quinta-feira, 21 de novembro de 2013

MoMA e ARTE BRASILEIRA


MoMA - 2013 - 9min.
 
  
 
MoMA 2013 - 4min.

Alfabeto enfurecido, de León e Mira

Com a curadoria do MoMA de Nova York, a exposição com obras de Mira Schendel e León Ferrari se apresentou em outros museus, como no Reina SofÍa, em Madri, e na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre
 
 
 MoMA -NY

 
 
MoMA - Museu fantástico - 2013 - 10min.

Entrevista com Luis Pérez-Oramas
Arte!Brasileiros: Você acredita que a arte latino-americana ocupa hoje um lugar alternativo no circuito internacional de arte?
 


















 
Luis Pérez-Oramas:Não acredito que a arte latino-americana ocupe algum lugar “alternativo” no circuito internacional da arte. Acho que o tema do “alternativo” latino-americano pode ter servido e ainda serve como uma espécie de slogan para o mercado. Foi utilizada com maior ou menor astúcia a ideia de que a modernidade ou a arte contemporânea latino-americanas eram alternativas. Acho que deveríamos pensar melhor o assunto e encontrar categorias mais sérias, assim como mais eficazes técnicas de marketing cultural e branding.

 Vou me explicar.
 A ideia do alternativo se baseia na ideologia da diferença, que no fundo não é outra coisa se não uma nova cara para o velho fascínio europeu pelo “exótico”. Como latino-americanos devemos aprender e entender nossas especificidades históricas, nossa pertinência e nosso aporte transformador no campo da arte da cultura ocidental. Devemos cuidar das generalizações e nos manter alerta, criticamente alertas perante a afirmação de que existiria uma homogeneidade latino-americana na arte, seja na moderna seja na contemporânea.

Felizmente penso que o sentido e o significado precedem e determinam o valor estético, artístico ou econômico das obras de arte. Mas existe uma subestimação quando se trata de interpretar o sentido de nossas múltiplas e variadas histórias quanto à prática das artes moderna e contemporânea latino-americanas.


Enquanto não construirmos nossa própria “teoria histórica” seguiremos como objeto da fascinação dos europeus e norte americanos pelo exótico. A boa notícia é que, dito isto, a arte latino-americana parece estar cada vez mais presente nos museus, coleções, revistas, galerias, feiras, etc.

AB.: Alguma tendência que lhe chame mais a atenção?
L.P.O.:
Pelas mesmas razões expostas anteriormente não devo generalizar. Eu me atreveria a dizer que são os artistas e não os críticos ou os historiadores, com raras exceções, que melhor fazem uma revisão crítica sobre o legado da arte moderna em diferentes países do nosso continente. Finalmente, me interessa observar o que ficou hoje das práticas artísticas, ou talvez meta-artísticas, mais radicais que, no final dos anos 1960 e durante os 1970 e 1980 estabeleceram modalidades de ações simbólicas que questionavam radicalmente a própria ideia de arte como algo encarnado em um objeto ou em uma ação. O que fazem hoje os artistas contemporâneos com esse legado? Aí vejo duas tendências: uma é claramente conservadora e trata de negociar com as instituições uma reobjetivação dessas práticas radicais, tornando possível sua inserção no espaço disciplinar do museu e da arte, há aí gestos excelentes, na medida em que isso serve para inserir a crítica da instituição artística em seus espaços de capitalização, e há aí, também, gestos decepcionantes, na medida em que, adequando práticas radicais híbridas e nômades à ideia tradicional de meios e objetos artísticos isso as neutraliza e as fetichiza. Em geral, me interessa observar o que existe hoje de práticas artísticas como a pintura, a gravura, ou mesmo o vídeo, em sua relação com a história moderna das artes como “deformação coerente” do mundo.

