Eufrásio Prates
- Música Quântica e Holo-Fractal
Susto aos espíritos desprevenidos.
Susto aos espíritos desprevenidos.
Baiano de nascimento e paulistano de criação,
Eufrásio Prates
é uma pessoa muito especial.
Violonista clássico, apresentava-se em recitais em 1972 (10 anos de idade). Aos 14, montou uma banda de rock. Aos 20, uma banda de heavy metal. Em 1985, começou a estudar filosofia na USP e em 87, entrou na graduação em Música na FMU-SP. Apaixonado à primeira "ouvida" pela música de vanguarda (Boulez, Stockhausen, Penderecki, Ligeti etc), em 88, aos 26 anos, começou a estudar análise e composição com o brasileiro Heron Martins, estética e composição com o alemão Hans Joachim Koellreutter e composição eletrônica e eletroacústica com o uruguaio Conrado Silva.
Atualmente, é vice-presidente
da Associação Brasiliense de Comunicação & Semiótica
e professor de Semiótica da Mídia no ICESP-DF.
Residente em Brasília um dos cenários mais exóticos
e férteis da música eletrônica no país
-, Eufrásio Prates
produz música quântica e holofractal,
respectivamente suas teses de mestrado e doutorado.
Já ouviu falar?
Já ouviu falar?
CONEXÕES SEMIÓTICAS ENTRE A MÚSICA
Não fosse pelos numerosos e já assimilados "absurdos" a que fomos submetidos pela arte de vanguarda neste século XX, e não vai aqui nenhuma carga pejorativa, o título deste trabalho - Música Quântica -, causaria grande espanto à maioria dos espíritos desprevenidos. Passado o choque imediato, instigativo, viria a reflexão: ... se é que existe, qual seria a relação entre a música contemporânea e a mecânica quântica?
Existem dois níveis onde essa relação se dá. O primeiro, que evidentemente envolve toda a matéria do universo conhecido, é da concretude do fenômeno sonoro. Mas isso não quer dizer muito, pois mesmo os sons que não se estruturam musicalmente podem ser qualificados como quânticos, isto é, comportam-se como pequenos pacotes de massa que sobem e descem de nível nas camadas subatômicas, conforme as alterações de aumento ou diminuição da quantidade de energia.
Existem dois níveis onde essa relação se dá. O primeiro, que evidentemente envolve toda a matéria do universo conhecido, é da concretude do fenômeno sonoro. Mas isso não quer dizer muito, pois mesmo os sons que não se estruturam musicalmente podem ser qualificados como quânticos, isto é, comportam-se como pequenos pacotes de massa que sobem e descem de nível nas camadas subatômicas, conforme as alterações de aumento ou diminuição da quantidade de energia.
Meu trabalho vai bem além disso. Ele percebe que a nova física desenvolveu conceitos que permitem melhor compreender a realidade complexa em que vivemos. Esses conceitos fundamentais (acausalidade, atemporalidade, transracionalidade, multidimensionalidade, ametria, paradoxalidade etc.) foram identificados em minha pesquisa como paradigmáticos, isto é, presentes também em diversos outros campos do saber humano e, conseqüentemente, na música contemporânea. Sob esse conceito, me refiro exclusivamente à música experimental, que pode ser também chamada de música de vanguarda.
E aqui há uma confusão: quando um cientista fala de música eletrônica, refere-se à música que foi criada no final dos anos 40 e início dos 50, por autores eruditos como Krenek, Pousseur e Stockhausen e desenvolvida por muitos compositores da vanguarda até os dias de hoje. Em geral, os timbres e efeitos criados por esses experimentadores é que permitiram o desenvolvimento da música hoje popularmente compreendida como eletrônica, que pode incluir desde artistas pop como Madonna e Prince, até outros nem tanto, como Nine Inch Nail ou Einsturzende Neubauten; todos eles de alguma forma envolvendo sintetizadores e computadores. Quando falo em música contemporânea, estou me referindo a toda a vanguarda musical dos últimos 50 anos: Ligeti, Penderecki, Boulez, Stockhausen, Schaeffer, Berio, Nono, Koellreutter e outros.
Música Holo-fractal
O conceito de música holo-fractal, que estou desenvolvendo nos últimos anos, reúne uma visão holonômica da estética musical à manipulação fractal dos sons, sejam eles naturais, orgânicos ou artificiais, sintéticos. No momento, estou construindo novas possibilidades de linguagem musical, a que chamo de Música Holofractal, baseada na teoria Holonômica de David Bohm, na Ciência do Caos e na Geometria dos Fractais. A Semiótica tem sido o grande esteio metodológico dessa investigação.
