandes murais - A Descoberta da Terra, A Catequese, Os Bandeirantes e a Descoberta do Ouro, em 1941 para a Biblioteca do Congresso de Washington, a várias outras obras como, por exemplo, a Primeira Missa (1943), o estudo para o painel Padre Anchieta (1953-1961), Chegada de D. João VI (1952), Navio Negreiro (1950), Tiradentes (1949), O Descobrimento do Brasil (1954) e mais ainda, aos temas do políptico do Ministério da Educação e Saúde (1936-1944) denominado, na época, Trabalho na Terra Brasileira ou Evolução Econômica, ao famoso Café (1935) e à série Retirantes (1945), então estaremos em face de um acervo de pintura histórica-social de determinado povo e região que se poderá reconhecer como dos mais notáveis da história da pintura.



E ninguém melhor do que outro de nossos artistas maiores, o poeta Carlos Drummond de Andrade, para avaliar o papel que Portinari desempenhou nessa geração, como observou em carta ao pintor por ocasião do sucesso de sua exposição em Paris, em 1946:
Foi em você que conseguimos a nossa expressão mais universal, e não apenas pela ressonância, mas pela natureza mesma do seu gênio criador, que, ainda que permanecesse ignorado ou negado, nos salvaria para o futuro.
[ Clique aqui para ler o depoimento na íntegra. ]


Desde 1935, quando recebeu o prêmio Carnegie, nos EUA, Portinari foi o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional. Seguiram-se os três grandes painéis para a Feira Mundial de Nova York (1939) e a primeira exposição individual no MoMA (1940) dessa cidade, os quatro painéis para a Biblioteca do Congresso (1942), em Washington, a publicação, pela Universidade de Chicago, do primeiro livro sobre sua obra (1941), o impacto da exposição na Galerie Charpentier, em Paris (1946), a exposição itinerante em Israel e, finalmente, os monumentais painéis Guerra e Paz para a sede da ONU, em Nova York (1956).
Em 6 de fevereiro de 1962 morreu Portinari, intoxicado pelas tintas.
O menino Candido Portinari saiu de minha terra com papel e cores em punho para a imensa aventura de pintar uma pátria. Pintá-la, não: criá-la de uma realidade ignorada, mostrá-la aos quatro cantos do mundo, contorcida, ofegante, opressa, inaugural, como a dizer-lhe:"Somos assim". … Um dia, seremos apenas os farrapos de narrativa de nossa existência. E mãos ávidas, mãos sábias do futuro virão recompor o que fomos, virão surpreender-se de nós. E do pó que seremos, retirarão o que beberam aqueles olhos e o que se escapou por aqueles dedos. E saberão que neste lugar existimos, porque ele inventou a nossa eternidade…

- Guilherme Figueiredo

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