AB.: Entre os países emergentes do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) qual está mais próximo do alvo da programação do MoMA?
L.P.O:
Obviamente existe uma vinculação muito forte com o Brasil, afinal é uma nação que pertence à mesma área simbólica e cultural do Estados Unidos, e o MoMA, desde sua fundação, colecionou e exibiu arte brasileira. Portinari, por exemplo, foi um dos primeiros artistas a ganhar uma individual em nosso museu, junto com Rivera ou Matisse. O museu colecionou algo de arte moderna da Índia, desde o final dos anos 1950 e durante os anos 1960, e arte da China só depois que terminou a Revolução Cultural e no começo da abertura diplomática da China ao mundo. Mas, evidentemente, não existe comparação. Por outro lado, essas categorias de desenvolvimento econômico, que eu considero muito duvidosas em sua coerência intelectual interna, não podem ser projetadas para entender os problemas culturais. Na realidade, não servem. É ridículo pensar que culturas como a Índia ou a China, incalculavelmente ricas e milenares, possam ser chamadas de emergentes. Isso seria o cúmulo do neocolonialismo europeu, para não dizer que é o cúmulo da ignorância.


AB.: Nelson Rockefeller foi muito importante para a criação da Bienal de Arte de São Paulo, que era uma programação do MoMA de SP. Hoje como os mecenas americanos atuam fora das fronteiras dos Estados Unidos?
L.P.O:
Não creio que se possa generalizar. O mundo é hoje radicalmente diferente do que era durante a Guerra Fria e o pós-guerra. Por outro lado, as iniciativas da Fundação Rockefeller não podem ser historicamente simplificadas. Pode-se dizer que para a cultura e para a política do século XX os Rockefeller são uma família equivalente aos Médici. E há nela diferenças tão complexas quanto as que havia entre Lourenço, o Magnífico, e Maria de Médici. E quanto aos mecenas atuais, entre os quais os Rockefeller continuam ocupando a primeira linha, sua atividade é muito diferente e não me compete – nem tenho conhecimento suficiente – para dar uma opinião específica. Mas eu sublinharia algo: existe uma cultura do mecenato e do patronato cultural nos Estados Unidos que é única e incomparável no mundo. E na America Latina aprenderíamos muito – há casos brilhantes, principalmente no Brasil – seria interessante que encontrássemos uma maneira para construir, em nosso países, algo equivalente.

AB.: De que maneira o MoMA pode dar mais espaço para a arte brasileira contemporânea?
L.P.O:
O Brasil é prioridade no MoMA. Temos adquirido e exposto arte brasileira. Temos organizado grandes exposições com artistas brasileiros: Tangled Alphabets, de León Ferrari e Mira Schendel é um exemplo. E há muitos projetos futuros com arte brasileira. Entre eles, nosso Programa Internacional vai publicar, por exemplo, uma antologia em inglês dos escritos de Mario Pedrosa.

QUANDO
foi inaugurado, em Nova York, o Museu de Arte Moderna – mais conhecido por MoMa – tinha em seu acervo 8 pinturas e 1 desenho. Poucos dias depois, deu-se o Crack da Bolsa, em 1929. Hoje, o prédio, várias vezes remodelado, abriga uma coleção de mais de 150 mil obras, contando Demoiselles D’Avignon, de Picasso; um dos ready-mades com roda de bicicleta de Marcel Duchamp e Noite Estrelada, de Vincent Van Gogh. Por traz dessa história estão três mecenas, Lillie Bliss, John Rockfeller Jr. e Cornelius Sullivan.

Luis Pérez-Oramas 

é curador do The Estrellita Brodsky 
e
 Curador de Arte Latino Americana do Museum of Modern Art, de Nova York


Galerista de grandes artistas - André Millan

Filho de colecionador, André Millan aprendeu a gostar de arte dentro da própria casa, frequentada por ícones da arte brasileira


Meu pai, Fernando Millan, foi antiquário, teve galeria, trabalhou na comissão da Exposição do IV Centenário da Cidade de São Paulo, na Bienal Internacional de Artes e também no MASP. Convivo com esse meio desde que nasci. Tenho formação acadêmica em história e, quando terminei o bacharelado, fui fazer um curso de história da arte na França. Voltei para o Brasil e fui trabalhar com meu pai. Tempos depois, abri minha própria galeria, já tinha muito contato com os artistas.

