quarta-feira, 29 de maio de 2013

MARIA BONOMI - Antônio Abujamra entrevista a artista plástica - 25m










Programa Provocações TV Cultura by Maria Bonomi-26min



 
Antônio Abujamra entrevista a artista plástica Maria Bonomi (bloco 01) -7m
Antônio Abujamra entrevista a artista plástica Maria Bonomi (bloco 02)-9m


Maria Bonomi e a Xilogravura - 17min


 
Epopéia Paulista by Maria Bonomi - 37min.


 
 
Arte Pública - Maria Bonomi - 17min.


 MARIA BONOMI
Biografia
Maria Anna Olga Luiza Bonomi (Meina, Itália 1935). Gravadora, escultora, pintora, muralista, curadora, figurinista, cenógrafa, professora. Maria Bonomi vem para o Brasil em 1946, fixando-se em São Paulo. Estuda pintura e desenho com Yolanda Mohalyi (1909-1978), em 1951, e com Karl Plattner (1919-1989), em 1953. No ano seguinte, inicia-se em gravura com Lívio Abramo (1903-1992). Realiza a sua primeira individual em São Paulo, em 1956. Nesse ano, recebe bolsa de estudos da Ingram-Merrill Foundation e estuda no Pratt Institute Graphics Center, em Nova York, com o pintor Seong Moy (1921).

Em paralelo, cursa gravura com Hans Müller e teoria da arte com Meyer Schapiro (1904-1996), na Columbia University, também em Nova York. De volta ao Brasil, frequenta a Oficina de Gravura em Metal com Johnny Friedlaender (1912-1992), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, em 1959. No ano seguinte, em São Paulo, funda o Estúdio Gravura, com Lívio Abramo, de quem é assistente até 1964.

A partir dos anos 1970, passa a dedicar-se também à escultura. Produz painéis de grandes proporções para espaços públicos. Em 1999, defende a tese de doutorado intitulada Arte Pública. Sistema Expressivo/Anterioridade, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP.

Comentário Crítico
Para Maria Bonomi, o trabalho com a xilogravura é uma experiência que oferece ilimitadas possibilidades de criação artística. Ao expor na 5ª Bienal de Paris, em 1967, na qual recebe o primeiro prêmio, luta para que as gravuras sejam expostas em paredes, e não em balcões ou vitrines, como páginas de livros, o que era usual na época. Assim, modifica-se a relação do público com a gravura, e também do artista no exercício de gravar.

O gravador lida sempre com questões relacionadas à matriz e à imagem impressa: ao trabalhar madeira ou metal, o registro é diferente daquele obtido no papel. Nas matrizes estão as marcas da relação do artista com a matéria, do impulso e dos gestos que criam a obra. Para a gravadora Renina Katz (1926), Maria Bonomi revela em seus trabalhos alguns desses jogos fascinantes do universo da gravura. Em 1972, apresenta as Solombras, transparentes e coloridas, moldadas em poliéster com base em matrizes de madeira. Já em 1976, realiza os Epigramas, obras fundidas em metal com base em peças de barro, em que produz linhas e sulcos, explorando cheios e vazios e revelando a essência do gesto do gravador.

A artista insiste, ao longo de sua carreira, nas grandes tiragens, que permitem o acesso às obras pelo maior número de pessoas; para tanto utiliza também a litografia. Inova ao produzir em grandes formatos (alguns trabalhos com mais de dois metros de largura), demonstrando o desejo de conferir maior vigor e impacto estético às gravuras. Outro ponto importante em sua obra é a utilização da cor em tonalidades variadas e inesperadas.

Além de gravuras a artista continua produzindo relevos em concreto ou metal, dispostos em vários espaços públicos de São Paulo como na Igreja Mãe do Salvador, no Palácio dos Bandeirantes e na estação de metrô Jardim São Paulo. Nesses murais, Maria Bonomi parte da experiência como gravadora, explorando o grafismo resultante dos sulcos da gravura em madeira. As texturas e a gestualidade, são transferidas para o concreto ou metal. Problematizando o mito da peça única, a artista também desenvolve projetos na área de vestuário (camisetas, gravatas, echarpes).

Maria Bonomi é presença importante no cenário da gravura brasileira. Nas palavras de Lívio Abramo: "Vitalidade, veemência, paixão, ousadia formal são as características da obra gráfica desta artista que soube transmitir às suas gravuras a paixão de seus sentimentos e a densa expressividade da síntese formal".1

Notas
1 Livio Abramo, texto do catálogo Maria Bonomi Xilograbados Litografia, Centro de Estudos Brasileiros (Asunción, Paraguay), citado em BONOMI, Maria. Xilografias de Maria Bonomi. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994.

