Gustav Mahler -Sinfonia N1 " O Titã "-
Claudio Abbado,
Orquestra Filarmônica Scala - 55m
Sinfonia N.41- Júpiter
Um dos principais artistas vivos, italiano combina como poucos o amor às
artes com consciência social e ambiental, em iniciativas pioneiras.
"Cultura é tão essencial à vida quanto a água", diz o seu credo.
Nascido em Milão, no norte da Itália, em 26 de junho de 1933, Claudio
Abbado é um migrante entre os mundos. No entanto, no intervalo entre um
concerto e outro, o maestro – há décadas aclamado pelo público das
maiores salas de concerto internacionais – geralmente prefere se
recolher à solidão.
Um de seus refúgios prediletos fica na costa oeste da Sardenha. Lá ele cultiva carinhosamente seu jardim, onde buganvílias e bananeiras crescem com exuberância. É nesse local idílico, a meio caminho entre a Itália e a Espanha, que Abbado reúne forças para sua movimentada vida profissional.
Sob o encanto de Debussy
O menino Claudio entrou muito cedo em contato com a música. Seu pai Michelangelo, violinista, compositor e, por mais de 50 anos, professor do Conservatório de Milão, também praticava música de câmara em casa com os amigos. E a mãe, Maria Carmela, pianista e autora de livros infantis, despertou no garoto o amor precoce pelo piano.
"Cresci ao som dos trios de Schubert, Brahms e Beethoven", recorda o regente. Aos 7 anos, no célebre Teatro alla Scala, ele teve uma vivência musical decisiva.
Aos 16 anos, iniciou os estudos musicais no conservatório, cursando piano, composição, harmonia, contraponto e, mais tarde, orquestração. Após se formar, em 1953, Abbado passou a realizar turnês com diversos conjuntos de câmara.
No entanto, o jovem de 20 anos ainda não almejava a grande carreira artística. Em vez de ir para Viena, seguindo a indicação do maestro indiano Zubin Mehta, de início ele preferiu lecionar música de câmara em Parma.
Música como diálogo
Pouco depois, contudo, recebeu dois importantes prêmios de regência, tornou-se assistente de Leonard Bernstein e estreou no Festival de Salzburgo. E em 1968 foi contratado pelo Scala de Milão. Assim estava aberto o caminho para uma vertiginosa ascensão profissional, cujas próximas estações seriam Londres, Chicago, Viena e Berlim, entre outras.
Ao contrário do lendário Arturo Toscanini, temido pelos músicos de orquestra do Scala, Abbado decidiu não ser um regente autoritário. Em vez disso, ele procurou o diálogo com os instrumentistas. "O mais importante é todos escutarem um ao outro", resume. Mesmo nas obras para grande orquestra, isso resulta numa clareza camerística em que cada músico está atento às linhas melódicas dos demais.
Ao reger, Abbado não necessita de muitas palavras e se comunica sobretudo através de olhares e gestos. E é dessa forma sutil – moldando cuidadosamente as nuances da música com a mão esquerda, enquanto marca o compasso com a direita –, que ele consegue evocar precisamente aquela magia sonora com que sonhava em criança.
Arte para todos
Eterno incentivador dos jovens talentos, no final da década de 70 ele foi um dos fundadores da atual Orquestra Jovem da União Europeia. Em 1986, criou a Gustav Mahler Jugendorchester, que reunia músicos do Oeste e o do Leste Europeu antes mesmo da queda do Muro de Berlim. Ela foi a origem de uma ampla família internacional de orquestras juvenis, cujos membros hoje integram os conjuntos orquestrais de ponta.
Abbado não se limitou a fazer nome como grande intérprete do
repertório consagrado, com Mozart, Beethoven, Mahler ou Bruckner, mas
também como paladino da arte de vanguarda. Nos anos politicamente
conturbados que se seguiram a 1968, na qualidade de diretor musical do
Teatro Scala, ele abriu as portas da tradicional casa de ópera milanesa
para operários e estudantes.
Ao lado de dois compatriotas, o compositor Luigi Nono e o pianista Maurizio Pollini, ele promoveu concertos em fábricas, visando conquistar um novo público para a música erudita. E, na qualidade de diretor musical geral da capital austríaca, através do festival Wien Modern, incentivou a enriquecedora combinação de composições contemporâneas com artes plásticas, dança e cinema.