Meu pai era muito amigo da Mira Schendel, uma das artistas de quem, hoje, representamos o espólio. Artistas como Di Cavalcanti se hospedavam em nossa casa. O Artur Barrio – que, coincidentemente, trabalha comigo, hoje, e vai participar da próxima Bienal – foi um dos artistas que expus com meu pai, há 25 anos. Abri minha galeria no princípio da década de 1990. Um período muito difícil.

Meu pai fechou a galeria dele, justamente, porque o mercado estava absolutamente estagnado. Montei um pequeno espaço, representando alguns artistas, e alguns deles estão comigo até hoje, como o Tunga.
Minha percepção de mercado é reservada. Acho que o mercado de arte anda, hoje, numa velocidade acima da desejada. Assim como o mundo. Existe uma pressa e um desejo de sucesso – seja ele financeiro ou de reconhecimento – que são muito perigosos. Uma carreira se constrói com trabalho. Tem que dar lastro às coisas e ao tempo. Não acredito em tendências, em modismos, em carreiras efêmeras. O trabalho da galeria é realizado dia após dia e tem de ser desenvolvido para um resultado a longo prazo.


Você tem exemplos e exemplos de artistas que fizeram muito sucesso em algum período e viraram pó.

Desapareceram. Acho que essa urgência em valorizar o trabalho é uma alternativa menos válida. O tempo é quem dá estas respostas. Você pega uma grande artista como Mira Schendel, que foi reconhecida, mundialmente, só depois de sua morte; artistas como Artur Barrio, como o Tunga ou mesmo Miguel Rio Branco, estão aí trabalhando, há 20, 30, 40 anos, para serem reconhecidos.

A estratégia correta é essa, fugir das tendências, 
dos modismos e dessa velocidade que é imposta pelo mercado de artes. 

A atuação da galeria tem de ser lenta e gradual, para conferir consistência. Atitudes que resultam em um trabalho que perpetua e desperta interesse fora do País. O mercado internacional é muito bem-vindo e é ótimo que ele seja receptivo com a arte produzida aqui. Evidentemente, a arte contemporânea cresce em progressão geométrica. A tendência de hoje é não existir mercado nacional e internacional, e sim um mercado comum, que abrange todos os continentes. Um mercado sem fronteiras.
Galeria Millan
R. Fradique Coutinho, 1360
Fone: (11) 3031-6007
www.galeriamillan.com.br

O mais recente orgulho de Porto Alegre

Museu gaúcho entra no circuito internacional e recebe a mostra O Alfabeto Enfurecido

Desde 2008 instalada em um edifício arrojadíssimo, da lavra do arquiteto português Álvaro Siza, a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, mantém-se fiel a duas frentes: organizar exposições de importância inconteste e trabalhar, no dia-a-dia, para ampliar o acesso das novas gerações à arte.

Essa disposição pode ser constatada na prática. Até o dia 11 de julho, a instituição promove uma ampla exposição da obra de dois artistas plásticos de peso. A suíça, radicada no Brasil, Mira Schendel (1919-1988) e o argentino León Ferrari (que completa 90 anos, neste ano) têm muito em comum. Ambos trataram a linguagem com uma postura e um olhar absolutamente novos.


A exposição vem sendo visitada não apenas por quem se interessa por artistas ousados e inovadores. Centenas de crianças também estão admirando a mostra, assim como a coleção permanente da Fundação Iberê Camargo. O eficiente programa educativo da instituição tem curadoria pedagógica de Luis Camnitzer – um dos mais importantes artistas contemporâneos, historiador e professor emérito da Universidade do Estado de Nova York – e visa a transformar professores de colégios de nível fundamental e médio em agentes propagadores da arte.

As visitas escolares têm o apoio de uma assistência eficiente, talhada para inspirar visão crítica. As visitas especiais ao prédio da Fundação contemplam a capacitação para os professores, que acompanham os alunos às palestras e às visitas mediadas com exercícios práticos e de ateliê. Cada educador recebe um portfólio com informações sobre as mostras e reproduções das obras expostas. Tudo para estimular o interesse dos alunos.