Atualizado em 05/08/2011

Obras:

Bonomi, Maria (1935)



Rócio, 1980

All about me, 1980

Pedra Vegetal, 1983

Homenage à R.K.V., 1988

Pente Tempo ..., 1993

O Inventor, dia e mês desconhecidos 2000

O Acrobata, dia e mês desconhecidos 2000

O Louco, dia e mês desconhecidos 2000

 Depoimentos
"Um dia eu entrei numa exposição do Lívio Abramo... Foi um acontecimento revelatório, mágico... Entrei numa exposição dele e fiquei extremamente impressionada com aquilo. Foi uma revelação desta luz, desta intimidade, destes pequenos planos... Eram pequenas superfícies que tinham uma importância enorme... É como se você estivesse entrando em paisagens infinitas... Aquilo era simultaneamente enorme e pequenino, era algo de transformação, de magia... Eu enlouqueci e fui procurá-lo, pedir para trabalhar com ele. Ele disse que não estava dando aula, que não dava aula e... , enfim, comecei a insistir... Afinal ele disse para que eu uma vez por semana aparecesse na casa dele e passei a frequentá-la muito. (...) Aos poucos fui começando estas formas, a fazer grandes pranchas com vegetais, com flores... Isso em torno de 1956, quando então ele me convidou para uma exposição. (...)


Neste ponto as coisas começaram a correr, eu começando já a me virar um pouco sozinha, indo parar com uma bolsa em Nova York, no Pratt Institute, onde fui trabalhar com um chinês, Seong Moy, e na Columbia University, em um curso de gravura do professor Hans Müller (...) Esse chinês foi que me levou a cor, a mexer com as possibilidades de impressão, dos papéis, dando-lhes um outro valor... A minha imagem começou a ficar maior e eu consegui trabalhar com isso enquanto linguagem pura... Mas ainda era um ensinamento, a instrumentação, do Lívio (...).

Quando eu voltei para o Brasil em 1960, o Lívio estava montando o Estúdio Gravura e já me chamou para trabalhar como sua assistente. Isso seis anos depois de eu ter ido procurá-lo... Em 1964 ele foi embora (...).

Se você considerar que o sulco pode ir para qualquer suporte... , o papel também não é o fim. A estampa diz apenas uma parte da emoção da gravura, que é a matriz (...) A mesma matriz pode ser estampada, pode ser passada para o poliéster, pode ser passada para o concreto... Ela pode ser passada para qualquer suporte que reproduza a emoção... Porque não é somente o branco, é o sulco. (...)

A escultura havia saído do pedestal, a pintura havia saído do cavalete... Mas a gravura tinha de estar na mesa!... Foi uma briga grande minha. (...) E tem o problema que é você conseguir manter o rigor, o espírito de gravura, no talho, no corte, na emoção... , porque senão você começa apenas a fazer gigantismo... Essa foi a grande preocupação minha: conseguir criar para a parede. (...) Da parede eu fui para os painéis de concreto em função do sentido social da distribuição. Porque se eu consigo ter uma parede de concreto na Avenida Paulista, ou em outro lugar qualquer, num espaço coletivo... , eu consigo sensibilizar muito mais gente para o sulco do que se eu estivesse simplesmente fazendo uma gravurinha..."

Maria Bonomi a Renato P. Dória 1995/1996

DÓRIA. Renato P. A xilogravura em Maria Bonomi e Renina Katz. Revista de História da Arte e Arqueologia. Unicamp,Campinas, n. 2, p. 306-307, 309, 1995.

As várias faces de Maria Bonomi

29 de setembro, 2009

A artista plástica Maria Bonomi ao longo de sua vida já atuou como figurinista, cenógrafa e publicitária. Já fez xícaras, azulejos e até hoje faz bolsas, echarpes e gravatas. Mas, em suas palavras, esteve sempre fazendo a mesma coisa: arte. Hoje ela se dedica a um trabalho que procura se aproximar do público.

Maria percebeu que poderia fazer um trabalho semelhante ao que fez nos painéis de arte pública em grandes fachadas, na década de 1970, nas residências. Ela faz parcerias com arquitetos para introduzir a arte no projeto das casas. Maria ressalta que este tipo de obra não é como um quadro, é algo que se integra na construção. “As pessoas não sabem, mas às vezes isso custa menos que um quadro”, destaca. A artista também faz estes painéis para empresas e empresários.