Entre 1989 e 2002, ocupando o posto de maestro titular da Filarmônica de Berlim, Abbado fez questão de construir novas pontes entre salas de concerto, teatros, cinemas e museus da capital da Alemanha reunificada.
"Para mim, Berlim é a cidade mais cosmopolita", afirma o músico até hoje. Ignorando as demarcações tradicionais entre as diversas atividades artísticas, ele contribuiu, muito antes de outras personalidades culturais, para levar as artes a todos os cantos da sociedade.
"Cultura é como água"
"A cultura é um bem comum da sociedade, tão essencial à vida quanto a água. Teatros, bibliotecas, museus e cinemas são como numerosos pequenos aquedutos", declarou recentemente na televisão italiana, ao criticar os cortes radicais dos orçamentos culturais em seu país natal.
Seus concertos beneficentes em cidades da Itália arrasadas por terremotos provaram que, em tempos difíceis, a música não só tem a capacidade de consolar, como também de promover coesão social.
Depois de executar a Sinfonia trágica de Franz Schubert na cidade destruída de L'Aquila, em 2009, Abbado voltou-se agradecido e emocionado para o público. Da mesma forma, após os graves tremores na região da Emilia Romagna, em 2012, ele e suas orquestras estavam a postos para coletar donativos para a restauração do histórico Teatro Comunale de Ferrara.
Da mesma forma, na região do nordeste do Japão devastada por um tsunami
em 2011, o maestro vai se apresentar, em outubro do ano em que completa
sua oitava década de vida, numa sala de concertos móvel, criada
especialmente para o Festival de Lucerna, em que também atua
intensamente.
Atualmente sua Orchestra Mozart realiza em Bolonha projetos com crianças enfermas e com detentos, enquanto o sistema italiano de orquestras jovens, desenvolvido graças à participação ativa do maestro, promove em todo o país a educação musical de crianças e adolescentes carentes.
Ao lado da educação, a proteção do meio ambiente é uma paixão de Abbado. Num aterro sanitário da Sardenha, ele criou uma reserva natural, com livre acesso para pedestres e ciclistas. E na metrópole Milão – onde já pleiteou sem sucesso que fossem plantadas 90 mil novas árvores –, o usuário convicto das energias limpas se bate pela redução do tráfego de automóveis.
Um coração enorme e um infatigável espírito curioso e desbravador caracterizam a vida de Claudio Abbado. "Não aceito fronteiras e estou sempre à procura do novo", é como ele se define. "Pois quando a pessoa acredita saber tudo, aí acabou-se a vida."
Um de seus refúgios prediletos fica na costa oeste da Sardenha. Lá ele cultiva carinhosamente seu jardim, onde buganvílias e bananeiras crescem com exuberância. É nesse local idílico, a meio caminho entre a Itália e a Espanha, que Abbado reúne forças para sua movimentada vida profissional.
Sob o encanto de Debussy
O menino Claudio entrou muito cedo em contato com a música. Seu pai Michelangelo, violinista, compositor e, por mais de 50 anos, professor do Conservatório de Milão, também praticava música de câmara em casa com os amigos. E a mãe, Maria Carmela, pianista e autora de livros infantis, despertou no garoto o amor precoce pelo piano.
No Scala de Milão, o menino Claudio descobriu sua vocação para fazer música
"Cresci ao som dos trios de Schubert, Brahms e Beethoven", recorda o regente. Aos 7 anos, no célebre Teatro alla Scala, ele teve uma vivência musical decisiva.
"Quando escutei os Nocturnes
[para orquestra] de Debussy, senti imediatamente o desejo
de também produzir, eu mesmo, essa magia da música."
Aos 16 anos, iniciou os estudos musicais no conservatório, cursando piano, composição, harmonia, contraponto e, mais tarde, orquestração. Após se formar, em 1953, Abbado passou a realizar turnês com diversos conjuntos de câmara.
No entanto, o jovem de 20 anos ainda não almejava a grande carreira artística. Em vez de ir para Viena, seguindo a indicação do maestro indiano Zubin Mehta, de início ele preferiu lecionar música de câmara em Parma.
Música como diálogo
Pouco depois, contudo, recebeu dois importantes prêmios de regência, tornou-se assistente de Leonard Bernstein e estreou no Festival de Salzburgo. E em 1968 foi contratado pelo Scala de Milão. Assim estava aberto o caminho para uma vertiginosa ascensão profissional, cujas próximas estações seriam Londres, Chicago, Viena e Berlim, entre outras.