As crianças e os adolescentes têm acesso ao chamado “diário de bordo”, criado para atender as diversas faixas etárias, com bloco de anotações que inclui não apenas informações sobre vida e obra de artistas, mas também páginas em branco. Assim, cada visitante pode desenhar a partir do que vê nas exposições. A expectativa é a de que o material, mais tarde, seja debatido nas salas de aula.


Projeto educativo, eficiente suporte para a compreensão da mostra
Pontualmente às 10h da manhã, dezenas de crianças em fila aguardam a abertura das portas da Fundação Iberê Camargo em grande euforia. É a primeira vez que muitos deles têm contato com uma exposição de arte e a oportunidade de aprender sobre as histórias por trás de cada tela. Recepcionados por mediadores, os estudantes recebem material pedagógico especialmente desenvolvido pelo Programa, e seguem por entre as rampas brancas do prédio desenhado pelo português Álvaro Siza.

A cena se repete diversas vezes ao longo de todos os dias da semana graças ao do Programa Educativo da Fundação Iberê Camargo, iniciativa gratuita que desde 1999 busca sensibilizar o olhar de alunos, educadores e público em geral para a arte moderna e contemporânea, através da obra de Iberê Camargo e de outros artistas que integram a programação da Fundação.

O projeto ganhou força com a inauguração da nova sede da Fundação Iberê Camargo, em um celebrado projeto que tem atraído olhares internacionais para Porto Alegre. A programação especial dedicada a professores e estudantes conta com capacitação para educadores, que inclui expedições ao prédio da Fundação, palestras e visitas mediadas com exercícios práticos e de ateliê. A ideia é que cada professor se transforme em um agente propagador da arte, levando o conhecimento adquirido para atividades em salas de aula. Junto com a capacitação, é distribuído o Material do Professor, kit com informações sobre as exposições a serem visitadas e dezenas de reproduções de diferentes tamanhos das obras expostas, que trazem dados fundamentais sobre a produção do artista e servem para que o professor trabalhe com os seus alunos. A partir delas, os educadores podem estimular os alunos a lançarem um olhar crítico sobre as obras, desenvolvendo inclusive a sua própria curadoria para uma exposição.

Já os estudantes são recebidos com o Diário de Bordo, bloco de anotações especialmente criado para ser utilizado por alunos de diversas faixas etárias. Além de informações preciosas sobre o prédio da Fundação e sobre vida e obra dos artistas, o caderno traz folhas em branco, que durante as visitas mediadas são usadas por crianças e jovens para desenhar a partir da visualização da arte exposta.

O Programa Educativo
Com o seu foco na obra de Iberê Camargo e na arte moderna e contemporânea, o Programa Educativo tem curadoria pedagógica desenvolvida por Luis Camnitzer, professor emérito da Universidade do Estado de Nova Iorque. O projeto pretende que o público se aproprie da arte e das suas concepções, favorecendo a interação e a recepção da arte pelo público, na busca por instigar a curiosidade e a investigação.

Mais do que promover a obra de Iberê Camargo, o programa promove o pensamento artístico contemporâneo e potencializa o papel dos visitantes como um proponente e um agente do projeto, construindo seus programas e atividades de forma coordenada com educadores, estudantes e visitantes em geral. Parte das atividades promovidas são também oferecidas ao público em geral nos fins de semana e feriados, voltados para famílias, crianças, adolescentes e outros grupos. A Fundação Iberê Camargo conta com a colaboração das empresas Gerdau, Petrobras, Itaú, Vonpar e De Lage Landen para o desenvolvimento das atividades.

PARCERIA EDITORIAL INÉDITA

A Cosac Naify assinou em 2009 a primeira parceria de uma editora brasileira com o MoMA – Museum of Modern Art de Nova York com o objetivo de publicar o catálogo bilingue português – inglês da mostra León Ferrari – Mira Schendel: Tangled Alphabets, organizada pelo curador de arte latino-americana do MoMA, Luis Pérez-Oramas.
Somou-se a esta parceria a Fundação Iberê Camargo, de Porto alegre, onde atualmente está montada a exposição e que permanecerá em cartaz até o dia 11 de julho de 2010.
O catálogo foi lançado no dia 9 de abril na Fundação Iberê Camargo e está disponível nas livrarias.


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