segunda-feira, 25 de abril de 2011

A ARTE DE MARIA TOMASELLI

FALA SOBRE O LUTO DA ARTE
29/04/2010
  • Henkai-pan e panta-rhei, desde os gregos as coisas desse nosso mundo tão frágil e ao mesmo tempo tão sólido são colocadas assim: na dialética do tudo repousa e tudo flui.

    Há tempos em que é preciso se mexer, outros em que o silêncio e a contemplação são fundamentais. Sobre isso fiquei matutando nos meus passeios solitários que fiz recentemente pelas florestas e bosques da minha terra natal, o Tirol, revivendo os anos de minha juventude e adolescência, refazendo os mesmos caminhos.

    As árvores, fiquei pensando, estão aqui há séculos, sempre no mesmo lugar, viram guerras, viram jovens, hoje velhos, turistas que vão e vem, animais que passam, correm, morrem, e elas estão aqui, se sucedendo também em ritmo sereno, devagar, calmos.

    Esta paz quero nos meus quadros de hoje, 
    que eles sejam um refúgio para o silêncio, 

    não uma coisa morta, petrificada, mas a sucessão deles como uma onda do mar, uma unidade que se desdobra em movimentos calmos, sempre indo, fluindo, até chegar ao fim, a uma praia onde vai se acabar; aparentemente, porque por baixo a onda reflui e de outro jeito continua, se mistura de novo com a água que vem.

    Nossa vida é assim, ao morrermos deixamos de agir, mas o que nossa geração fez fica como herança boa ou má para as ondas vindouras de gente.

    Uma pintura é o outro lado do flat-screen que hoje predomina nas paredes das casas, sempre em movimento, sempre piscando, sempre barulhento, tal qual o dia das pessoas no trabalho, nas ruas, a mesmice dentro e fora de casa. Hoje uma pintura deveria ser o espaço do refúgio, da segurança, da descoberta, do estudo, da contemplação, do repouso.

    Existem períodos na história da arte em que a arte precisa ser mais um fator agente, revolucionário, quando a vida é aristocratizada ou aburguesada demais, presa em conceitos e preconceitos que se materializam em códigos predeterminados nas artes e na arquitetura que não se renovam para não perderem seu status quo.

    Mas o mundo gira, novas gerações aparecem, novos valores mudam as artes. Essas novidades, porém, essas quebras dos dogmas podem muito fácil elas mesmas virarem dogma e petrificarem-se. 

    No momento, penso, estamos assistindo à revolta pela revolta, sem saber contra o que se revoltar, já que tudo pode ser, ”anything goes”. Nesse período da morte de tudo, especialmente das técnicas milenares, assistimos a depredações, pichações, bienais do vazio. Curadores, sem saber o que pensar e fazer, apelam para a politização das artes, em vez de se deixarem seduzir pela arte. Tem também uma geração por aqui que parece sobra dos hippies, agora velhos e parados no tempo.

    Estamos todos perdidos, tão perdidos que autoridades tentam achar um meio legal pra retirar das ruas o que chamam de “monstromentos” e leitores de jornais sugerem que se retirem também os prédios feios.

    Muitos jovens, no entanto, começaram a rever essas declarações de morte de tudo, suas vidas são pujantes, suas aspirações maiores, querem construir, aprender e também redescobrir velhas técnicas para novas finalidades, em vez de demolir. São mais globalizados e tolerantes.

    Mas, voltando à minha floresta tirolesa e seu silêncio duradouro: Para mim, neste momento de minha vida, o importante é tentar criar um templo de depuração, onde os milênios e sua sabedoria não se perderam, mas onde também pulsa o balanço da vida, a cada dia renovada.

    A história é um pêndulo
    que vai de um extremo ao outro, mas sempre em movimento.
    Henkai-pan no panta-rhei. 

