sábado, 2 de fevereiro de 2013

ESTIMULAR A CRIAÇÃO CULTURAL E ARTÍSTICA




Estimular a criação cultural e artística na Europa | euronews, i talk

Devemos pagar, do nosso dinheiro, para encorajar os jovens artistas? Ou, é o facto de atravessarmos um período difícil que não faz os jovens criarem como antigamente?
Temos, realmente, meios de subsistência para um continente culto? A cultura na Europa, questões colocadas em Italk a Paul Dujardin, Diretor do Palácio de Belas Artes de Bruxelas.


Alex Taylor:
Numa frase diga-nos o que é o Palácio de Belas Artes.
Paul Dujardin, diretor do Palácio de Belas Artes de Bruxelas:
O Palácio de Belas Artes é um centro de arte multidisciplinar, a produção e o apoio à criação são as prioridades da sua missão europeia.
Alex Taylor:
Falámos com jovens europeus sobre este espaço, aqui em Bruxelas.
Vlad, Roménia:
O meu nome é Vlad, sou da Roménia e quero saber como é que os filmes europeus podem competir com as grandes produções americanas.

Alex Taylor:
Podemos, na Europa, concorrer com os enormes orçamentos dos filmes americanos?
Paul Dujardin:
Penso que o cinema europeu está na génese de todas as criações cinematográficas, desde os irmãos Lumière. Hoje, graças ao apoio do programa MEDIA, a tendência é para o crescimento do cinema na Europa. 

Alex Taylor:
Há países e países, há desigualdades. França, por exemplo, tem uma enorme indústria cinematográfica. Outros países não tanto.
Paul Dujardin:
Globalmente é assim, mas temos o cinema escandinavo, dinamarquês, norueguês, até mesmo o romeno, que ganharam grandes prémios em festivais europeus e vemos um crescimento de 25% do cinema europeu e as estatísticas demonstram…

Alex Taylor:
25% de quê?
Paul Dujardin:
De todo o mercado da distribuição do cinema europeu. Globalmente, vemos mesmo um decréscimo do cinema americano.”

Alex Taylor:
Em todos os países?
Paul Dujardin:
Em todos os países europeus.

Alex Taylor:
Outra questão para Paul Dujardin.
Conny, Alemanha:
Chamo-me Conny e sou da Alemanha. Quero saber que oportunidades de futuro se podem criar para os jovens artistas na música e em termos de formação. O que é que se pode melhorar, que oportunidades estão disponíveis para estas pessoas?

Alex Taylor:
Na União Europeia, de 2007 a 2013, o orçamento foi de 400 milhões de euros para a cultura. Para onde vai esse dinheiro?
Paul Dujardin:
É muito importante compreender, eu diria que é o 3º pilar europeu, ao lado de uma incorporação política e económica, os homens e a sua criatividade. Quer na indústria quer no mercado criativo podemos dizer que houve um crescimento muito significativo. É mais importante que a indústria automóvel, mais importante, neste momento, do que, por exemplo, os resultados globais das tecnologias da informação… Quase 4% do orçamento dos países europeus, do produto interno europeu, vai para a indústria da cultura. 

Alex Taylor:
Mas quem decide o destino desse dinheiro? Não concorda que nos “bons velhos tempos” os artistas sobreviviam, talvez pela sua força, apesar da escassez?
Paul Dujardin:
Não, de forma alguma. Penso que houve sempre uma indústria, se foi por questões ideológicas, como os construtores de catedrais, por exemplo, que foram os grandes mecenas, ou pela propaganda, a questão é que houve sempre uma classe social que viu com interesse o desenvolvimento das cidades. Bruxelas, Paris, capitais mais pequenas… Barcelona cresceu, nos últimos anos, com o turismo e há outras cidades…
Há uma economia, um futuro para o emprego na cultura.


Alex Taylor:
Outra questão sobre cultura em ITalk.
Pascal, Bélgica
Chamo-me Pascal e sou belga. Há muitas iniciativas para despertar, nas crianças, o gosto pela música clássica. Pensa fazer o mesmo com o jazz? 

