UC Davis University Chorus,
Alumni Chorus, Symphony Orchestra,
and the Pacific Boychoir perform Carl Orff's "Carmina Burana,"
at the Mondavi Center on the campus of UC Davis.
Jeffrey Thomas, conducting,
Shawnette Sulker, soprano,
Gerald Thomas Gray, tenor,
and Malcolm MacKenzie, baritone.
Series: Mondavi Center Presents
[6/2007] [Arts and Music] [Show ID: 11787]
MANUSCRITOS NO MOSTEIRO
Carmina Burana significa Canções de Benediktbeuern. Em meio à secularização de 1803, um rolo de pergaminho com cerca de duzentos poemas e canções medievais, foi encontrado na biblioteca da antiga Abadia de Menediktbeuern, na Alta Baviera.
Havia poemas dos monges e dos eruditos viajantes em latim medieval; versos no vernáculo do alemão da Alta Idade Média, e pinceladas de frâncico. O erudito de dialetos da Baviera, Johann Andreas Schmeller, editou a coleção em 1847, sob o título de Carmina Burana. Carl Orff, filho de uma antiga família de eruditos e militares de Munique, ainda muito novo familiarizou-se com esse códice de poesia medieval.
Ele arranjou alguns dos poemas em um “happening” – as “Cantiones profane contoribus et choris cantandae comitantibus instrumnetis atque imaginibus magics”- de canções seculares para solistas e coros, acompanhados por instrumentos de imagens mágicas. A obra já é vista no sentido do teatro musical de Orff, como um lugar de magia, da busca de cultos e símbolos.
Esta cantata cênica é emoldurada por um símbolo de antigüidade – o conceito da roda-da-fortuna, em movimento perpétuo, trazendo alternadamente sorte e azar. Ela é uma parábola da vida humana, expostas a constantes transformações. Assim sendo, a dedicatória coral à Deusa da Fortuna (“O Fortuna, velut luna”), tanto introduz como conclui as canções seculares.
Esse “happening” simbólico sombreado por uma Sorte obscura, divide-se em três seções: o encontro do Homem com a Natureza, particularmente com o despertar da Natureza na primavera (“Veris leta facies”), seu encontro com os dons da Natureza, culminado com o do vinho (“In taberna”); e seu encontro com o Amor (“Amor volat undique”), como espelhado em “Cour d’amours” na velha tradição francesa ou burgúndia – uma forma de serviço cavalheiresco às damas e ao amor.
A invocação da Natureza – o objetivo da primeira seção – desemboca em campos verdes onde raparigas estão dançando e as pessoas cantando em vernáculo. As cenas festivas de libação desenrolam-se entre desinibidos monges, para quem um cisne assado parece ser um antegozo do Shangri-la, e entre barulhentos eruditos viajantes que louvam o sentido impetuoso da vida na juventude.
Após muitos anos de experiência e deliberação, os Carmina Burana resultaram na primeira testemunha válida do estilo de Orff. Eles caracterizam-se por seu ritmo fortemente penetrante, comprimido em grandes ostinatos pelo som mágico da inovadora orquestração, e pela brilhante claridade da harmonia diatônica.
Os recursos estilísticos utilizados são de espantosa simplicidade. A forma básica é a canção estrófica com uma melodia diatônica, como é de hábito na música popular. Ao invés da harmonia extensivamente cromática do romantismo tardio, temos melodias claramente definidas, que levam algumas vezes a uma errônea acusação de primitivismo.
As canções estróficas reportam-se a formas medievais como a litania, baseada em uma série mais ou menos variada de curvas melódicas, cada uma correspondendo a uma linha de verso, e à forma seqüencial, caracterizada por uma repetição progressiva de várias seqüências de melodias.
Os melodismos, particularmente nos recitativos, são reminiscências do cantochão gregoriano. Onde temos passagens líricas, fortemente emocionais, como por exemplo nos dois solos, para soprano sobre textos latinos, e melodias mais ariosas, no sentido operístico.
A escritura coral é predominantemente declamatória. Os grupos instrumentais individuais são comprimidos em amplas massas tratadas na forma coral; somente as peculiares madeiras são ouvidas em solo, particularmente nas duas danças em que antigos ritmos e árias alemãs são tratados no estilo peculiar de Orff. A percussão, reforçada por pianos, acentua o élan da partitura.