Ao contrário do lendário Arturo Toscanini, temido pelos músicos de orquestra do Scala, Abbado decidiu não ser um regente autoritário. Em vez disso, ele procurou o diálogo com os instrumentistas. "O mais importante é todos escutarem um ao outro", resume. Mesmo nas obras para grande orquestra, isso resulta numa clareza camerística em que cada músico está atento às linhas melódicas dos demais.
Ao reger, Abbado não necessita de muitas palavras e se comunica sobretudo através de olhares e gestos. E é dessa forma sutil – moldando cuidadosamente as nuances da música com a mão esquerda, enquanto marca o compasso com a direita –, que ele consegue evocar precisamente aquela magia sonora com que sonhava em criança.
Arte para todos
Eterno incentivador dos jovens talentos, no final da década de 70 ele foi um dos fundadores da atual Orquestra Jovem da União Europeia. Em 1986, criou a Gustav Mahler Jugendorchester, que reunia músicos do Oeste e o do Leste Europeu antes mesmo da queda do Muro de Berlim. Ela foi a origem de uma ampla família internacional de orquestras juvenis, cujos membros hoje integram os conjuntos orquestrais de ponta.
Gestos e olhares, poucas palavras: o sutil estilo Abbado
Ao lado de dois compatriotas, o compositor Luigi Nono e o pianista Maurizio Pollini, ele promoveu concertos em fábricas, visando conquistar um novo público para a música erudita. E, na qualidade de diretor musical geral da capital austríaca, através do festival Wien Modern, incentivou a enriquecedora combinação de composições contemporâneas com artes plásticas, dança e cinema.
Entre 1989 e 2002, ocupando o posto de maestro titular da Filarmônica de Berlim, Abbado fez questão de construir novas pontes entre salas de concerto, teatros, cinemas e museus da capital da Alemanha reunificada.
"Para mim, Berlim é a cidade mais cosmopolita", afirma o músico até hoje. Ignorando as demarcações tradicionais entre as diversas atividades artísticas, ele contribuiu, muito antes de outras personalidades culturais, para levar as artes a todos os cantos da sociedade.
"Cultura é como água"
"A cultura é um bem comum da sociedade, tão essencial à vida quanto a água. Teatros, bibliotecas, museus e cinemas são como numerosos pequenos aquedutos", declarou recentemente na televisão italiana, ao criticar os cortes radicais dos orçamentos culturais em seu país natal.
Seus concertos beneficentes em cidades da Itália arrasadas por terremotos provaram que, em tempos difíceis, a música não só tem a capacidade de consolar, como também de promover coesão social.
Depois de executar a Sinfonia trágica de Franz Schubert na cidade destruída de L'Aquila, em 2009, Abbado voltou-se agradecido e emocionado para o público. Da mesma forma, após os graves tremores na região da Emilia Romagna, em 2012, ele e suas orquestras estavam a postos para coletar donativos para a restauração do histórico Teatro Comunale de Ferrara.
Orchestra Mozart executa "Pedro e o Lobo" de Prokofiev, narrado por Roberto Benigni (esq.)
Atualmente sua Orchestra Mozart realiza em Bolonha projetos com crianças enfermas e com detentos, enquanto o sistema italiano de orquestras jovens, desenvolvido graças à participação ativa do maestro, promove em todo o país a educação musical de crianças e adolescentes carentes.
Ao lado da educação, a proteção do meio ambiente é uma paixão de Abbado. Num aterro sanitário da Sardenha, ele criou uma reserva natural, com livre acesso para pedestres e ciclistas. E na metrópole Milão – onde já pleiteou sem sucesso que fossem plantadas 90 mil novas árvores –, o usuário convicto das energias limpas se bate pela redução do tráfego de automóveis.
Um coração enorme e um infatigável espírito curioso e desbravador caracterizam a vida de Claudio Abbado. "Não aceito fronteiras e estou sempre à procura do novo", é como ele se define. "Pois quando a pessoa acredita saber tudo, aí acabou-se a vida."
- Data 26.06.2013
- Autoria Corina Kolbe / Augusto Valente
- Edição Alexandre Schossler
Fonte:
DW.DE - Destaques-Brasil
http://www.dw.de/maestro-claudio-abbado-completa-80-anos/a-16910296?maca=bra-rss-br-top-1029-rdf
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