    Ou, como diria Fausto:
    “Verweile, Augenblick, Du bist so schön”.
  • carlos entrada bolsa 
    O  mais querido Filósofo Brasileiro -Carlos Cirne-Lima 

    carlos-marga 2010
    *O Filósofo contempla
    os achados da menina
    - belo silêncio.

    gravuras-marga-2010
     Igual universo
    a criação agrupada
    - feito colméia.
    carlos-mara-bolsa-2010
     Ao lado do Filósofo
      amigo de Ratzinger
    -  artista do Sul
    maria-tomaselli-lonas
      Contornos azuis
       retalham multi espaço
    -  bela unidade.
    maria-tomaselli-lonas    
  • A fenda brilhante
    abre nova dimensão
    - eis harmonia.
     

    maria-tomaselli-lonas
    Tarde de outono
    vaporosa em cinzas
    - na fresta, a luz.

    maria-tomaselli-lonas
     Um não sei quê
     plasma encantamento
    - horizontalidade.

    maria-tomaselli-lonas
    A ocre paisagem
    vê no fio brilhante
    - ponto de partida.
    maria-tomaselli-lonas
    Paredão imita
    o silêncio interior
    - marcas do tempo.

    maria-tomaselli-lonas
    Radiografia da terra
    os sulcos entreabertos
    - aguardam sementes.
    maria-tomaselli-lonas
    O homem nú
    rasga a própria cruz
    - mergulha no azul
    maria-tomaselli-lonas 
    Na caverna do tempo
    abismais galerias
    - coisas insólitas.
    maria-tomaselli-lonas
    Ângulo luninoso
    corta a noite temida
    - dá-se ao sonho.
    maria-tomaselli-lonas
    A cidade, a morada
    a inocência na parede
    - fábula do pincel.
    maria-tomaselli-lonas
    O cinza rajado
    convida pousos verticais
    - azul-penetra
    maria-tomaselli-lonas
    O mar esconde
    imagens do inconciente
    - a festa do desvendar.
    maria-tomaselli-lonas
     Relógios e torres 
  •  em confidência noturna
  • - brincam na cidade
  • maria-tomaselli-lonas
    Na Matriz o mapa
    da escada celeste
    - lá nossa bandeira.
    maria-tomaselli-lonas
    Astro encarnado
    navegando no informe
    - sedento de ser.
    maria-tomaselli-lonas
    Letrinha dispersas
    sonham encontrar o lápis
    - ao prazer da união.
    LIVRINHOS DE MADEIRA
    livrinho de madeira 
  • Livrinho de madeira

  • Números acorrentados
    nas lembranças  miúdas
    - caleidoscópio.
    livrinho de madeira
                       Livrinho de madeira


                        Olhar inquieto
                        rompe o idílio rosado
                       - no chão os poemas
                        
maria tomaselli livrinho de madeira

Livrinho de madeira

Colar de momentos
miçangas na  harmonia
- porta a chave.
Os olhos escalam
na movediça imagem
- torre acasala gente

TRABALHOS RECENTES
Cores luminosas
na aquarela perfeita
-  mágica da água

 O fio da vida
tece, enrola e esvoaça
- perpetua ação.
Óleo ou aquarela?
- a leveza do vento
posta no olhar.
 Escola Brasil
impera o amarelo
na mão da mulher 

O riso das faces
em todas direções
- passeiam na noite.

TRABALHOS ANTIGOS 
Eu - 1967

Ensaio cubista
 mulher meio Cezanne
- bela, confiante.
Na praia o casal 
carrega o seu tesouro
- e o pássaro vôa.

GravuraColorida - 2005

No aconchego
segredos bem traçados
- na moldura azul.

EESCULTURAS
Cabeça-bronze-14cm-2000

No olhar o horizonte
de infinito ir e vir
- a mãe natureza.
Nariz-bronze- 36cm-2002

 Face sonhadora
de ternura  elevada
- sonha com quê?

Mulher- bronze-24cm-2002

A bela imponente
um Braque petrificado
- bronze cubista.
Homem-mulher
crias do mesmo barro
 - feitos para criar.


Homem-Mulher
no palco do mundo
em eterna temporada.
Fontes:
Revista CULT.
Maria Tomaselli -
http://mariatomaselli.blogspot.com/

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