A gama expressiva de Carmina Burana estende-se da terna poesia do amor e da natureza, e da elegância burgúndia de uma “Cour d’amours”, ao entusiasmo agressivo (“In taberna”), efervescente joie de vivre (o solo de barítono “Estuans interius”), e à força devastadora do coro da fortuna cercando o todo. O latim medieval da canção dos viajantes eruditos é penetrado pela antiga concepção de que a vida humana está submetida aos caprichos da roda-da-fortuna, e que a Natureza, o Amor, a Beleza, o Vinho e a Exuberância da vida estão à mercê da eterna lei da mutabilidade. O homem é visto sob uma luz dura, não sentimental; como um joguete de forças impenetráveis e misteriosas. Esse ponto-de-vista é plenamente característico da atitude anti-romântica da obra.
Carmina Burana significa Canções de Benediktbeuern. Em meio à secularização de 1803, um rolo de pergaminho com cerca de duzentos poemas e canções medievais, foi encontrado na biblioteca da antiga Abadia de Menediktbeuern, na Alta Baviera.
Havia poemas dos monges e dos eruditos viajantes em latim medieval; versos no vernáculo do alemão da Alta Idade Média, e pinceladas de frâncico. O erudito de dialetos da Baviera, Johann Andreas Schmeller, editou a coleção em 1847, sob o título de Carmina Burana. Carl Orff, filho de uma antiga família de eruditos e militares de Munique, ainda muito novo familiarizou-se com esse códice de poesia medieval.
Ele arranjou alguns dos poemas em um “happening” – as “Cantiones profane contoribus et choris cantandae comitantibus instrumnetis atque imaginibus magics”- de canções seculares para solistas e coros, acompanhados por instrumentos de imagens mágicas. A obra já é vista no sentido do teatro musical de Orff, como um lugar de magia, da busca de cultos e símbolos.
Esta cantata cênica é emoldurada por um símbolo de antigüidade – o conceito da roda-da-fortuna, em movimento perpétuo, trazendo alternadamente sorte e azar. Ela é uma parábola da vida humana, expostas a constantes transformações. Assim sendo, a dedicatória coral à Deusa da Fortuna (“O Fortuna, velut luna”), tanto introduz como conclui as canções seculares.
Esse “happening” simbólico sombreado por uma Sorte obscura, divide-se em três seções: o encontro do Homem com a Natureza, particularmente com o despertar da Natureza na primavera (“Veris leta facies”), seu encontro com os dons da Natureza, culminado com o do vinho (“In taberna”); e seu encontro com o Amor (“Amor volat undique”), como espelhado em “Cour d’amours” na velha tradição francesa ou burgúndia – uma forma de serviço cavalheiresco às damas e ao amor.
A invocação da Natureza – o objetivo da primeira seção – desemboca em campos verdes onde raparigas estão dançando e as pessoas cantando em vernáculo. As cenas festivas de libação desenrolam-se entre desinibidos monges, para quem um cisne assado parece ser um antegozo do Shangri-la, e entre barulhentos eruditos viajantes que louvam o sentido impetuoso da vida na juventude.
Após muitos anos de experiência e deliberação, os Carmina Burana resultaram na primeira testemunha válida do estilo de Orff. Eles caracterizam-se por seu ritmo fortemente penetrante, comprimido em grandes ostinatos pelo som mágico da inovadora orquestração, e pela brilhante claridade da harmonia diatônica.
Os recursos estilísticos utilizados são de espantosa simplicidade. A forma básica é a canção estrófica com uma melodia diatônica, como é de hábito na música popular. Ao invés da harmonia extensivamente cromática do romantismo tardio, temos melodias claramente definidas, que levam algumas vezes a uma errônea acusação de primitivismo.
As canções estróficas reportam-se a formas medievais como a litania, baseada em uma série mais ou menos variada de curvas melódicas, cada uma correspondendo a uma linha de verso, e à forma seqüencial, caracterizada por uma repetição progressiva de várias seqüências de melodias.
Os melodismos, particularmente nos recitativos, são reminiscências do cantochão gregoriano. Onde temos passagens líricas, fortemente emocionais, como por exemplo nos dois solos, para soprano sobre textos latinos, e melodias mais ariosas, no sentido operístico.