A teoria do holomovimento, do físico David Bohm, considera que a realidade está totalmente integrada e interconectada, seja nas esferas visíveis, seja nas ocultas. Essa visão, profundamente ecosófica a meu ver, é a base de construção de um tipo de forma musical que pressupõe a inter-relação entre os sons, e entre som e silêncio, como algo mais importante que o próprio som, objeto sobre o qual se centra quase toda a música ocidental. Assim, o foco de minha atenção é a relação entre os sons.
Já os fractais desempenham um papel especial na composição das microestruturas de minha música. Enquanto muitos compositores utilizam os fractais para definir alturas e durações das notas, em geral tocadas com timbres originais de sintetizadores, meus experimentos aplicam o conceito de fractalidade aos espectros das ondas sonoras. Daí a contração: holo + fractal.
>Como acontece seu trabalho de criação musical?
Essa é uma pergunta difícil de responder por duas razões: primeiro porque esse é um processo dinâmico, que muda a cada momento de meus experimentos. A composição de cada uma de minhas peças dura, no mínimo, um ano. Nesse tempo, eu começo com um plano-sonho, isto é, com uma inspiração geralmente ouvida de sons naturais não processados o ruído de lâmpadas explodindo e cantos de pássaros, por exemplo, foi a origem de um dos meus trabalhos -, e evolui para a fase de produção a partir de samples (amostras) e tratamento espectral (mutações, convoluções etc.). Depois disso, o plano vai mudando conforme os resultados obtidos. Quando chego à fase de macro-estruturação das amostras tratadas fractalmente, sempre resulta algo que eu nunca poderia ter sonhado no momento do planejamento. A segunda razão é que, como todo trabalho experimental, as fronteiras da linguagem musical sempre nos exigem o uso profundo da intuição, sobre a qual é sempre muito difícil racionalizar e explicar.
"Disposto a criar experimentalmente, qualquer compositor musical fatalmente se defronta com uma série de questões cruciais. Entre várias, uma das principais é a perspectiva de alargamento das fronteiras técnico estéticas que, ao tempo em que o libera de atender aos padrões comunicacionais do mass market - como, por exemplo, a fundamentação da linguagem em códigos de amplo domínio público -, lhe exige um compromisso com as novas idéias da hodiernidade. A obtenção de resultados significativos através do exercício composicional dependerá, em grande parte, da capacidade do criador em aliar e inter-relacionar coerentemente o agir técnico experimental e o pensar estético-contemporâneo."
"Nunca vi ninguém dizendo que um clarinete ou um piano fazem música ruim, ou boa, pois é óbvio que depende do que um músico faz com eles. O mesmo vale para o computador. O problema está em que o clarinete não tem programas automáticos para GERAR música - os computadores sim. E geralmente estes programas fazem coisas muito repetitivas e limitadas, previsíveis."
"A música consiste, a princípio,
de um fenômeno extremamente transracional,
isto é, que toca profundamente
nas esferas psico-afetivas."
"A estética da música eletrônica é complexa e paradoxal, bastante adequada para refletir as novas descobertas que temos feito sobre o universo. Penso que essas novas formas musicais, tanto a eletrônica como as demais formas de vanguarda, são capazes de despertar a consciência sobre a importância de reconstituir e reintegrar uma humanidade fragmentada e dividida, já que reconhecem os fundamentos reticulares e interdependentes de todas as partes do cosmo.""Nunca vi ninguém dizendo que um clarinete ou um piano fazem música ruim, ou boa, pois é óbvio que depende do que um músico faz com eles. O mesmo vale para o computador. O problema está em que o clarinete não tem programas automáticos para GERAR música - os computadores sim. E geralmente estes programas fazem coisas muito repetitivas e limitadas, previsíveis."
(Eufrasio Prates Música Contemporânea, Semiótica e Comunicação)
Contemporânea, Semiótica e Comunicação)
Passeio relâmpago pelas idéias estéticas ocidentais
Passeio relâmpago pelas idéias estéticas ocidentais
Editora Valci (livro publicado em 1999)
Música Quântica: Conexões Semióticas Entre a Música
Música Quântica: Conexões Semióticas Entre a Música
e a Física Contemporâneas Editora Annablume (lançamento previsto para 2003)
www.absbsemiotica.cjb.net (Associação de Semiótica)
www.semiotica.org.br (Portal da Semiótica)
www.comunica.cjb.net (Comunicação)
www.semiotica.org.br (Portal da Semiótica)
www.comunica.cjb.net (Comunicação)
Digg-Twitter-Mugg--Facebook- del.icio.u
Eufrásio Prates - Música Quântica e Holo-Fractal
Susto aos espíritos desprevenidos.
16.01.03 01:45
Pablo Picasso
Li-Sol-30
Fonte:
http://rraurl.com/resenhas/255/
Nenhum comentário:
Postar um comentário