terça-feira, 18 de setembro de 2012

MAESTRO JOÃO CARLOS MARTINS Entrevista: 19:38 - Jô Soares - 17/03/2011




João Carlos Martins

 

 João Carlos Martins
Informação geral
Nome completo     João Carlos Gandra da Silva Martins
Nascimento     25 de junho de 1940 (72 anos)
Origem     São Paulo, SP
País     Brasil
Gêneros     Música clássica
Instrumentos     Piano
Período em atividade     1951 - atualmente
Influência(s)     Johann Sebastian Bach - Vivaldi - Mozart
Página oficial     www.joaocarlosmartins.com.br
João Carlos Gandra da Silva Martins  é um pianista e maestro brasileiro.
É irmão do jurista Ives Gandra da Silva Martins e do pianista José Eduardo Martins.[2]

Biografia

João Carlos[3] começou seus estudos ainda menino, no dia em que seu pai comprou um piano, com a professora Aida de Vuono. Aos oito anos, seu pai o inscreveu em um concurso para executar obras de Bach, vencendo-o. Começou a estudar no Liceu Pasteur e, com 11 anos, já estudava piano por seis horas diárias. Teve, no Liceu, aula com o maior professor de piano da época—um russo radicado no Brasil, chamado José Kliass, e venceu então o concurso da Sociedade Brito de São Petersburgo.

Seus primeiros concertos trouxeram a atenção de toda a crítica musical mundial. Foi escolhido no Festival Casals, dentre inúmeros candidatos das três Américas para dar o Recital Prêmio em Washington.[1] Aos vinte anos estreou no Carnegie Hall, patrocinado por Eleanor Roosevelt. Tocou com as maiores orquestras norte-americanas e gravou a obra completa de Bach para piano. Foi ele quem inaugurou o Glenn Gould Memorial em Toronto.

João Carlos Martins viu-se por diversas vezes privado de seu contato com o piano, como quando teve um nervo rompido e perdeu os movimentos da mão direita em um acidente em um jogo de futebol em Nova Iorque.

Com vários tratamentos, recuperou parte dos movimentos da mão, mas com o correr dos anos desenvolveu a doença chamada Contratura de Dupuytren. Novamente teve que parar de tocar, e dessa vez acreditou seria para sempre. Vendeu todos seus pianos e tornou-se treinador de boxe, querendo estar o mais longe possível do que sua carreira significava como músico. Mas sua incontrolável paixão o fez retornar, e realizou grandes concertos, comprou novos instrumentos e tentou utilizar o movimento de suas mãos criando um estilo único de tocar e aproveitar ao máximo a beleza das peças clássicas. Utilizou-se da mão esquerda para suas peças e obteve extremo sucesso com esta atitude.

Ao realizar um concerto em Sofia na Bulgária, sofreu um ataque em um assalto, e um golpe na cabeça lhe fez perder parte do movimento de mãos novamente.[1] E ao se esforçar, sofria dores intensas em suas mãos, principalmente na esquerda. Novamente pensou que nunca mais voltaria a tocar. João perdeu anos de sua carreira em tratamentos, treinamentos e encontrou novamente uma nova maneira de tocar, utilizando os dedos que podia em cada mão, mas dia a dia podia tocar menos e menos com o estilo e maestria de antigamente.

Essa paixão de João Carlos pela música inspirou um documentário franco-alemão chamado Die Martins Passion, vencedor de quatro festivais internacionais—FIPA d'Or 2004[4], Banff Rockie Award 2004; Centaur com o melhor documentário de longa-metragem, S. Petersburgo; Best Documentary Award, Pocono Mountains Film Festival, USA.O documentário franco-alemão sobre a sua vida - "Paixão segundo Martins" - já foi visto por mais de um milhão e meio de pessoas na Europa. Também já foi exibido em algumas oportunidades na TV aberta no Brasil, no caso a TV Cultura.

“Eu estava sem rumo, em 2003, já sabendo que não poderia mais tocar nem com a mão esquerda. Sonhei então, que estava tocando piano, com o Eleazar de Carvalho, que me dizia: - vem para cá, que eu vou te ensinar a reger.” - palavras de João Carlos em uma entrevista.

Em maio de 2004, esteve em Londres regendo a English Chamber Orchestra, uma das maiores orquestras de câmara do mundo, numa gravação dos seis Concertos Branndenburguenses de Johann Sebastian Bach e, já em dezembro, realizou a gravação das Quatro Suites Orquestrais de Bach com a Bachiana Chamber Orchestra.[5] Os dois primeiros CDs já foram lançados (lançamento internacional).