A escritura coral é predominantemente declamatória. Os grupos instrumentais individuais são comprimidos em amplas massas tratadas na forma coral; somente as peculiares madeiras são ouvidas em solo, particularmente nas duas danças em que antigos ritmos e árias alemãs são tratados no estilo peculiar de Orff. A percussão, reforçada por pianos, acentua o élan da partitura.
A gama expressiva de Carmina Burana estende-se da terna poesia do amor e da natureza, e da elegância burgúndia de uma “Cour d’amours”, ao entusiasmo agressivo (“In taberna”), efervescente joie de vivre (o solo de barítono “Estuans interius”), e à força devastadora do coro da fortuna cercando o todo. O latim medieval da canção dos viajantes eruditos é penetrado pela antiga concepção de que a vida humana está submetida aos caprichos da roda-da-fortuna, e que a Natureza, o Amor, a Beleza, o Vinho e a Exuberância da vida estão à mercê da eterna lei da mutabilidade. O homem é visto sob uma luz dura, não sentimental; como um joguete de forças impenetráveis e misteriosas. Esse ponto-de-vista é plenamente característico da atitude anti-romântica da obra.
FORTUNA IMPERATRIX MUNDI01. O Fortuna I. PRIMO VERE05. Ecce gratum UF DEM ANGER06. Tanz 09. Reie | II. IN TABERNA11. Estuans interius 13. Ego sum abbas III. COUR D'AMOURS17. Stetit puella 21. In truitina 23. Dulcissime BLANZIFLOR ET HELENA24. Ave formosissima FORTUNA IMPERATRIX MUNDI25. O Fortuna |
FORTUNA IMPERATRIZ DO MUNDO | |
01. O Fortuna O Fortuna velut luna statu variabilis, semper crescis aut decrescis. vita detestabilis, nunc obdurat et tunc curat; ludo mentis aciem, egestatem, potestatem dissolvit ut glaciem. Sors immanis et inanis, rota tu volubilis, status malus, vana salus semper dissolubilis, obumbrata et velata michi quoque niteris; nunc per ludum dorsum nudum fero tui sceleris. Sors salutis et virtutis michi nunc contraria, est affectus et defectus semper in angaria. Hac in hora sine mora corde pulsum tangite; quod per sortem sternit fortem, mecum omnes plangite! | 01. Ó FortunaÓ Fortuna és como a Lua mutável, sempre aumentas e diminuis; a detestável vida ore escurece e ora clareia por brincadeira a mente; miséria, poder, ela os funde como gelo. Sorte monstruosa e vazia, tu – roda volúvel – és má, vã é a felicidade sempre dissolúvel, nebulosa e velada também a min contagias; agora por brincadeira o dorso nu entrego à tua perversidade. A sorte na saúde e virtude agora me é contrária. dá e tira mantendo sempre escravizado. nesta hora sem demora tange a corda vibrante; porque a sorte abate o forte, chorais todos comigo! |
Fortune plango vulnera stillantibus ocellis quod sua michi munera subtrahit rebellis. Verum est, quod legitur, fronte capillata, sed plerumque sequitur Occasio calvata. In Fortune solio sederam elatus, prosperitatis vario flore coronatus; quicquid enim florui felix et beatus, nunc a summo corrui gloria privatus. Fortune rota volvitur: descendo minoratus; alter in altum tollitur; nimis exaltatus rex sedet in vertice caveat ruinam! nam sub axe legimus Hecubam reginam. | 02. Choro as Feridas da Fortuna Choro as feridas da fortuna com os olhos rútilos; pois que o que me deu ela perversamente me toma. O que se lê é verdade: esta bela cabeleira, quando se quer tomar, calva se mostra No trono da Fortuna sentava-me no alto, coroado por multicores flores da prosperidade; mas por mais prospero que eu tenha sido, feliz e abençoado, do pináculo agora despenquei, privado da glória. A roda da Fortuna girou: desço aviltado; um outro foi guindado ao alto; desmensuradamente exaltado o rei senta-se no vertice – precavenha-se contra a ruína! porque no eixo se lê rainha Hécuba. |
I. PRIMO VERE | I. PRIMAVERA |