 Fontes:
cultura  
cultura·10.546 vídeos- ItaúCultural
 http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=3582
Vídeos_Publicados em 28/09/2011- TV Cultura
Licença padrão do YouTube
http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/artes-plasticas/as-varias-faces-de-maria-bonomi/ 

terça-feira, 28 de maio de 2013

UM LUGAR PARA FUGIR ANTES DE MORRER - COLUNAS - Adriane Pasa




COLUNAS
Quarta-feira, 15/5/2013 Um Lugar para Fugir Antes de Morrer

Adriane Pasa



Fugir é um verbo irregular que significa afastar-se, retirar-se, escapar a algo ou a alguém. Para a psicologia, é um mecanismo de defesa. Para a música, segundo a Wikipédia, fuga é um estilo de composição contrapontista, polifônica e imitativa, de um tema principal, com sua origem na música barroca. Em desenho de perspectiva, ponto de fuga é um objeto do plano de visão, que representa a interseção aparente de duas ou mais retas paralelas, segundo um observador fixo e situa-se na linha do horizonte. Para a psiquiatria, está relacionada a uma série de patologias. Para a maioria das pessoas é uma coisa errada, vergonhosa e que não deve ser feita, porque devemos ser corajosos, enfrentar os problemas e obstáculos e não fugir deles. Fugir de bandido, cachorro louco e furacões até vai, mas das coisas da vida, aí não pode.

É só a gente comentar algo como "vou embora deste lugar" e já vem alguém dizendo, com ares de profeta das montanhas "ah, você está fugindo" ou "não é assim que se resolvem os problemas, eles vão junto com você" e vários clichês desse tipo. Eu acho que todo mundo deveria fugir alguma vez na vida. De qualquer coisa. A fuga, além de necessária, muda o lugar das coisas, protege, desorganiza, mascara, tudo vira um caos, mas muitas vezes, se pensarmos bem em algumas situações, o melhor a se fazer é "nada". Eu desconfio de quem enfrenta tudo e sabe sempre o que fazer.

Há um tipo de fuga que não implica em deixar de pagar as contas ou esquecer entes queridos morrendo de fome. Às vezes é preciso fugir um pouquinho todos os dias de outra forma, procurando em nossa imaginação um lugar que é só nosso, onde podemos ser nós mesmos e desenhar um cenário que só a gente conheça, um produto do nosso desejo mais legítimo.

Todos deveriam experimentar esse lugar. Um lugar de deleite. Onde não há censura ou perigo, medo ou dúvida. Um lugar que, por ser imaginário e termos certeza disso, não há cobranças, só direitos. Uma vez nele, podemos transgredir um pouco. E depois, de volta à "vida real" onde os problemas e verdades ainda nos atormentam, a gente consegue seguir em frente. Ou não, como diria Gilberto Gil, autor daquela música famosa chamada "Vamos Fugir". Os céticos vão dizer "ah, mas isso não é real". Sim, é tão real quanto o pão com geléia que a gente come de manhã ou a dor de cabeça que nossos problemas nos trazem. Acredito que tudo que a gente pode sentir é real.

Esses lugares não precisam ser exatamente praias paradisíacas ou aqueles círculos de luz imaginários que gurus da autoajuda sugerem. E também não é preciso entrar numa escola de meditação transcendental e comprar uma passagem pra Índia. Lugares podem ser pessoas. Podem ser um tempo. Podem ser coisas, obras de arte, filmes, brincadeiras, jogos, músicas, orações, cheiros. Podem ser personagens, histórias, situações, mas precisam ter duas coisas básicas e vitais: a nossa essência e a nossa (verdadeira) vontade. Quem consegue encontrar este lugar, tão íntimo e único, pode ter uma das experiências mais fantásticas da vida. Porque por mais estranho que pareça, a fuga pode ser também uma busca. Quanto tempo a gente pode ficar neste "lugar"? Quantas vezes será que podemos visitá-lo? Acho que não há regras.

Ninguém deveria ser chamado de louco ou covarde por experimentar uma fuga a um lugar como esse. Porque é nele, só nele, que acontece o que realmente importa: a gente enxerga a si mesmo. E pra isso, é preciso ter muita coragem.
Sugiro estes quatro filmes, sobre pessoas "em fuga".

A Rosa Púrpura do Cairo (The Purple Rose of Cairo , 1985), de Woody Allen. Com Mia Farrow, que faz o papel de uma garçonete que sustenta o marido bêbado, desempregado, violento e grosseiro e que costuma fugir da realidade indo ao cinema e assistindo a várias sessões de seus filmes preferidos, até que, ao assistir pela quinta vez ao filme "A Rosa Púrpura do Cairo", ela tem uma grande surpresa.

