Jorge Antunes - Ópera Olga -
Direção Musical e Regência: José Maria Florêncio. Libreto de Gerson Valle.
Jorge Antunes - Olga - 1° Ato - 37min.
Jorge Antunes - Olga - 2° Ato - 54min
Jorge Antunes - Olga - 3° Ato - 63min.
Abaixo incluo um depoimento sobre a história dessa minha ópera.
Abracos,
Jorge Antunes
ÓPERA OLGA
RELATO DO COMPOSITOR
Jorge Antunes
Compus a ópera Olga entre 1987 e 1997. O libreto é de Gerson Valle, escritor e poeta carioca. O livro base, para o libreto, foi o livro Olga de Ruth Werner, publicado na Alemanha em 1962. Ruth Werner foi companheira de Olga Benario no campo de concentração de Ravensbruck.
A história de Olga foi-me sempre familiar, desde criança, porque minha mãe falava muito dela. Os nomes de Olga e Prestes eram, entre os anos 1950 e 1980, verdadeiros mitos, banidos da história oficial. Era perigoso mencionar seus nomes e contar suas histórias. Esse mistério me fascinava mais ainda. Minha mãe, quando solteira, morou em Caxambi, no Méier, bairro do Rio de Janeiro. A casa dela foi uma das invadidas no carnaval de 1936 pela polícia de Filinto Müller que caçava Prestes e Olga.
Enfim, durante décadas acalentei a ideia de compor uma ópera contando a saga de Olga Benario. Quando a última ditadura militar no Brasil começou a dar indícios claros de sua derrocada, Fernando Morais começou a escrever o livro sobre Olga. Eu, ao mesmo tempo, já munido do livro de Ruth Werner, comecei a planejar a ópera e convidei meu amigo e ex-aluno, o poeta Gerson Valle, a escrever o libreto.
O libreto passou a ser escrito ao mesmo tempo em que eu compunha. Eu e Gerson discutíamos muito. Após alguma relutância dele, consegui convencê-lo a, no segundo ato, fazer uma correspondência entre as duas histórias de amor: Prestes-Olga e Tristão-Isolda. O amor dos dois casais surgiu em uma viagem de navio. Tristão levava Isolda para o rei Mark, mas um filtro do amor, a bordo, acrescentou novos rumos à história. Prestes levava Olga para a revolução brasileira, mas um coquetel, a bordo, acrescentou novos rumos à história. Assim, no segundo ato uso muitas citações de Wagner.
Após concluir o primeiro ato, em 1987, tive que deixar de lado a composição por causa dos outros compromissos profissionais que tomavam meu tempo. A continuação do trabalho aconteceu em 1989, quando a Fundação Vitae me concedeu uma bolsa para composição do segundo ato. O terceiro ato só veio a ser escrito entre 1995 e 1997, quando o CNPq concedeu-me uma bolsa de pós-doutorado para pesquisa história e musical. Eu precisava encontrar várias melodias e cantos revolucionários dos grupos de que Olga participou. Precisava também esclarecer vários pontos obscuros dos últimos sete anos de vida de Olga: o período em que ela passou por três campos de concentração.
O fascínio por Olga, que sempre habitou minha mente, veio a ser um pouco explicado durante minha pesquisa nos arquivos de Bernburg: descobri que Olga havia sido assassinada, na câmara de gás, três semanas após a Páscoa. Nova pesquisa sobre essa festa móvel da igreja, naquele ano de 1942, me estarreceu. Olga morreu exatamente no dia em que eu nasci: 23 de abril de 1942.
Em 1988 eu e Gerson visitamos Prestes que leu a sinopse e fez algumas sugestões. Anita Leocádia acompanhou meu trabalho durante dez anos. Ela fez críticas ao libreto e corrigiu rumos: por exemplo, pediu que não desse muito espaço ao Rodolfo Ghioldi que, segundo ela, foi quem dedurou Prestes e Olga contando a Filinto que o casal se escondia no Méier.
No período compreendido entre 1993 e 2006 lutei intensamente buscando teatros, diretores, maestros, orquestras, empresas financiadoras, para a encenação. Não encontrei. Todos achavam que o libreto tratava de uma história de subversivos, exaltando Olga e Prestes comunistas, e eu com uma música contestadora e revolucionária.
Em 2003 montei exposição na UnB, com cerca de 60 cartas recebidas de empresas e teatros, com negativas a meus pedidos. Ao mesmo tempo organizei um abaixo-assinado dirigido ao governador do DF, pedindo a programação do espetáculo no Teatro Nacional. Chegamos a mais de 10 mil assinaturas. O governador não queria conceder audiência, para a entrega do documento. Organizamos então uma carreata rumo ao Palácio do Buriti, com mais de 200 músicos: orquestra, banda de música, orquestra de flautas, coro sinfônico. Foi um espetáculo à parte. Na frente da carreata ia o carro de som do SINTFUB, tocando a gravação da Abertura da ópera.
Mas não deu em nada: o governador recebeu o documento, e ficou tudo por aí mesmo.
Em 2003/2004 a Globo Filmes fez o filme Olga. Então tudo ficou mais fácil. Todos começaram a pensar: "Ah! Se a Globo faz, então o tema não é mais subversivo".
Enfim, minha ópera foi estreada no Theatro Municipal de São Paulo em outubro de 2006, 19 anos depois de ter sido sua composição iniciada, 13 anos depois de a ópera ter sido concluída.
Agora, finalmente, nos 3, 5 e 7 de julho de 2013, a ópera será encenada em Brasília.
A ópera OLGA usa uma linguagem musical moderna mas, de modo eclético, adota o uso de melodias e árias neotonais.
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