Veris leta facies mundo propinatur, hiemalis acies victa iam fugatur, in vestitu vario Flora principatur, nemorum dulcisono que cantu celebratur. Ah! Flore fusus gremio Phebus novo more risum dat, hac vario iam stipate flore. Zephyrus nectareo spirans in odore. Certatim pro bravio curramus in amore. Ah! Cytharizat cantico dulcis Philomena, flore rident vario prata iam serena, salit cetus avium silve per amena, chorus promit virgin iam gaudia millena. Ah! | 03. A alegre face da primaveraA alegre face da primavera volta-se para o mundo, o rigoroso inverno já foge vencido. Com sua colorida vestimenta Flora preside, docemente a floresta em cantos a celebra. Ah! Estendido no regaço de Flora Febo mais um vez sorri, agora coberto de flores multicores. Zéfiro respira seu suave odor, corramos a concorrer ao prêmio do amor. Ah! O doce rouxinol faz soar sua lira, já riem as luminosas clareiras floridas, saem os pássaros em revoada dos bosques encantadores, e o coro das donzelas anuncia delícias mil. Ah! |
04. Omnia sol temperatOmnia sol temperat purus et subtilis, novo mundo reserat faciem Aprilis, ad amorem properat animus herilis et iocundis imperat deus puerilis. Rerum tanta novitas in solemni vere et veris auctoritas jubet nos gaudere; vias prebet solitas, et in tuo vere fides est et probitas tuum retinere. Ama me fideliter, fidem meam noto: de corde totaliter et ex mente tota sum presentialiter absens in remota, quisquis amat taliter, volvitur in rota. | 04. O sol a tudo esquentaO sol a tudo esquenta puro e suave, novamente revela ao mundo a face de Abril; para o amor é impelida a alma do homem e jovial impera o deus-menino. Toda essa renovação na gloriosa estação e por ordem da primavera leva-nos a rejubilar; abre-te os caminhos conhecidos, e em tua renovação é justo e correto que desfrutes do que é teu. Ama-me fielmente! Vê como sou fiel: com todo o meu coração e com toda a minha alma, estou contigo mesmo quando distante. Quem quer que ame assim gira a roda. |
05. Ecce gratumEcce gratum et optatum Ver reducit gaudia, purpuratum floret pratum, Sol serenat omnia. Iamiam cedant tristia! Estas redit, nunc recedit Hyemis sevitia. Ah! Iam liquescit et decrescit grando, nix et cetera; bruma fugit, et iam sugit Ver Estatis ubera; illi mens est misera, qui nec vivit, nec lascivit sub Estatis dextera. Gloriantur et letantur in melle dulcedinis, qui conantur, ut utantur premio Cupidinis: simus jussu Cypridis gloriantes et letantes pares esse Paridis. Ah! | 05. Eis a cara primaveraEis a cara e desejada primavera que traz de volta a alegria: flores púrpuras cobrem os prados, o sol a tudo ilumina. Já se dissipam as tristezas! Retorna o verão, agora fogem os rigores do inverno. Ah! Já se liqüefazem e desaparecem o gelo, neve, etc. a bruma foge, e a primavera suga o seio do verão; é de lamentar-se aquele que não vive nem se entrega à doce lei do verão. Ah! Que provem glória felicidade doce como o mel, aqueles que ousam aspirar ao prêmio de Cupido; sob o comando de Vênus glorifiquemos e rejubilemo-nos a exemplo de Páris. Ah! |
UF DEM ANGER | NO PRANDO |
06. Tanz | 06. Dança |
Floret silva nobilis floribus et foliis. Ubi est antiquus meus amicus? Ah! Hinc equitavit! Eia, quis me amabit? Ah! Floret silva undique, nah min gesellen ist mir we. Gruonet der walt allenthalben wa ist min geselle alse lange? Ah! Der ist geriten hinnen, o wi, wer sol mich minnen? Ah! | 07. Cobre-se a nobre floresta Cobre-se a nobre floresta de flores e de folhas. Onde está meu antigo amor? Ah! Ele correu cavalgou para longe! Oh, quem irá me amar? Ah! A floresta floresce em toda parte, Estou ansiando por meu amor. As florestas verdejam em toda parte, Por que meu amado demora tanto? Ah! Ele cavalgou para longe, Oh, quem irá me amar? Ah! |