Incapaz de segurar a batuta ou virar as páginas das partituras dos concertos, João Carlos faz um trabalho minucioso de memorizar nota por nota, demonstrando ainda mais seu perfeccionismo e dedicação ao mundo da música.[carece de fontes]

João Carlos realiza também, na Faculdade de Música da FAAM, um programa de introdução à música com jovens carentes.[carece de fontes]
A atuação de resgatar a música para as pessoas que conhecem ou ainda nunca tiveram contato com ela faz parte deste "momento mágico" em que vive o maestro João Carlos Martins. Trabalha diariamente com pessoas de todas as camadas por querer mostrar que realmente "A música venceu!". E consegue.[carece de fontes]

Em fevereiro de 2004 o crítico inglês descreve na International Piano Magazine um episódio pitoresco que aconteceu na vida de João Carlos Martins, quando após um recital no Carnegie Hall, no final dos anos 60, recebeu uma recomendação de Salvador Dalí: "Diga a todos que você é o maior intérprete de Bach, algum dia vão acreditar. Faz muitos anos que digo ser o maior pintor do mundo e já há gente que acredita". O crítico termina dizendo que João Carlos Martins não teve que esperar tanto tempo.[carece de fontes]
Recentemente[quando?], a TV Cultura exibiu o Roda Vida ao vivo com o Maestro, o qual entre tantas partes emocionantes, também utilizou um piano digital para algumas demonstrações.

É torcedor fanático da Associação Portuguesa de Desportos, tendo tocado o hino nacional brasileiro, no último jogo da temporada de 2007 no estádio Dr. Oswaldo Teixeira Duarte lotado, fato considerado por muitos o momento mais emocionante do Campeonato Brasileiro da Série B de 2007.[carece de fontes]
Foi homenageado pela escola de samba paulistana Vai-Vai com o enredo "A Música Venceu", tendo o maestro como destaque no último carro e em alguns momentos do desfile "regendo" a bateria da agremiação. A escola se tornaria campeã do carnaval desse ano.[carece de fontes]

Caso "Pau Brasil"

No dia 3 de março de 2009, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), em São Paulo, condenou João Carlos Martins por crimes contra a ordem tributária, em um processo relativo ao caso "Pau Brasil", na década de 1990. Martins foi condenado junto com seu sócio, Rubens Kaufman, por irregularidades encontradas em outra de suas construtoras, a Entersa Construções e Empreendimentos Ltda, que cometeu várias fraudes na sua contabiliade para esconder da Receita Federal quanto recebia e no que gastava seus recursos.

O Maestro  |  " A música venceu..."

Livros

A Saga das Mãos - João Carlos Martins
10ºCapítulo: Um piano na janela

 
 Londres, 25 de junho de 1998. Sozinho no camarim do Barbican Centre, aguardo o
momento de subir ao palco para tocar ao 1000 dos músicos da Royal Philharmonic
Orchestra. 0 burburinho da platéia lotada achega até mim como o bramido de um mar
distante. Nesse dia, completo 58 anos e mais de meio século já se passou desde que dedilhei pela primeira vez o teclado de um piano. Mas não é isso que toma a data tão especial. 


Três horas antes, eu havia conversado por telefone com meus médicos em Miami. E confirmei a operação que iria seccionar o nervo de minha mão direita, acabando para sempre com
minha carreira de pianista. A multidão que se aglomera na platéia não sabe de nada,nem os
músicos nem a imprensa. Apenas eu e meus médicos sabemos que aquele é meu concerto
de adeus. Fiz questão de não criar nenhum drama público. Nas próximas horas, a dor que
eu levaria para o palco seria minha - e de mais ninguém.


Apagam-se as luzes e o chefe de palco me chama para entrar. Enfrento a platéia
como urn velho leão que oculta suas cicatrizes. Contudo, no segundo movimento do
concerto,se uma câmera se aproximasse de meu rosto, captaria as lágrimas escorrendo,
discretas, inexoráveis.


E um momento de indescritível solidão. Entre as mil e tantas pessoas presentes ao
teatro, sou o único a saber que tudo vai acabar naquela noite. A sensação é fugaz, etérea,
mas, por uma fração de segundos, sinto uma presença a meu lado. Trata-se de um menino,
um menino que só eu vejo. José é seu nome. José não leu os jomais do dia .Nao viu os
elogios que a crítica inglêsa teceu ao pianista que está se apresentando naquela noite. Não
sabe que ele consolidou uma carreira musical interpretando Bach com toda sua alma e
paixão. Quando andava pelas mas da cidade portuguêsa de Braga, em fins do século XlX,
correndo de um emprego para outro, o menino José ainda não sabia de nada disso. Mas é
graças a ele que estou aqui. Nos anos  seguintes, o menino tomou-se homem, e esse
homem tomou-se meu pai. E seu amor à musica é o ponto de partida de minha história.


 

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