FALA SOBRE O LUTO DA ARTE
29/04/2010
- Henkai-pan e panta-rhei, desde os gregos as coisas desse nosso mundo tão frágil e ao mesmo tempo tão sólido são colocadas assim: na dialética do tudo repousa e tudo flui.
Há tempos em que é preciso se mexer, outros em que o silêncio e a contemplação são fundamentais. Sobre isso fiquei matutando nos meus passeios solitários que fiz recentemente pelas florestas e bosques da minha terra natal, o Tirol, revivendo os anos de minha juventude e adolescência, refazendo os mesmos caminhos.
As árvores, fiquei pensando, estão aqui há séculos, sempre no mesmo lugar, viram guerras, viram jovens, hoje velhos, turistas que vão e vem, animais que passam, correm, morrem, e elas estão aqui, se sucedendo também em ritmo sereno, devagar, calmos.
Esta paz quero nos meus quadros de hoje,que eles sejam um refúgio para o silêncio,
não uma coisa morta, petrificada, mas a sucessão deles como uma onda do mar, uma unidade que se desdobra em movimentos calmos, sempre indo, fluindo, até chegar ao fim, a uma praia onde vai se acabar; aparentemente, porque por baixo a onda reflui e de outro jeito continua, se mistura de novo com a água que vem.
Nossa vida é assim, ao morrermos deixamos de agir, mas o que nossa geração fez fica como herança boa ou má para as ondas vindouras de gente.
Uma pintura é o outro lado do flat-screen que hoje predomina nas paredes das casas, sempre em movimento, sempre piscando, sempre barulhento, tal qual o dia das pessoas no trabalho, nas ruas, a mesmice dentro e fora de casa. Hoje uma pintura deveria ser o espaço do refúgio, da segurança, da descoberta, do estudo, da contemplação, do repouso.
Existem períodos na história da arte em que a arte precisa ser mais um fator agente, revolucionário, quando a vida é aristocratizada ou aburguesada demais, presa em conceitos e preconceitos que se materializam em códigos predeterminados nas artes e na arquitetura que não se renovam para não perderem seu status quo.
Mas o mundo gira, novas gerações aparecem, novos valores mudam as artes. Essas novidades, porém, essas quebras dos dogmas podem muito fácil elas mesmas virarem dogma e petrificarem-se.
No momento, penso, estamos assistindo à revolta pela revolta, sem saber contra o que se revoltar, já que tudo pode ser, ”anything goes”. Nesse período da morte de tudo, especialmente das técnicas milenares, assistimos a depredações, pichações, bienais do vazio. Curadores, sem saber o que pensar e fazer, apelam para a politização das artes, em vez de se deixarem seduzir pela arte. Tem também uma geração por aqui que parece sobra dos hippies, agora velhos e parados no tempo.
Estamos todos perdidos, tão perdidos que autoridades tentam achar um meio legal pra retirar das ruas o que chamam de “monstromentos” e leitores de jornais sugerem que se retirem também os prédios feios.
Muitos jovens, no entanto, começaram a rever essas declarações de morte de tudo, suas vidas são pujantes, suas aspirações maiores, querem construir, aprender e também redescobrir velhas técnicas para novas finalidades, em vez de demolir. São mais globalizados e tolerantes.
Mas, voltando à minha floresta tirolesa e seu silêncio duradouro: Para mim, neste momento de minha vida, o importante é tentar criar um templo de depuração, onde os milênios e sua sabedoria não se perderam, mas onde também pulsa o balanço da vida, a cada dia renovada.
A história é um pênduloque vai de um extremo ao outro, mas sempre em movimento.Henkai-pan no panta-rhei.
Ou, como diria Fausto:“Verweile, Augenblick, Du bist so schön”. -
O mais querido Filósofo Brasileiro -Carlos Cirne-Lima
*O Filósofo contempla
os achados da menina
- belo silêncio.
Igual universoa criação agrupada- feito colméia.
Ao lado do Filósofo
amigo de Ratzinger
- artista do Sul
Contornos azuis
retalham multi espaço
- bela unidade.
- A fenda brilhante
abre nova dimensão
- eis harmonia.
Tarde de outono
vaporosa em cinzas
- na fresta, a luz.
Um não sei quê
plasma encantamento
- horizontalidade.
A ocre paisagem
vê no fio brilhante
- ponto de partida.
Paredão imita
o silêncio interior
- marcas do tempo.
Radiografia da terra
os sulcos entreabertos
- aguardam sementes.
O homem nú
rasga a própria cruz
- mergulha no azul
Na caverna do tempo
abismais galerias
- coisas insólitas.
Ângulo luninoso
corta a noite temida
- dá-se ao sonho.
A cidade, a morada
a inocência na parede
- fábula do pincel.
O cinza rajado
convida pousos verticais
- azul-penetra
O mar esconde
imagens do inconciente
- a festa do desvendar.
Relógios e torres - em confidência noturna
- - brincam na cidade
-
Na Matriz o mapa
da escada celeste
- lá nossa bandeira.
Astro encarnado
navegando no informe
- sedento de ser.
Letrinha dispersas
sonham encontrar o lápis
- ao prazer da união.
LIVRINHOS DE MADEIRA
- Livrinho de madeira
Números acorrentados
nas lembranças miúdas
- caleidoscópio.
Livrinho de madeira
Olhar inquieto
Olhar inquieto
rompe o idílio rosado
- no chão os poemasLivrinho de madeira
Colar de momentos
miçangas na harmonia
- porta a chave.
Os olhos escalam
na movediça imagem
- torre acasala gente
TRABALHOS RECENTES
Cores luminosas
na aquarela perfeita
- mágica da água
O fio da vida
tece, enrola e esvoaça
- perpetua ação.
Óleo ou aquarela?
- a leveza do vento
posta no olhar.
Escola Brasil
impera o amarelo
na mão da mulher
O riso das faces
em todas direções
- passeiam na noite.
TRABALHOS ANTIGOS
Eu - 1967
Ensaio cubista
mulher meio Cezanne
- bela, confiante.
Na praia o casal
carrega o seu tesouro
- e o pássaro vôa.
GravuraColorida - 2005
No aconchego
segredos bem traçados
- na moldura azul.
EESCULTURAS
Cabeça-bronze-14cm-2000
No olhar o horizonte
de infinito ir e vir
- a mãe natureza.
Nariz-bronze- 36cm-2002
Face sonhadora
de ternura elevada
- sonha com quê?
Mulher- bronze-24cm-2002
A bela imponente
um Braque petrificado
- bronze cubista.
Homem-mulher
crias do mesmo barro
- feitos para criar.
Homem-Mulher
no palco do mundo
em eterna temporada.
Fontes:
Revista CULT.
Revista CULT.
Maria Tomaselli -
http://mariatomaselli.blogspot.com/
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