Chramer, gip die varwe mir, die min wengel roete, damit ich die jungen man an ir dank der minnenliebe noete. Seht mich an jungen man! lat mich iu gevallen! Minnet, tugentliche man, minnecliche frouwen! minne tuot iu hoch gemout unde lat iuch in hohen eren schouwen Seht mich an jungen man! lat mich iu gevallen! Wol dir, werit, daz du bist also freudenriche! ich will dir sin undertan durch din liebe immer sicherliche. Seht mich an, jungen man! lat mich iu gevallen! | 08. Mercador, dá-me as cores Mercador, dá-me as cores, para avermelhar minhas faces, de modo que eu possa fazer os jovens me amarem irresistivelmente. Olhem para mim, rapazes! Deixem-me seduzi-los! Bons homens, amem as mulheres carentes de amor! O amor enobrecerá seus espíritos. e lhes trará honra Olhem para mim, rapazes! Deixem-me seduzi-los! Salve, mundo tão rico de alegrias! ser-te-ei obediente pelos prazeres que me permites Olhem para mim, rapazes! Deixem-me seduzi-los! |
09. Reie Swaz hie gat umbe, daz sint alles megede, die wellent an man allen disen sumer gan! Ah! Sla! Chume, chum, geselle min ih enbite harte din, ih enbite harte din, chume, chum, geselle min. Suzer rosenvarwer munt, chum un mache mich gesunt chum un mache mich gesunt, suzer rosenvarwer munt Swaz hie gat umbe, daz sint alles megede, die wellent an man allen disen sumer gan! Ah! Sla! | 09. Dança Circular Aquelas que ali giram em roda, são todas donzelas, elas querem passar sem um homem todo o verão. Ah! Sla! Vem, vem, meu amor, eu suspiro por ti, eu suspiro por ti, vem, vem, meu amor. Doces lábios rosados, venham e façam-me sadia venham e façam-me sadia doces lábios rosados Aquelas que ali giram em roda, são todas donzelas, elas querem passar sem um homem todo o verão. Ah! Sla! |
Were diu werlt alle min von deme mere unze an den Rin des wolt ih mih darben, daz diu chunegin von Engellant lege an minen armen. Hei! | 10. Se todo o mundo fosse meu Se todo o mundo fosse meu, do mar até o Reno, eu a ele renunciaria se a Rainha da Inglaterra tivesse em meus braços. Hei! |
II. IN TABERNA | II. NA TABERNA |
11. Estuans interius Estuans interius ira vehementi in amaritudine loquor mee menti: factus de materia, cinis elementi similis sum folio, de quo ludunt venti. Cum sit enim proprium viro sapienti supra petram ponere sedem fundamenti, stultus ego comparor fluvio labenti, sub eodem tramite nunquam permanenti. Feror ego veluti sine nauta navis, ut per vias aeris vaga fertur avis; non me tenent vincula, non me tenet clavis, quero mihi similes et adiungor pravis. Mihi cordis gravitas res videtur gravis; iocis est amabilis dulciorque favis; quicquid Venus imperat, labor est suavis, que nunquam in cordibus habitat ignavis. Via lata gradior more iuventutis inplicor et vitiis immemor virtutis, voluptatis avidus magis quam salutis, mortuus in anima curam gero cutis. | 11. Queimando por dentro Queimando por dentro com veemente ira, na amargura, falei para min mesmo: feito de matéria, da cinza dos elementos, sou com a folha com quem brincam os ventos. Se é este o caminho do homem sábio, construir sobre a pedra as fundações da casa, então sou um louco comparável ao rio que corre, eu que em seu curso nunca se altera Sou levado como um navio sem piloto, como através do ar um pássaro a deriva; nenhum vinculo me prende, nenhuma chave me aprisiona, busco meus semelhantes, e me junto aos insensatos. Meu coração pesado é um fardo para mim; o divertir-se é agradável e mais doce que o favo de mel; onde quer que Vênus impere, o trabalho suave, ela nunca habita em corações indolentes Meu caminho é amplo como o quer minha juventude, entrego-me aos meus vícios, esquecido das virtudes, mais ávido de volúpias do que de salvação, morta minh’alma só minha pele me importa. |