O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno , 2006), de Guillermo del Toro. Esse é pra quem tem coração e estômago fortes. Na Espanha de 1944, oficialmente a Guerra Civil já terminou, mas um grupo de rebeldes ainda luta nas montanhas ao norte de Navarra. Ofelia, uma menina de 10 anos, muda-se para a região com sua mãe e seu novo padrasto, um oficial fascista que trata os guerrilheiros com requintes de crueldade. Solitária e com medo, a menina descobre um mundo de fantasias onde conversa com um Fauno e isso muda o rumo de sua história.

A Garota Ideal (Lars and the Real Girl , 2007), de Craig Gillespie. Com o talentoso (e lindo) Ryan Gosling, que faz o papel de um homem tímido e introvertido, que mora no mesmo terreno que seu irmão e cunhada. Um belo dia ele se apaixona por uma mulher pela internet e a insere em sua vida familiar e social. Só que esta mulher é uma boneca inflável. Uma lição de tolerância que não existe na vida real.

Paris, Texas (Paris, Texas , 1984), de Wim Wenders. Aclamado pela crítica e um dos filmes mais lindos que eu já vi, conta a história de Travis, um andarilho desaparecido há 4 anos, que é encontrado sem memória por seu irmão em um deserto ao sul dos EUA. Aos poucos ele vai recordando partes de sua vida. Com o irmão e cunhada vive também Alex, filho de Travis, que foi abandonado pela mãe. Travis e Alex vão construindo uma grande amizade e um desejo enorme de encontrar a mãe. Uma fuga seguida de uma busca. Na vida real, geralmente é assim. Agora fiquem com uma fuga de Mozart, 426 que é um lugar e tanto. ;-)


 
Mozart, Fugue in C Minor for two pianos, K. 426 (1783)
W.A.Mozart - Adágio and Fugue in C minor -K 546 - 6m

Nota do Editor

Texto gentilmente cedido pela autora. 
Originalmente publicado no blog Cinema Sem Blá Blá Blá.


http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=3759&titulo=Um_Lugar_para_Fugir_Antes_de_Morrer

sábado, 25 de maio de 2013

ADO MALAGOLI - A ARTE COMO RAZÃO DE VIVER


W.A.Mozart: Piano Concerto N0 12 in A major K414 pollini - 1988  
Boston Symphony Orchestra  Muarizio... 26m

Ado Malagoli – A ARTE COMO RAZÃO DE VIVER

Sem preconceitos e seguro do que almejava,
o artista optou pelo Sul, pelas imagens gaúchas,
 pelo ensino de jovens pintores e a criação de museus. 
Não fez concessões, mas, a si mesmo, concedeu o direito de ser feliz. 
De viver com arte.

RICARDO VIVEIROS (ABCA)

 
Pouco se conhece da sua origem simples e oriunda da imigração italiana para o Brasil. Ado Malagoli nasceu no dia 28 de abril de 1906, em Araraquara, São Paulo. Cidade que também deu ao Brasil e ao mundo outros nomes da cultura: o produtor de cinema Herbert Richers; o gravador Lívio Abramo; a antropóloga Ruth Cardoso; o escritor Ignacio de Loyola Brandão; e o diretor teatral José (Zé) Celso Martinez Corrêa.
 

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 Malagoli com a pintora Djanira em NY

A BUSCA DO MUNDO
Aos oito anos, órfão de pai e mãe, Malagoli deixou a sua “Morada do Sol” rumo a Capital do estado, onde foi viver com parentes. Como sempre soube o que desejava ser na vida, aos 16 anos diplomou-se em “Artes Decorativas” pela Escola Profissional Masculina, no bairro proletário do Brás. Hoje Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas, esse educandário desempenhou relevante papel na formação de vários artistas plásticos que se tornariam famosos.
Destinada à formação de mão-de-obra especializada para a indústria e o comércio, seus cursos de desenho receberam nomes como: Volpi, Bonadei, Zanini e Rebolo (com quem Malagoli pintou paineis). Era ensino profissionalizante, noturno, para pessoas de baixa renda. Em especial, imigrantes que chegavam para “fazer a América”, mesmo que ao sul do Equador… 

Nos anos seguintes, de 1922 a 1928, Malagoli seguiu o mesmo caminho que os demais formados pela EPM: o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Lá, sob a orientação dos professores italianos, Giuseppe Barchita e Enrico Vio (que o proibia de apagar erros, porque era vergonhoso), estudou e trabalhou ao lado de Rebolo, Volpi e Zanini, alguns dos quais integrariam, um pouco mais tarde, o emblemático Grupo Santa Helena.