Alex Taylor:
Vocês têm programas de jazz mas devemos escolher outros géneros musicais? Devemos promover outros géneros?
Paul Dujardin:
Eu diria que o jazz tem uma grande tradição e penso que hoje, com a integração da Europa, esta muralha da China que nós queremos construir à volta da Europa, para a proteger, não é uma boa ideia. O jazz tem uma grande tradição que vem de outras culturas, através da migração. Esta tradição veio dos Estados unidos mas é importante frisar que, hoje, temos 20 milhões de europeus vindos do continente africano. É um tipo de liberdade, de criatividade que pode estimular, ao lado da música clássica, outros géneros para que criemos um grande formato de educação musical.

Alex Taylor:
Mas quem é que decide? É a Comissão Europeia? São os políticos ou pessoas como o senhor que gerem instituições?
Paul Dujardin:
Tem tudo a ver com os públicos, com a educação, é este o grande mercado para onde vai o dinheiro público. Para as escolas de música, conservatórios, etc. E hoje, o que é interessante, é que a formação dos jovens e dos músicos é muito mais interdisciplinar. Criámos grandes “virtuosos” que veem da escola de Varsóvia, Chopin, etc. Chama-se a isso virtuosismo técnico. Mas estamos muito centrados numa virtuosidade de consciência, na multidisciplinaridade. Hoje vê-se um músico premiado num grande concurso de piano e descobre-se que teve formação gratuita em jazz, pop ou rock. Pela tradição, as suas influências musicais, são importantes para a sua criatividade contemporânea. Até mesmo se for um músico clássico. 

Alex Taylor:
Paul Dujardin responde a mais uma questão.
Andrus, Estónia:
Como é que a Europa pode ajudar os artistas dos países pequenos, que não falam inglês nem francês, a promoverem o seu trabalho fora dos seus países?

Alex Taylor:
Como podemos ajudar os países das línguas menos faladas? O que devemos fazer?
Paul Dujardin:
Penso que a Europa, se não me engano, tem 24 línguas oficiais. É importante dizer que hoje, há cerca de 60 línguas minoritárias na Europa. E é importante estimular o público através da criatividade, seja literária ou cinematográfica.

Alex Taylor:
Mas as pessoas não querem, forçosamente, ver filmes finlandeses legendados na sua língua.
Paul Dujardin:
Devo dizer-lhe que os meus primeiros filmes foram do Bergman, em sueco… talvez eu seja atípico mas penso que é um facto que são precisos estímulos para as comunidades locais, para aumentar a criatividade. E a tradução é muito importante.
A distribuição é um desafio relativamente caro, mas ela só pode resistir, na Europa, se estimular a diversidade. Os franceses são os primeiros a estimular esta diversidade mas não apoiam outros idiomas… 


Alex Taylor:
Além do francês…
Paul Dujardin:
Exatamente. Apesar de internamente existir o basco. Mas o importante, o que me cativa, é descobrir esta grande diversidade. Pessoalmente, defendo esta diversidade linguística e criativa na Europa. Para que não haja um único idioma seja o francês, o inglês ou o alemão que são os mais falados na Europa.

Alex Taylor:
Uma última questão em Italk para Paul Dujardin, diretor do Palácio de Belas Artes.
Lawrence, Bélgica
Chamo-me Lawrence e sou da Bélgica. Pergunto-me porque é que, hoje em dia, as belas óperas clássicas são interpretadas de forma contemporânea. Porque é que não preservam a autenticidade das peças?

Alex Taylor:
A Europa deve ter uma palavra a dizer, já que dá dinheiro para a cultura, sobre a forma de interpretação de cada obra? 

Paul Dujardin:
Esse é um debate que se arrasta desde que o Palácio das Belas Artes foi criado, em 1920, em Bruxelas. A dialética, a tensão, entre mostrar a criação contemporânea e voltar a mostrar a história da arte, as obras antigas. Penso que os trabalhos contemporâneos, da cultura europeia, se baseiam na grande diversidade cultural do passado. Penso que a ópera é o símbolo desta forma de liberdade. No século XVIII era uma arte popular, hoje renasceu. Ela promoveu sempre as revoluções, seja Verdi ou Muette de Portici, na Bélgica. Era uma arte popular, democrática, que hoje encontrou uma forma de democratização na cultura, e penso que é importante rever filmes como “A flauta mágica”, de Bergman ou “Amadeus” que levaram a ópera para as salas de cinema. E hoje vemos que, o teatro e o cinema, através da investigação e desenvolvimento económico da Europa, ampliaram o acesso às suas salas. A Royal Opera de Londres dá, ao grande público, a possibilidade de reviver obras antigas, com um grande sucesso, quer no teatro quer na ópera.

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