Olim lacus colueram, olim pulcher extiteram, dum cignus ego fueram. Miser, miser! modo niger et ustus fortiter! Girat, regirat garcifer; me rogus urit fortiter; propinat me nunc dapifer, Miser, miser! modo niger et ustus fortiter! Nunc in scutella iaceo, et volitare nequeo dentes frendentes video. Miser, miser! modo niger et ustus fortiter! | 12. Um dia morei no lago Um dia morei no lago, um dia fui belo, quando eu era um cisne. Ai de mim, ai de mim! Agora negro e completamente assado Gira e gira o assador; estou queimado completamente na pira: o garçom agora me serve. Ai de mim, ai de mim! Agora negro e completamente assado Agora repouso em um prato, e não posso mais voar. vejo dentes rangendo Ai de mim, ai de mim! Agora negro e completamente assado |
13. Ego sum abbas Ego sum abbas Cucaniensis et consilium meum est cum bibulis, et in secta Decii voluntas mea est, et qui mane me quesierit in taberna, post vesperam nudus egredietur, et sic denudatus veste clamabit: Wafna, wafna! quid fecisti sors turpassi Nostre vite gaudia abstulisti omnia! Haha! | 13. Sou o abade Sou o abade Cucaniense, meu concilio é com os bebedores, e quero pertencer à seita de Décio[1]. e quem me procurar de manha na taberna, a noite será deixado nu, e assim despojado de suas vestes gritará: Aí de mim! Aí de mim! que fizestes, ó execrável sorte? nos tomastes da vida todos os prazeres! Haha! |
In taberna quando sumus non curamus quid sit humus, sed ad ludum properamus, cui semper insudamus. Quid agatur in taberna ubi nummus est pincerna, hoc est opus ut queratur, si quid loquar, audiatur. Quidam ludunt, quidam bibunt, quidam indiscrete vivunt. Sed in ludo qui morantur, ex his quidam denudantur quidam ibi vestiuntur, quidam saccis induuntur. Ibi nullus timet mortem, sed pro Baccho mittunt sortem. Primo pro nummata vini, ex hac bibunt libertini; semel bibunt pro captivis, post hec bibunt ter pro vivis, quater pro Christianis cunctis, quinquies pro fidelibus defunctis, sexies pro sororibus vanis, septies pro militibus silvanis. Octies pro fratribus perversis, nonies pro monachis dispersis, decies pro navigantibus undecies pro discordaniibus, duodecies pro penitentibus, tredecies pro iter agentibus. Tam pro papa quam pro rege bibunt omnes sine lege. Bibit hera, bibit herus, bibit miles, bibit clerus, bibit ille, bibit illa, bibit servis cum ancilla, bibit velox, bibit piger, bibit albus, bibit niger, bibit constans, bibit vagus, bibit rudis, bibit magnus, Bibit pauper et egrotus, bibit exul et ignotus, bibit puer, bibit canus, bibit presul et decanus, bibit soror, bibit frater, bibit anus, bibit mater, bibit ista, bibit ille, bibunt centum, bibunt mille. Parum sexcente nummate durant, cum immoderate bibunt omnes sine meta. Quamvis bibant mente leta, sic nos rodunt omnes gentes et sic erimus egentes. Qui nos rodunt confundantur et cum iustis non scribantur. Io io io io io io io io io io! | 14. Quando estamos na taberna Quando estamos na taberna, não pensamos na morte, corremos a jogar, o que nos faz sempre suar. O que se passa na taberna, onde o dinheiro é hospedeiro, podeis querer saber, escutais pois o que eu digo. Uns jogam, uns bebem; uns vivem licenciosamente. mas dos que jogam, uns ficam em pelo, uns ganham aqui suas roupas, uns se vestem com sacos. Aqui ninguém teme a morte, mas todos jogam por Baco. Primeiro ao mercador de vinho, é que bebem os libertinos; uma vez aos prisioneiros, depois bebem três vezes aos vivos, quatro a todos os cristãos, cinco aos fiéis defuntos, seis às irmãs perdidas, sete aos guardas florestais. Oito aos irmãos desgarrados, nove aos monges errantes, dez aos navegantes, onze aos brigões, doze aos penitentes, treze aos viajantes. Tanto ao Papa quanto ao Rei bebem todos sem lei. Bebe a amante, bebe o senhor, bebe o soldado, bebe o clérigo. Bebe ele, bebe ela, bebe o servo com a serva, bebe o esperto, bebe o preguiçoso, bebe o branco, bebe o negro, bebe o sedentário, bebe o nômade, bebe o estúpido, bebe o douto, Bebem o pobre e o doente, bebem o estrangeiro e o desconhecido. bebe a criança, bebe o velho, bebem o prelado e o diácono, bebe a irmã, bebe o irmão, bebe a anciã, bebe a mãe, bebe este, bebe aquele, bebem cem, bebem mil. Seiscentas moedas não são suficientes, se todos bebem imoderadamente sem freio. bebam quanto for, o espírito alegre, Todo mundo nos denigre, e assim ficamos desprovidos. Que sejam confundidos os que nos difamem e sejam seus nomes riscados do livro dos justos Io io io io io io io io io io! |