Aos 22 anos, Malagoli vai para o Rio de Janeiro onde ingressa na respeitada Escola Nacional de Belas Artes. Cinco anos depois, ingressa no Núcleo Bernadelli, movimento em busca da liberdade de expressão. Aos 30 anos de idade forma-se pela ENBA. Sua pintura, desde sempre, foi comprometida com os temas do cotidiano; seus primeiros quadros trazem o rosto da gente sofrida e alegre das favelas cariocas, em irônica mescla sociológica. Em 1935, Malagoli recebe “Menção Honrosa” no Salão Nacional.
 
O MUNDO OFERECIDO
Mas, foi aos 36 anos, com a tela “Por quê?”, o primeiro momento marcante da sua carreira. Malagoli conquista o “Prêmio de Viagem ao Estrangeiro”, no mesmo disputado salão. Entre 1943 e 1946 o artista vive nos Estados Unidos (Los Angeles, Chicago e Nova York), estuda nas Universidades de Nova York e Columbia, interage com os brasileiros Edson Motta e Djanira. No último ano de sua permanência nos EUA, a Galeria Careen Gems, em NY, realiza uma exposição individual do pintor. Todas as obras são vendidas, e uma delas adquirida pelo político e mecenas Nelson Rockefeller. 

De volta ao Brasil, Malagoli expõe aqui, na Argentina e na França (“Salão de Outono”). Em 1948 casa-se com Ruth, amor de toda a vida. Participa da I Bienal de São Paulo, em 1951. Monta ateliê no Rio de Janeiro, e frequenta as rodas de artistas da cidade. Era um boêmio e aventureiro “saudável”, como definia sua mulher. Tanto que se meteu na construção de uma estrada de rodagem em região inóspita. Com as mãos arrebentadas pela picareta, desistiu e voltou para casa. Mas, claro, com muitas e ricas imagens na memória…

Em 1952, com uma carreira promissora, Malagoli opta por viver em Porto Alegre. Sua atitude surpreende colegas e críticos, mas, seu coração e sua mente estavam seguros da escolha. Aceita convite oficial do governo do estado do Rio Grande do Sul e assume a cadeira de Pintura da Escola de Belas Artes. Em 1957, no cargo de diretor da Divisão de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura do estado, cria o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS).
 
O MUNDO ESCOLHIDO
Fruto de incontestável vocação, aluno de grandes mestres, possuidor de técnica apurada, capaz de olhar o mundo além do aparente, com absoluto domínio das matérias primas e do instrumental da pintura, compromisso com a inovação permanente, Malagoli realizou uma verdadeira revolução no ensino das artes plásticas. Soube, respeitando o estilo acadêmico em seus fundamentos, instigar seus alunos para o moderno. A rigor, antecipava o futuro.

Com uma visão além de seu tempo, despertou a crítica negativa de colegas, pais e, até mesmo, de alunos mais ortodoxos. Muitas vezes, ouviu que em suas aulas se “desaprendia pintura”. Foi o primeiro a introduzir debates entre os alunos, com cada um criticando o trabalho do outro e, assim, juntos crescendo na pintura e na vida. “Eu não posso ficar corrigindo quadrinhos”, dizia. E ensinava a criar sem limites, pesquisar e descobrir, transcender como cabe na verdadeira arte. 

Nos anos 1960, Malagoli pintou os primeiros “casarios”, expôs e recebeu prêmios no Brasil, voltou a viajar para a Europa. Mais tarde, em meados de 1980, aposentado das funções públicas, retoma pinturas com temas religiosos, sob certo lirismo, e experimenta algumas abstrações. Sua obra demonstra uma perfeita integração entre técnica e emoção, os temas são tratados com ampla visão da vida e trazem toques que vão do romantismo ao realismo, mas, sempre, com profundo respeito e amor. Há em suas telas a nítida determinação em mostrar que viver é difícil, mas, vale a pena.

Ado Malagoli morreu em 4 de março de 1994, em Porto Alegre (RS). Dois anos antes, o museu que fundou passou a ter seu nome: “MARGS – Ado Malagoli”. Diz o respeitado crítico de arte e escritor, Jacob Klintowitz: “Eu o conheci bem e era impossível não gostar dele. Homem moderado, delicado, afável. Sua pintura tinha uma pátina de amor invisível”.
 
 Obras de Ado Malagoli

 
 O gato preto, 1954 -acervo do MARGS

 



 Fontes:
http://abca.art.br/?p=131
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Ricardo Viveiros (ABCA), para a Revista Abigraf, em 28/10/2011.
Obras:http://cultura.culturamix.com/arte/ado-malagoli