III. COUR D'AMOURS | III. CORTE DE AMORES |
Amor volat undique, captus est libidine. Iuvenes, iuvencule coniunguntur merito. Siqua sine socio, caret omni gaudio; tenet noctis infima sub intimo cordis in custodia; fit res amarissima. | 15. O amor voa por toda parte O amor voa por toda parte, prisioneiros do desejo. Rapazes, raparigas unem-se como devem. Se a jovem não tem parceiro, desaparece-lhe toda a alegria; ela mantém a noite escura escondida em seu coração: é um sorte muito amarga |
Dies, nox et omnia michi sunt contraria, virginum colloquia me fay planszer, oy suvenz suspirer, plu me fay temer. O sodales, ludite, vos qui scitis dicite michi mesto parcite, grand ey dolur, attamen consulite per voster honur. Tua pulchra facies me fay planszer milies, pectus habet glacies. A remender statim vivus fierem per un baser. | 16. Dia, noite e tudo Dia, noite e tudo me são contrários, a tagarelice das virgens me faz chorar, e com freqüência suspirar, e mais me faz temer. Ó amigos, estais brincando, não sabeis o que dizeis, a mim, infeliz, poupai, grande é a minha dor, aconselhai-me por fim por vossa honra. Teu belo rosto me faz versar mil prantos, tens o coração de gelo. Como remédio, serei ressuscitado por um beijo. |
17. Stetit puella Stetit puella rufa tunica; si quis eam tetigit, tunica crepuit. Eia! Stetit puella tamquam rosula; facie splenduit, os eius fioruit. Eia! | 17. Era uma menina Era uma menina com uma túnica vermelha; se alguém tocasse nela, a túnica farfalhava. Eia! Era uma menina Como uma rosinha; Sua face resplandescia E tinha os lábios em flor. Eia! |
Circa mea pectora multa sunt suspiria de tua pulchritudine, que me ledunt misere. Ah! Mandaliet, Mandaliet min geselle chõmet niet. Tui lucent oculi sicut solis radii, sicut splendor fulguris lucem donat tenebris. Ah! Mandaliet Mandaliet, min geselle chõmet niet. Vellet deus, vallent dii Quod mente proposui: ut eius virginea reserassem vincula. Ah! Mandaliet, Mandaliet, Min geselle Chõmet niet. | 18. Em meu peito Em meu peito Estão muitos suspiros Por tua beleza, Que me faz voluptuoso. Ah! Mandaliet, Mandaliet, Meu amor não vem. Teus olhos brilham como raios de sol, como o esplendor do raio que ilumina as trevas. Ah! Mandaliet, Mandaliet, Meu amor não vem. Queira Deus, queiram os deuses, aplacar meu desejo: que eu possa romper as cadeias da sua virgindade. Ah! Mandaliet, Mandaliet, Meu amor não vem. |
Si puer cum puellula Moraretur in cellula, Felix coniunctio. Amore suscrescente Pariter e medio Avulso procul tedio, fit ludus ineffabilis membris, lacertis, labii. | 19. Se um menino com um menina Se um menino com um menina se encontram em um quarto. o casamento é feliz. O amor avulta, e entre eles a vergonha é posta de lado e tem inicio um jogo inefável em seus membros, braços e lábios. |
Veni, veni, venias, ne me mori facias, hyrca, hyrce, nazaza, trillirivos... Pulchra tibi facies oculorum acies, capillorum series, o quam clara species! Rosa rubicundior, lilio candidior, omnibus formosior, semper in te glorior! | 20. Vem, vem, ó vem Vem, vem, ó vem, não me faças morrer. hyrca, hyrce, nazaza, trillirivos... Teu belo rosto, teus olhos brilhantes, teu cabelo trançado, que gloriosa criatura! Mais rubra que a rosa, mais branca que o lírio, mais bela que qualquer outra, sempre em ti glorificarei. |
21. In truitina In truitina mentis dubia fluctuant contraria lascivus amor et pudicitia. Sed eligo quod video, collum iugo prebeo; ad iugum tamen suave transeo. | 21. Na balança Na balança os sentimentos oscilam Um contra o outro; Amor lascivo e pudor. Mas escolho o que vejo, E coloco meu pescoço sob o jugo; Ao jogo suave todavia me submeto. |
Tempus es iocundum o virgines, modo congaudete vos iuvenes! Oh, oh, oh! totus floreo, iam amore virginali totus ardeo! novus, novus amor est, quo pereo! Mea me confortat promissio, mea me deportat negatio. Oh, oh, oh totus floreo iam amore virginali totus ardeo! novus, novus amor est, quo pereo! Tempore brumali vir patiens, animo vernali lasciviens. Oh, oh, oh, totus floreo, iam amore virginali totus ardeo! novus, novus amor est, quo pereo! Mea mecum ludit virginitas, mea me detrudit simplicitas. Oh, oh, oh, totus floreo, iam amore virginali totus ardeo! novus, novus amor est, quo pereo! Veni, domicella, cum gaudio, veni, veni, pulchra, iam pereo! Oh, oh, oh, totus floreo, iam amore virginali totus ardeo! novus, novus amor est, quo pereo! | 22. O tempo é de alegria O tempo é de alegria, Ó virgens, vinde divertir-vos, ó rapazes! Oh, oh, oh! floresço inteiro! ardo todo de um amor virginal! novo, novo amor é o que me faz perecer! Minha promessa me conforta, minha recusa me desola. Oh, oh, oh! floresço inteiro! ardo todo de um amor virginal! novo, novo amor é o que me faz perecer! No tempo das brumas o homem é paciente, o sopro da primavera o torna lascivo. Oh, oh, oh! floresço inteiro! ardo todo de um amor virginal! novo, novo amor é o que me faz perecer! Minha virgindade brinca comigo minha simplicidade me preserva. Oh, oh, oh! floresço inteiro! ardo todo de um amor virginal! novo, novo amor é o que me faz perecer! Vem, amante, com alegria vem, vem, linda. estou morrendo! Oh, oh, oh! floresço inteiro! ardo todo de um amor virginal! Novo, novo amor é o que me faz perecer! |
23. Dulcissime Dulcissime,Ah! totam tibi subdo me! | 23. Amor querido Amor querido. Ah! Me entrego toda a ti! |
BLANZIFLOR ET HELENA | BLANCHEFLEUR[2] E HELENA |
24. Ave formosissima Ave formosissima, Gemma pretiosa, ave decus virginum, virgo gloriosa, ave mundi luminar, ave mundi rosa, Blanziflor et Helena, Venus generosa! | 24. Salve formosíssima Salve, formosíssima, Jóia preciosa, Salve, orgulho das virgens, Virgem gloriosa, Salve, luz do mundo, Salve, rosa do mundo Blanchefleur e Helena, Generosa Vênus! |
FORTUNA IMPERATRIX MUNDI | FORTUNA IMPERATRIZ DO MUNDO |
25. O FortunaO Fortuna velut luna statu variabilis, semper crescis aut decrescis. vita detestabilis, nunc obdurat et tunc curat; ludo mentis aciem, egestatem, potestatem dissolvit ut glaciem. Sors immanis et inanis, rota tu volubilis, status malus, vana salus semper dissolubilis, obumbrata et velata michi quoque niteris; nunc per ludum dorsum nudum fero tui sceleris. Sors salutis et virtutis michi nunc contraria, est affectus et defectus semper in angaria. Hac in hora sine mora corde pulsum tangite; quod per sortem sternit fortem, mecum omnes plangite! | 25. Ó Fortuna Ó Fortuna és como a Lua mutável, sempre aumentas e diminuis; a detestável vida ore escurece e ora clareia por brincadeira a mente; miséria, poder, ela os funde como gelo. Sorte monstruosa e vazia, tu – roda volúvel – és má, vã é a felicidade sempre dissolúvel, nebulosa e velada também a min contagias; agora por brincadeira o dorso nu entrego à tua perversidade. A sorte na saúde e virtude agora me é contrária. da e tira mantendo sempre escravizado. nesta hora sem demora tange a corda vibrante; porque a sorte abate o forte, chorais todos comigo! |
[1] Décio: santo fictício, patrono dos jogadores de dados
[2] Heroína de uma saga popular medieval
[2] Heroína de uma saga popular medieval
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Fontes:
http://www.das.ufsc.br/~sumar/perfumaria/Carmina_Burana/carmina_burana.htm
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